Feminine Hi-Fi é a primeira festa sound system feita por mulheres em SP
Foto: Melissa Sirks

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Música

Feminine Hi-Fi é a primeira festa sound system feita por mulheres em SP

Comandando os vinis, mandando rimas feministas aos microfones e desbancando a ideia de que a cultura dos sistemas de som no Brasil ainda é dominada pelos machos.

Para desbancar a ideia de que a cultura sound system (ainda) é extremamente masculina, nasceu neste mês o Feminine Hi-Fi, a primeira festa em formato de sistema de som organizada e produzida exclusivamente por mulheres na cidade de São Paulo. "Sempre sentimos uma certa resistência quando o assunto era mulher no reggae", explica uma das organizadoras, Dani Pimenta.

Ainda sem aparelhagem própria, as organizadoras usaram o formato dos sound system para abrir o leque de rolês encabeçados por mulheres. Em São Carlos (SP), as Sound Sisters já colocam em prática a ideia de muitas caixas de som empilhadas mandando um som fritante.

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A festa de rua, surgida no final da década de 40 em Kingston, Jamaica, como opção para quem queria curtir um som e não tinha grana para frequentar os clubes da época, ainda é novidade no Brasil. Estima-se que, por aqui, os sistemas de som existam há 15 anos. Tempo o suficiente para perceber que a presença atuante das mulheres ainda é algo incipiente.

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A primeira e única edição (até agora) do Femine Hi-Fi rolou no segundo domingo de mês (13), na Voith, uma espécie de estacionamento e área de lazer cercada por prédios do CDHU no Jaraguá, zona oeste de São Paulo. "A cultura de sound tem como premissa o tocar na rua, pro povo, mostrar as produções", afirma a cantora e também organizadora Laylah.

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"A Voith é uma quebrada daquelas bem típicas", ela pontua. "Pouca assistência e, em paralelo a isso, a polícia também não cola." Ou seja: sem burocracia e ninguém pra mandar baixar o som. Além do mais, o local foi o berço de muitos coletivos e projetos importantes da cena de reggae.

Foto: Melissa Sirks

No dia, as caixas de som, que foram emprestadas pelo Smoke'Dub Sound System, emitiram muita música jamaicana: reggae roots, rocksteady, ska, stepper, dancehall. Um sound system comum, não fosse o monte de mulher comandando os vinis e mandando rimas ao microfone – na maioria das vezes, feministas.

Para Laylah, a mulherada não demorou para apreciar os sound systems, mas, sim, para atuar. "A primeira movimentação foi nos toca-discos", ela conta. Agora, o alvo é, também, o microfone. A dimensão que o feminismo tomou nos últimos anos acabou encorajando meninas e mulheres a tomarem frente, cada vez mais. "Sinto que, agora, as minas acharam um caminho pra falar de incômodos e anseios com propriedade. E esse exercício tem aumentado o leque de assuntos nas letras."

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O evento, que durou 8 horas, foi bancado com a grana das próprias organizadoras, que venderam adesivos por R$ 1 para suprir os custos. "Foi auto-gestão total", detalha Dani. "Sem ajuda nem financiamento de ninguém além de nós mesmas, produção e convidadas que toparam entrar nessa conosco".

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A primeira edição foi só o começo e repercutiu bem. As organizadoras já estão pensando na próxima. "E nesse formatão mesmo, de muita mina tocando e muita mina cantando, ao ar livre, de graça, pra todo mundo", conclui Dani.

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