O Bilionário Russo Dmitry Itskov Planeja Se Tornar Imortal até 2045

Itskov modelado como um avatar na Conferência da Iniciativa 2045 realizada na Rússia, em 2012. Foto via Facebook.

Dmitry Itskov quer viver para sempre. O bilionário e magnata da mídia russo de 32 anos acha que pode fazer isso construindo para si (e para todo mundo que quiser) um corpo androide até o ano 2045.

Há algumas falhas no pensamento de Itskov, mas isso não impediu que mais de 20 mil pessoas apoiassem publicamente o site que descreve o plano de usar corpos androides para atingir a imortalidade. Batizada de Iniciativa 2045, Itskov está vendendo sua ideia como o “próximo passo” da evolução humana ou, como ele diz, “neo-humanidade”.

E isso não para nos corpos androides. Os colegas da 2045 também visam criar uma nova religião e uma nova ética, por acreditarem que nenhuma das atuais consiga lidar com as implicações sociais de se viver pra sempre – na maioria delas você precisa morrer primeiro para depois atingir a imortalidade.

Itskov foi ainda mais longe e registrou seu próprio partido político na Rússia, chamado de “Evolução 2045”.

Mas vamos voltar um pouquinho. Como exatamente Itskov planeja se tornar imortal?

“O principal megaprojeto científico da Iniciativa 2045 visa criar tecnologias que permitam a transferência da personalidade de um indivíduo para um portador não-biológico mais avançado, estendendo assim a vida, inclusive até o ponto da imortalidade”, diz o site dele.

Itskov chama seu corpo artificial “portador não-biológico avançado” de “avatar”, que é controlado por uma “interface cérebro”. Isso funcionaria mais ou menos como os corpos falsos do filme de 2009 dirigido por James Cameron. Será que Itskov tirou essa ideia do filme? A foto abaixo, que achei na página pública dele do Facebook, sugere que sim, provavelmente.

Mas isso não é só um esquema maluco inspirado num filme. Itskov realmente pensou direito na coisa toda e tem um elenco impressionante de especialistas a bordo. Ele até se encontrou com o Dalai Lama e conseguiu a bênção dele para a Iniciativa 2045.

“Estamos encarando um período onde a evolução inconsciente quase terminou e chegamos a uma nova era, um novo período de evolução controlada”, disse Itskov numa entrevista em vídeo.

O futuro dele, esse “novo período de evolução controlada”, vai ser mais ou menos assim:

Em 2020, a Iniciativa 2045 pretende fazer sua tecnologia de avatar amplamente acessível para todos – não importa que isso seja dentro de apenas sete anos e que um protótipo funcional ainda não exista.

Para 2025, Itskov espera um “sistema de suporte de vida autônomo para o cérebro humano ligado a um robô”. Em outras palavras, eles terão a tecnologia para implantar o cérebro humano num robô. Em 2035, um humano deverá ser capaz de fazer o upload do seu cérebro num robô e, em 2045, nossos corpos serão substituídos por hologramas. Quando isso acontecer, Itskov diz que nos tornaremos “uma nova espécie”.

A linha do tempo da imortalidade, via 2045.com.

Além de criar a tecnologia para esse tipo de evolução, a Iniciativa 2045 tem uma variedade de projetos futuros “chave”, além de tentar começar um “movimento social internacional”. Juntamente com uma rede social chamada immortal.me, Itskov lista os projetos que quer começar: um fundo de caridade chamado Futuro Global 2045, o “centro de pesquisas científicas para 'Imortalidade'”, “uma incubadora de empresas” sem muita elaboração a respeito, uma “Universidade da 'Imortalidade'” e um “prêmio anual por contribuição na realização do projeto 'Imortalidade'”.

Para ajudar a realizar esses objetivos existe o Congresso Global do Futuro, que realizou sua primeira reunião em Moscou ano passado. O congresso vai se reunir novamente em Nova York em junho, onde promete revelar o robô mais humano que o mundo já viu.

Entre todos os textos de Itskov, bem como entre todos os cientistas, filósofos e líderes espirituais que falarão na conferência deste ano, claramente ficaram de fora especialistas em segurança cibernética e filósofos da internet, que adoram pontuar os feitos de se conectar o cérebro à internet.

Esse é o maior problema que encontrei no modelo atual de Itskov: ele ignorou completamente nossa obsessão pela internet. Se pudéssemos implantar a internet no nosso cérebro e baixar habilidades no estilo Matrix, com certeza faríamos isso. Para o bem e para o mal, essa área não pode ser ignorada. (Por exemplo, Itskov provavelmente teria mais apoio se entrasse em contato com o Google e tentasse incorporar o Google Glass em seus avatares.)

Outra curiosa omissão está nos grupos com que Itskov está trabalhando atualmente: ele está focado em transumanistas e filósofos, mas até agora parece não ter contatado o mundo hacker. Há muita gente por aí interessada em hackear mentes, e a Iniciativa 2045 parece uma das primeiras grandes tentativas nesse reino.

O principal antagonista do anime revolucionário Ghost in the Shell é um hacker conhecido como The Puppet Master, que entra no “cibercérebro” das pessoas, apaga suas memórias e depois usa seus corpos para seus próprios propósitos, como cometer crimes. Itskov já mostrou que tem o hábito de se inspirar em filmes, então eu diria que ele precisa muito assistir Ghost in the Shell. É um importante conto de advertência, porque mesmo se Itskov conseguir construir o futuro de seus sonhos, sua imortalidade não vale nada se ele acabar perdendo sua identidade.

Mesmo com alguns objetivos bizarros e desnecessários da Iniciativa de Itskov, seu Congresso Global conseguiu atrair alguns dos cérebros mais importantes das pesquisas sobre imortalidade, robótica e cibernética, incluindo o diretor de engenharia do Google, Ray Kurzweil, e o diretor do Laboratório de Inteligência Robótica, Dr. Hiroshi Ishiguro. Tipos mais espiritualistas, como o Arcebispo de Ottawa e Lazar Puhalo, também participarão das palestras.

Não me entenda mal, existem implicações práticas para o tipo de tecnologia que Itskov pretende criar. Além de propósitos médicos para a criação de corpos substitutos, esse tipo de tecnologia avatar poderia permitir que as pessoas “trabalhassem em ambientes perigosos” ou “realizassem operações de salvamento”, escreveu Itskov em seu site. Além disso, as possibilidades de um corpo drone são relativamente infinitas, assumindo que um dia isso saia mesmo do papel.