​O Documentário Punk 'Decline of Western Civilization' Vai Receber o Relançamento que Merece

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​O Documentário Punk 'Decline of Western Civilization' Vai Receber o Relançamento que Merece

Trinta e cinco anos depois, um dos melhores documentos visuais da cena punk norte-americana está de volta.

Há tempos os norte-americanos ficam apavorados, nauseados e confusos com os punks adolescentes e a música que eles ouvem. O cinema e a TV vêm explorando essa dinâmica há décadas, geralmente com resultados absurdos. Em nenhum momento isso ficou mais evidente que nos anos 80. Seja no infame episódio "Next Stop: Nowhere" do drama de investigação médica Quincy, M.E., baseado nos tropos sensacionalistas do punk rock (drogados niilistas que só precisam de um empurrão para sair matando gente); ou no segundo filme Loucademia de Polícia, que mostra uma gangue de punks e metaleiros violentos comandada por Zed McGlunk, interpretado por Bobcar Goldthwait, pessoas de moicano e piercings estranhos que gostam de música alta e rápida, como criminosos agressivos ou garotos desviados, desesperados por atenção.

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"Houve uma mudança no comportamento humano geral, o que os adolescentes estavam fazendo", me disse a diretora Penelope Spheeris por telefone, sobre seu icônico documentário The Decline of Western Civilization, que mostra uma visão muito mais detalhada desses garotos barulhentos. Trinta e cinco anos depois de seu lançamento inicial, o filme de Spheeris está finalmente recebendo o relançamento que merecia, assim como os dois outros documentários fantásticos da série (todos intitulados TDOWC). Apresentando entrevistas e shows com algumas das bandas punks mais icônicas de LA nos anos 80, incluindo Fear, Black Flag (com seu segundo vocalista, Ron Reyes), X e Germs. Spheeris conseguiu capturar as bandas da cena em toda sua glória suja sem cair no sensacionalismo. Esse é um dos melhores documentos visuais da cena punk norte-americana que assustou grande parte dos EUA.

A diretora Penelope Spheeris e Eyeball.

O filme foi um propulsor para que ela explorasse as culturas do punk e do metal norte-americanos como nenhum diretor tinha feito antes. O segundo Decline apresenta a florescente cena do metal no meio dos anos 80 e, no terceiro filme, a diretora está menos interessada nas bandas e mais nos garotos sem futuro que gravitavam para o punk rock no final dos anos 90. Ela teve a ideia enquanto dirigia por Melrose e viu um grupo de adolescentes andando em formação, do mesmo jeito que o grupo de punks em seu primeiro filme de estúdio, Suburbia, de 1984. "Eu quis conhecê-los", ela me disse. "Eu queria entender de onde eles estavam vindo."

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Suburbia – que na minha opinião é um dos melhores filmes de rebelião adolescente junto com Warriors e A um Passo do Abismo – e o primeiro Decline são os filmes mais fortes dela. Isso porque são essencialmente irmãos, criados da necessidade, já que Spheeris diz que não conseguia um distribuidor decente para Decline, mas também porque ela encontrou algo com que se identificava. "Escrevi Suburbia porque isso era uma narrativa sobre o mesmo tema com o qual eu estava tão envolvida."

Mas quando você considera a filmografia dela desses dois filmes em diante, um padrão emerge. De Suburbia ela passou para o filme Jovens Assassinos, com o adolescente Charlie Sheen, depois para Caminhos da Violência, possivelmente o melhor, se não único, western de vingança punk já feito, estrelando Jon Cryer um ano depois de seu famoso papel como Duckie em A Garota de Rosa-Shocking. Nenhum foi sucesso comercial, mas nesse pequeno espaço de tempo, Spheeris fez uma série de filmes onde os rejeitados pela sociedade eram os personagens principais. Esses personagens não eram colocados sob um microscópio, mas mostrados em seu habitat natural, podendo fazer e dizer o que quisessem, como flutuar numa piscina espirrando vodca na mãe, como Chris Holmes do W.A.S.P. faz em Decline Part II: The Metal Years. Seus filmes eram sucessos underground, e aí, em 1992, ela virou a mesa e dirigiu a adaptação para o cinema de Quanto Mais Idiota Melhor. Seu primeiro grande sucesso comercial foi uma benção e uma maldição.

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"Não consegui fazer mais nenhum filme que tivesse alguma substância", diz a diretora sobre sua carreira pós-QMIM. O filme baseado num esquete do Saturday Night Live foi sua maior bilheteria de longe, fazendo US$ 121,6 milhões nos cinemas.

Mas podemos dizer que QMIM se encaixa perfeitamente na obra dela, porque o que são Wayne e Garth, se não uma dupla de metaleiros idiotas curtindo em seu porão no subúrbio de Chicago? Eles são exatamente o tipo de pessoa que idolatra as bandas que Spheeris mostra no segundo Decline.

Still de Faster Pussycat de 'The Decline of Western Civilization Part II'.

