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Música

Nossas Lembranças do Planeta Terra

No primeiro ano desde 2007 sem o querido festival indie, resgatamos memórias de shows, curtições e perrengues.

Depois de uma belíssima Copa do Mundo e disputadas eleições presidenciais, o Brasil não seria o mesmo. O primeiro sinal disso foi que, na tarde da terça-feira (28), tivemos a notícia que a edição 2014 do festival Planeta Terra havia sido cancelada “devido aos dois momentos agitados do mercado, Copa do Mundo e Eleições, o que tornou incompatível com as agendas das bandas”. Sendo este o primeiro ano desde 2007 que passamos sem o Terra, ficamos nostálgicos pensando nas alegrias que vivemos neste clássico festival indie (e nas infinitas e sofridas horas tentando pegar um táxi pra voltar pra casa). A redação da Vice conta suas melhores – ou maiores – lembranças do Planeta Terra. Spoiler: banheiros químicos cheirosinhos são legais, Hot Pockets caros não são.

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Simone Bertuzzi, redatora de mídias sociais

Temos provas.

Eduardo Ribeiro, repórter punk

A edição do Planeta Terra que eu mais curti foi a de 2008, nem tanto pelo line-up, mas porque por alguma razão foi um evento com um clima muito bom. Foi daora, também, porque nesse dia não gastei um centavo com breja, já que minha credencial dava acesso à área vip e lá rolava um open bar style. O problema é que quando meus amigos descobriram essa boiada eu tive que ficar na missão de traficar cerveja pra todo mundo do lado de fora, fazendo vários esquemas pros seguranças não se ligarem. Em todo caso, não me senti mal por isso, já que o preço das bebidas nessas ocasiões é mais criminoso do que aquilo que eu estava fazendo. No palco principal, da metade da pista para trás o som não era muito audível, daí que as super caixas de som a que só os vips têm acesso nesse tipo de evento me fizeram pensar no quanto a maioria daquelas pessoas de camisa polo com listras horizontais se pá nem curtiam rock direito e podiam escutar os shows com uma qualidade que o verdadeiro público, os pagantes do festival, é que merecia. No show do Offspring eu voltei à adolescência, dei stage diving, poguei, tomei banho de cerveja, tretei com um amigo crítico de música que ficava falando merda da banda e mandando ferpa na minha vibe – e que depois reproduziu todo aquele espírito de porco em sua matéria – , e pude relembrar daquelas músicas que a gente escutava nos anos 1990 nas sessions de skate no metrô Conceição. Foi legal ter visto também o Breeders, que se mostrou uma banda bastante empática com o público, e o Animal Collective, embora ao vivo o som desses últimos seja meio embolado.

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Felipe Maia, repórter do Motherboard

- Ficar 3h na fila pra comer Hot Pocket (só pra bancar o mala comentarista de portal). A propósito, o Hot Pocket era caro demais.

- Assistir ao Girl Talk tocando um set bem questionável que ficou mais na memória por causa da zona com armas que atiram papel higiênico com papel picado que propriamente pela música (anteviu o EDM farofa tipo Steve Aoki).

- O show do Phoenix que foi mediano quase no total, mas valeu porque eles estavam no auge e no fim rolou um stagediving com 100m de comprimento do vocalista (esqueci o nome).

- Uma mina putaça no show do Passion Pit gritando que o cara estava fazendo playback -- "olha ali, ele nem tá cantando!" --, mas o mano estava cantando em falsete com um talk box.

- Algo me diz que o show do Hot Chip foi bom, mas infelizmente não lembro de nenhum momento relevante.

- O projeto paralelo OS NOVOS PAULISTAS. Por onde anda? O que comem? Onde vivem? Estariam na linha verde do metrô?

