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Entretenimento

O Futuro da Televisão nos EUA Segundo a VICE

Tire as crianças da sala. A TV vai estar em todo lugar em 2015.

Quando as redes de televisão se dignaram a conceder acesso ao conteúdo pelo qual você já pagava em aparelhos como seu celular, computador ou qualquer outra coisa além da sua TV, eles chamaram isso de "TV Everywhere". TV Everywhere é um termo estritamente corporativo, nascido em salas de reuniões das redes e encontros de Relações Públicas. Não é um termo que os consumidores usam, porque não exigimos que as redes nos abençoem com "TV em todo lugar". Preferimos reclamar um monte quando não conseguimos assistir a uma coisa nos milhões de aparelhos modernos que temos em vez daquela caixa anacrônica idiota.

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Ainda assim, "TV em todo lugar" é um termo ótimo para 2015, porque descreve bem o estado atual das coisas. É como se um caminhão de televisão tivesse tombado na estrada e espalhado TV por todo lado.

Mas o que vai acontecer com a TV em 2015? Tire as crianças da sala. A TV vai estar em todo lugar.

Apesar do jargão não ter pegado, as empresas de telecomunicação do país devem estar otimistas sobre 2015. A Comcast e a Time Warner esperam ter sua fusão aprovada no próximo ano, o que vai fazer os EUA terem uma gigantesca companhia de TV a cabo competindo com as empresas por satélite. Enquanto isso a DirecTV vai se fundir com a AT&T, deixando os norte-americanos com cada vez menos companhias fornecendo esse conteúdo precioso. O que deve fazer os consumidores decidirem cortar de vez o cordão umbilical e partir para os serviços de streaming, como o novo "Sling" (não confundir com Slingbox) do maior competidor da DirecTV, a Dish.

Falando em streaming nos EUA, o Showtime e a HBO estão entrando nessa onda do streaming em 2015. Quem assina esses canais, mais o Sling, Hulu, Netflix e Amazon, acaba pagando US$ 70 por mês por televisão. "Cortar o cordão umbilical" era um jeito de mostrar o dedo do meio para o sistema em 2013 e 2014, mas agora isso envolve assinar um número crescente de serviços de streaming de preços variados; então,pode ser mais atraente voltar a pagar um pacote de TV a cabo – música para os ouvidos das telecoms.

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Além das TVs 8K e OLED apresentadas em 2015 no Consumer Electronics Show, em Las Vegas, a Samsung lançou agora TVs 4K ainda mais acessíveis. Se você não sabe o que é uma TV 4K, você não é o único. (Ela supostamente tem uma imagem mais nítida, clara e bonita). Mas esse pode ser o ano em que vamos descobrir o 4K, com Tim Moynihan, da Wired, escrevendo: "Isso não é só hype. Não é 3D. Isso é o futuro, e, nos próximos anos, 4K vai ser tão onipresente e essencial quanto vídeo HD é hoje". Talvez você não assista à final do campeonato numa TV 4K neste ano, mas, com milhões de vendas de aparelhos esperadas para 2015, você pode assistir ao pontapé inicial da próxima temporada em altíssima definição.

"Ótimo, estou dentro", você deve estar dizendo agora. Mas não tão rápido. Há em andamento uma guerra de formato para o 4K, o que provavelmente vai fazer o consumidor ser mais seletivo com os serviços de streaming que pretender acessar em sua TV. "Faça a escolha errada e você pode não conseguir o conteúdo desejado", escreveu Moynihan. Enquanto isso, a Samsung está fazendo acordos para garantir que quem quiser assistir a TV em alta definição tenha de passar por ela.

Sabe quando você ignora uns 11 pop-ups no seu computador e celular pedindo para atualizar o sistema operacional? Boas notícias: isso também vai começar a acontecer com a sua TV, graças a um dos combatentes da guerra do formato chamado Tizen.

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A Samsung pediu para desenvolvedores de software começarem a trabalhar em aplicações para uma TV inteligente que a empresa acabou de anunciar, usando o sistema operacional de código aberto Tizen. TVs inteligentes já têm interfaces gráficas, mas espera-se que esse seja um movimento sério para transformar sua TV num aparelho de consumo de conteúdo personalizável, como seu celular.