Se você juntar todos esses filmes, fica claro que Spheeris tem poucos contemporâneos quando se trata de contar histórias da juventude fodida e incompreendida. Quando mencionei que seus filmes servem como o outro lado da moeda de versões mais ingênuas da vida adolescente nos anos 80, como a dos diretores John Hughes e Amy Heckerling, Spheeris disse que gosta dos dois diretores, e que filmes como Picardias Estudantis e Gatinhas e Gatões provavelmente estavam mais próximos das experiências adolescentes de Hughes e Heckerling.

"Eu queria ter tido uma situação de vida mais equilibrada, mas não tive", ela explicou. "Tive uma vida muito tumultuada." Spheeris admite que sua criação foi "caótica e violenta", como a vida de muitos de seus personagens, tanto os reais dos filmes Decline como de seus outros trabalhos ficcionais. Talvez por isso Spheeris é para os filmes de jovens perdidos o que Hughes é para os filmes sobre o mal dos adolescentes suburbanos. Ainda assim, Spheeris dificilmente é considerada um dos diretores definitivos de sua época.

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No Noisey: Parte I: A história oral da lendária série de documentários de rock 'The Decline of Western Civilization'

Ser adolescente é difícil para todo mundo. São muitas emoções complexas para lidar. A vida adulta é iminente e é quase impossível se preparar. Jogue nisso uma boa medida de drogas e sexo, e aqueles que conseguiram sobreviver podem se considerar sortudos. Hughes entendia isso, e a razão para seus filmes terem se tornado um padrão para o cinema adolescente é porque ele deu aos seus personagens nuances consideráveis. Entendemos porque a Sam, Molly Ringwald, corre do ginásio e chora por Jake Ryan no baile da escola em Gatinhas e Gatões. Entendemos por que John Bender é do jeito que é em O Clube dos Cinco. Ele não é simplesmente um rebelde sem causa – sua vida em casa é terrível, cheia de abuso e negligência, e ele é um produto disso. Ele é um dos personagens mais inesquecíveis do roteirista e diretor que redefiniu o cinema adolescente, isso porque Hughes conhecia sua história e simpatizava com ele. Mas ele é uma minoria entre os Ferris Buellers e garotos ricos que geralmente são retratados na tela.

Por isso os filmes de Spheeris são tão valiosos: eles estão cheios de John Benders do mundo, tanto reais como fictícios. Como Darby Crash do Germs. Assistindo ao primeiro Decline, é difícil não pensar que ele está condenado. Alguns meses depois da estreia do filme, Crash sofreu uma overdose intencional de heroína aos 22 anos. E então temos os garotos da casa T.R. (Os Rejeitados) de Suburbia, onde cada punk tem sua própria história de horror. Eles não estão numa pitoresca rua sem saída ensolarada, mas morando numa casa abandonada numa parte esquecida de Los Angeles, onde é mais fácil ver um cachorro de rua destroçando um bebê, como no começo do filme, do que outros seres humanos.

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Still de Lizzy Borden de 'The Decline of Western Civilization: Part II'.

E é assim também com Caminhos da Violência, um dos filmes mais subestimados da década e que merece ser relançado também. A história vai de uma comédia na estrada de amigos punks para algo que lembra Easy Rider, depois que caipiras (comandados por Lee Ving do Fear, de Decline 1) matam um dos punks (interpretado por Flea do Red Hot Chili Peppers, que também está em Suburbia). O que se segue é um dos filmes de vingança mais bizarros dos anos 80. Spheeris se destacou fazendo filmes sobre páreas, o tipo de pessoa que outros cineastas se recusavam a levar a sério.

Spheeris é a diretora de filmes punk e metal dos anos 80 por excelência, mas como Hughes, a fase dos anos 90 de sua carreira concentrou adaptações family-friendly de A Família Buscapé e Os Batutinhas, além da comédia estrelando Chris Farley e David Spade Black Sheep.

"Me vendi de muitas maneiras… Vendi minha alma para o diabo com os outros filmes", disse Spheeris sobre seus grandes sucessos de Hollywood. Claro, você tem que fazer o que tem que fazer, e filmes com Keith Morris do Circle Jerks gritando num microfone não são exatamente um pote de ouro. Mas os filmes Decline, segundo ela, esses foram feitos com amor, especialmente o terceiro. Mas The Decline of Western Civilization Part III nunca ganhou um lançamento amplo, apesar das críticas positivas nos vários festivais dos quais participou. Mas agora, com a série Decline completa disponível pela primeira vez, e a diretora dizendo que está aberta para dar a Suburbia e Caminhos da Violência o mesmo tratamento, as grandes crônicas da juventude perdida, fazendo o que tinha que fazer para entrar num mundo fodido, vão ganhar um público totalmente novo.

The Decline of Western Civilization Collection será lançado no Reino Unido, em DVD e Blu-ray, em 31 de agosto pela Second Sight Films.

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Tradução: Marina Schnoor