Taís Toti, editora do Noisey

Tenho três grandes lembranças do Terra. A primeira é da vez que vim pra São Paulo querendo ver o Animal Collective. Estava atrasada (pela primeira vez na vida, não era culpa minha). Entrei correndo pra ver se pegava ao menos o final do show, e na hora que entrei no galpão o show tinha acabado de acabar. Triste e puta, fui pro show do Jesus and Mary Chain. Que foi uma bosta, mas quase ninguém tinha coragem de falar isso na época. A segunda é de ter encontrado a galera do Spoon um dia antes, na porta do Milo Garage. A gente não reconheceu eles, mas pela cara de gringos, sabíamos que eram de alguma banda do Terra. Meu colega foi lá perguntar se eles eram o Kaiser Chiefs, e eles responderam “nós somos o Spoon, do Texas”. Esse, inclusive, foi um show que me surpreendi, achei muito bom. A Mallu Magalhães tava lá na plateia, mas quando eu a cutuquei uns seguranças à paisana vieram me afastar (aff). E, por fim, lembro de ficar com meus amigos tentando chegar mais perto do palco a tempo do show do Pavement. E quando estávamos perto, uns caras chatos fãs de Smashing Pumpkins ficavam atrapalhando nosso posicionamento estratégico, aí a gente ficou zoando eles (isso parece bem adolescente agora que escrevo, mas foi divertido). As coisas ruins, tipo ter visto o Smashing Pumpkins contra a minha vontade e sofrer sempre pra voltar pra casa, eu vou deixar pra lá.

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Bem acompanhada de Priscila ex-BBB e de Jesus Cristo ali atrás.

Andréa Azambuja, gerente editorial

Acabaram de anunciar que o Planeta Terra não vai mais rolar e pra mim ele já é saudoso. Só fui a duas edições – e provavelmente nunca vou esquecer que perdi Iggy & Stooges e Sonic Youth, com ingresso e passagens pra São Paulo compradas, por causa de um Enade cagado em Porto Alegre, mas as duas foram memoráveis. Em 2010, pirei quando o Pavement tocou “Shady Lane”, pulei alto com o Of Montreal esperando até o fim que eles cantassem algum som do Aldhils Arboretum (não rolou, mas foi foda igual), dancei com bracinhos pra cima no show do Phoenix, fiquei bêbada, passei mal depois de andar nuns brinquedos e depois andei de novo, e continuei bebendo… Pura diversão, mas ano passado foi melhor. Melhor porque teve Blur e, principalmente, porque teve Travis, provavelmente a banda que eu mais curti na adolescência. Ouvi o The Man Who no repeat, quase tatuei algumas letras, usava frases no meu MSN [risos]. E o show, o único no Brasil até hoje, foi lindo. Era aquele sol de meio da tarde, a cerveja tava gelada, eu tava com minhas amigas desde o colégio, que me acompanharam quando eu ouvi Travis pela primeira vez, e tinha muita gente realmente emocionada. Assisti ao show inteiro com dois caras do meu lado, sozinhos, que também eram fãs de longa data. A gente cantou juntos, se olhou muitas vezes muito felizes, eu me arrependi por ter abandonado a banda nos dois últimos discos e desacreditamos, os três, quando bem no fim eles tocaram “Happy”, do Good Feeling, que até hoje eu acho uma pérola, certamente acometida por uma boa dose de nostalgia. Piegas, mas azar, foi mágico. Pensei muitas vezes em abraçar e beijar aqueles dois durante o show, mas não fiz isso.

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Débora Lopes, repórter da Vice

Só fui no Planeta Terra de 2012 porque ganhei ingresso. Não sabia bem o que estava fazendo ali porque não gostava muito de nenhuma das atrações. Cheguei tarde e logo vi uma amiga tretando com uma mina. Era a namorada dela que, sem querer, deixou o LSD cair na fétida privada do banheiro químico. Enquanto elas trocavam ofensas, fui conferir o show da Azealia Banks. Foi massa. Lembro de ver uma mulher enorme com uma peruca igualmente enorme e um shortinho fortemente atolado na bunda. De repente, deu um pau no microfone ou sei lá o quê e a amapô saiu vazada do palco sem dar explicação. Ficou todo mundo com cara de cu, segurando os copos de plástico cheios de breja. Vi bem de longe o show do Suede e só conseguia pensar "quando eu for velha, vou encarar minha velhice". Sério que esses caras tão fazendo rock chato assim há tantos anos? Nem conhecia The Drums e era moderno demais pra mim, mas aí eu já estava bêbada e dancei loucamente. Quando o Gossip entrou, ficou pequeno prazinimiga. O show foi lindo. A Beth Ditto é um furacão, amigos.

