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O Exército Romeno Está Desenvolvendo Um Colete à Prova de Balas para Mulheres

Visitamos a sede do Centro de Pesquisa Científica para conhecer a chefe do laboratório, Simona Badea, e descobrir exatamente qual é a dificuldade de se criar um colete à prova de balas feminino na Romênia.

Apesar de parecer que o número de mulheres no exército estáaumentando em todo o mundo, o fato é que os governos nem sempre conseguem protegê-las de forma bem-sucedida. Quando se fala em coletes à prova de balas, por exemplo, as mulheres têm de usá-los em tamanhos menores em relação à versão masculina que nunca servem direito e podem, inclusive, atrapalhá-las em ação.

A boa notícia é que o Centro de Pesquisa Científica em DQBRN e Ecologia do Exército romeno está tentando resolver isso. Depois de um bocado de esforço para convencê-los de que não queríamos tirar sarro do trabalho deles, visitei a sede do centro de pesquisa para conhecer a chefe do laboratório, Simona Badea, e descobrir exatamente qual é a dificuldade de se criar um colete à prova de balas feminino na Romênia.

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VICE: Parece que o Exército da Romênia está fazendo a sua parte na promoção da igualdade de gêneros.
Simona Badea:É verdade. Embora eu seja mulher e civil, trabalho no campo de proteção balística e sou PhD em Defesa contra Explosivos. Trabalho como pesquisadora há 23 anos.

Quais são as etapas para se criar um colete à prova de balas feminino?
No primeiro estágio, definimos quais eram os tamanhos mais comuns no Exército. As medidas foram tiradas através de um scanner 3D, trazido pelos nossos parceiros do Instituto Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento, em Couro. A Stimpex, única empresa que produz coletes à prova de balas na Romênia, cuida da fabricação.

Fizemos coletes para três dos cinco tamanhos. Testamos em 150 mulheres da Academia Técnica Militar e também faremos testes com mulheres do quartel-general do Exército. Muitas delas participam de operações militares em outros países.

Então, vocês não estão só fazendo um protótipo.
Não, o plano de negócios que integramos ao projeto sugere que os coletes devem estar prontos para produção. Os coletes são financiados pelo Programa Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação – não pelo Ministério da Defesa, como alegam os jornais.

Nós, como funcionárias do Exército, adotamos uma abordagem mais prática, porque queremos o produto terminado. Os pesquisadores normalmente querem escrever trabalhos sobre coisas desse tipo, mas nosso objetivo também é colher os frutos da pesquisa.

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Quando vocês começaram a fazer coletes à prova de bala?
Começamos a fazer coletes aqui em 1992, utilizando um modelo israelense. Quando os soldados iam às missões, exigia-se um nível maior de segurança nos teatros de operações. Usávamos coletes Kevlar de nível de proteção 3A, com base em um padrão do Departamento Norte-americano de Justiça, que protege apenas de munição de pistola. Então, tivemos de passar para o nível 4 de segurança, que inclui uma placa de cerâmica que protege contra munição de alta velocidade e fogo. Nossos soldados saíram com uns coletes bem pesados.

E, apesar de nunca pesarem mais de 15 quilos no total, surgiram algumas questões: o tecido era ruim e as placas eram retas e desconfortáveis. Ouvimos as observações que eles fizeram e continuamos o desenvolvimento dos coletes: mudamos o formato anatômico das placas e acrescentamos cintos de combate MOLLE, que poderiam ser trocados. Fizemos a última modificação em 2012, quando os soldados foram ao Afeganistão com os novos coletes.

Como vocês tiveram a ideia de desenvolver coletes à prova de balas femininos?
Em todo o mundo, os coletes são feitos para os homens, apesar de todas as modificações feitas ao longo do tempo.Os norte-americanos têm programas de desenvolvimento de coletes femininos, mas é apenas um protótipo, embora as mulheres correspondam a 14% do efetivo de soldados deles. Eles afirmam que as mulheres devem simplesmente usar coletes de tamanhos menores, mas não é assim que funciona – os tipos de corpos são diferentes. Consultamos as mulheres que estavam em missões, porque as da Academia que vieram tirar as medidas só tiveram oportunidade de usá-los durante o treinamento. Os coletes são apertados no peito e soltos na cintura. Isso é desconfortável, e os gestos com os braços ficam inconvenientes.

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O colete pode ser preso por dentro e ajustado na cintura, mas ainda assim fica muito largo na barriga, como um cinto grande demais. Estamos tentando mudar a ergonomia do colete sem alterar o nível de proteção. E o colete novo não será mais caro, porque só o desenho é diferente, não o tecido.

Existem outros tecidos para colete à prova de balas além do Kevlar?
Sim. Os americanos estão trabalhando no sistema dragonskin, que vem com placas de titânio, mas, aparentemente, descobriram que as placas ficam desalinhadas por causa das mudanças de temperatura no campo de batalha. Existem outros tipos de polímeros e polietileno balístico, mas só podem ser usados combinados com o Kevlar, porque, em caso de incêndio, o polietileno queima mais rápido e o Kevlar se apaga sozinho. O Kevlar continua sendo a solução mais viável.

Quando os coletes vão ficar prontos?
Segundo o programa, temos de chegar aos resultados no ano que vem. É um projeto de dois anos que deve terminar em junho de 2016, quando testaremos o produto em um campo de tiro.

Como você acha que ele poderá se comparar aos coletes dos nossos aliados?
Em 2005, recebemos um vídeo do Afeganistão, no qual vários soldados testavam coletes à prova de balas com todo tipo de arma que tinham na mão, e, entre os coletes americano, polonês e romeno, ficou provado que o nosso é o melhor. Na época, os americanos estavam usando o colete Interceptor, que é bem leve, mas também muito curto. Depois da filmagem, eles criaram uma versão melhorada.

Atualmente, seguimos o método da regra da exclusão. Ou seja, se não precisa do colarinho, tira. E se quer aumentar a área de proteção, você protege os braços, as pernas e até a região da pélvis. O mais importante a se lembrar é que nenhum colete é indestrutível e nada vai te proteger de lança-foguetes e demais armamentos pesados.

Tradução: Aline Scátola