Chato, né? A maioria das pessoas só quer sentar no sofá e assistir a televisão, não usar isso para fuçar na internet ou jogar Angry Birds.

Mas,diferentemente da insistência da Samsung para empurrar uma tela curvada goela abaixo do mundo inteiro, um movimento em direção à adoção universal de TVs inteligentes personalizáveis por Wi-Fi faz certo sentido. No futuro, pode ser que a sua TV funcione fora da caixa: é só conectar o Wi-Fi, e todos seus serviços de streaming, como Netflix, Hulu, Amazon e HBO Go, estarão prontos para entrar na sua TV. Sem necessidade de aparelho.

Mas e o conteúdo transmitido por esses retângulos na nossa parede?

Para o espectador exigente, em 2015 teremos mais do vencedor do Golden Globes da Amazon, Transparent, mais Game of Thrones na HBO, mais Orange Is The New Black e House of Cards na Netflix, além de uma temporada final de Mad Men na AMC. O canal já foi a grande esperança da TV norte-americana, mas a oferta de maior prestígio de 2015 da AMC é só uma expansão do universo de Breaking Bad.

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Mas a verdade é que não somos espectadores tão exigentes assim. Somos vácuos de conteúdo. Muitos costumavam esnobar as avaliações de audiência da Nielsen, dizendo que isso não media os verdadeiros hábitos do consumidor norte-americano. Mas, desde que a organização começou a analisar os números das redes sociais, ela tem dado uma imagem bastante clara do que realmente estamos assistindo, e não é coisa boa. Agora, todo mundo sabe que assistimos principalmente a The Bachelor, Pretty Little Liars, American Horror Story: Freak Show, Teen Wolf, The Bachelorette, The Voice e Dancing with the Stars. Também gostamos de Game of Thrones, The Walking Dead and Scandal; então, uma pequena parcela do que vemos realmente ganha prêmios. Parabéns pra todo mundo.

Parece que a teoria de Michael Schneider da TV Guide está correta: os EUA não assistem a TV para lidar com problemas sociais. Talvez por isso as novas séries de 2015 não sejam muito desafiadoras – por exemplo, o remake de The Odd Couple, do produtor de Mad About You. Galavant, uma série sobre personagens de contos de fadas que cantam, parece criativa, mas as avaliações são apenas OK. Framework, um programa de competição de design apresentado por Common, parece uma daquelas coisas que você vai passar horas e horas assistindo na cama quando estiver doente. Mas só está disponível na Spike TV, por enquanto.

Uma notícia boa: Empire está recebendo boas críticas e boa audiência.

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Essas são as coisas que queremos e merecemos neste ano. Mas existe uma programação de que teoricamente precisamos chamada "telejornal", e esse aspecto da televisão parece bem sombrio.

Depois do final da série em 14 de dezembro de 2014, a redação ficcional da HBO, The Newsroom, acabou. Com ela, se foi também a maior parte da dieta americana de pronunciamentos pomposos sobre ética no jornalismo – fora o Gamergate, claro.

Não tem como os noticiários ficarem mais pantanosos em 2015. E, se eu fosse você, não iria atrás deles para achar qualquer esclarecimento. A Geração Y não fica sabendo de notícias locais pela TV; então, os noticiários locais devem continuar transmitindo histórias histéricas sobre crime local acompanhadas por seguimentos sobre como se economizar no supermercado e decorar seu banheiro para o outono.

O declínio nos números da CNN em 2014 resultaram em decisões pouco inteligentes a longo prazo. A cobertura infinita do canal sobre o voo desaparecido da Malaysian Airlines e as matérias histéricas sobre o Ebola (apesar de que, vendo agora, uma culpa exagerada disso pode ter caído sobre a própria CNN) fizeram o canal parecer mais uma relíquia do que uma fonte confiável de notícias. Infelizmente, dada a baixa audiência dos ótimos programas de documentários do canal, eles não devem voltar neste ano.

Ainda assim, se você gosta de bom jornalismo na TV, o 60 Minutes e a Al-Jazeera America não vão a lugar nenhum tão cedo. E eu já te falei de um programa chamado VICE?

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Tradução: Marina Schnoor