Amanda Mont’alvão, editora do Skol Beats

Lembro dos banheiros maravilhosamente cheirosos (é sério!) no Terra 2008. Deitaram eucalipto no chão e o cheiro ficou uma belezinha, dava gosto (???) de ver.

Animal Collective emendando “Fireworks”/”Essplode” e eu chorando lá na frente, enquanto ouvia uma galera falando que era uma bosta. O som tava ruim pra caramba, mas fui feliz.

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O Pavement abrindo com “Gold Soundz” e mandando “Grounded” na sequência. Ele mandou “Cut Your Hair” depois de “Summer Babe” também, saudades. Tinha também o Spiral Stairs animando a galera que nem o Bez do Happy Mondays (ele num devia estar ~tão animado assim, mas ficou assim na memória).

Também foi daora o Malkmus provocar o Billy Corgan na hora de “Range Life”.

O carinha do Phoenix (esqueci o nome do vocal) [nota da editora: Thomas Mars] deu um mosh na galera e caiu em cima da mão de uma colega do Agora São Paulo. É claro que ela quebrou os dedos.

Eduardo Roberto, editor do Thump

- Salas de imprensa que, no começo, tinham cervejas uma ótima quantidade de cerveja inclusive. Acho que por isso todo mundo falava bem do festival.

- Gang Gang Dance ARREPIOU pra 10 pessoas incluindo o Mateus Potumati e o Dago MALUUUUCOS curtindo o baguio.

- Aquele monte de banda cover do Strokes que só tinha público nos Planetas Terras mesmo.

- Show horroroso do Smashing Pumpkins que eu desisti de ver e fui pra roda gigante três vezes seguidas (foi bem mais legal).

- Ter perdido o show do Animal Collective pra ver a BOSTA DO SHOW DO JESUS & THE MARY CHAINS.

- Depois disso eu bebaço trombando a Marisa Orth na FILA DO BANHEIRO e perguntar "Marisa, que massa você no festival indie. qual banda você veio ver?". "Ah eu vim ver o Spoon adoro tenho todos os discos". "Loco hein, dahora, valeu beijos".

- Aqueles banheiros químicos com ERVAS AROMÁTICAS eram alto astral também.

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- Pavement.

- Assistir ao show do Bombay Bicycle Club (uma bosta, Strokes) ao lado da Alessandra Negrini (sério mesmo, ela tava com o Ivan Marsiglia naquela hora aí eu cumprimentei ele e fiquei ali NA ABA).

- Esperar o táxi 3h sentado na beira da Marginal (Pinheiros e Tietê).

- As minazinha roqueira (era show).

Acho que é isso. O resto esqueci, tipo show do Groove Armada, que eu tava bebaço.

Marie Declerq, repórter da Vice

Tirando a falta de memória por causa das (muitas) cervejas superfaturadas que tomei no evento de 2009, o Planeta Terra foi um dia foda.

No dia, fiz um olho preto – "smokey eye" na língua das blogueiras – que derreteu em apenas cinco minutos por causa da chuva torrencial no show do Sonic Youth. Lágrimas pretas se formaram no meu rosto, me lembrando que sou roqueira porque a solidão me fez assim, combinando bastante com o clima de divórcio que seguiu até os últimos shows da banda. Fiquei tão emocionada com o show que nem me importei com as dezenas de pessoas que paravam para perguntar se eu precisava de ajuda.

Outra memória marcante foi ter levado um banho de cerveja fenomenal no Iggy Pop, que seguiu sua tradição de chamar uma galera pra causar no palco. Acho que deu ruim, porque depois me falaram que os seguranças desceram a chulapa em quem tava descendo do palco. Mesmo assim, a memória de cantar "I Wanna Be Your Dog" bebassa, fazendo os amigos passarem vergonha, foi ótima.

A minha última memória foi ter topado andar em uma das montanhas-russas capengas do finando Playcenter depois de ter consumido um Hot Pocket semi-gelado e um sorvete duvidoso que estavam distribuindo na área vip.

Voltei pra casa borrada, bêbada e cheirando mal, porém feliz.

Lucas Panoni, repórter do Noisey

S@udades do que nunca vivi.