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quadrinhos

O Nó da Gravata de Joan Cornellà

O que a China, a Coreia e o Brasil têm em comum além do capitalismo emergente? Eles concentram a maioria dos fãs do espanhol Joan Cornellà.

“Bonita Corbata” (Bonita Gravata), desenho que o Cornellà fez esses tempos pra Vice.

O que a China, a Coreia e o Brasil têm em comum além do capitalismo emergente? Eles concentram a maioria dos fãs do espanhol Joan Cornellà. Não pergunte a razão, porque ele não sabe (e a gente também não), mas de repente, com a nossa amostra, você pode tentar entender.

Tentar porque as tirinhas do Cornellà dão um nó na cabeça. Um nó surreal, engraçado, meio inquietante e filosófico, que ele começou a amarrar com uns oito anos, quando vendia desenhos grampeados para tiazinhas da rua onde vivia, em Barcelona. Na época, ele curtia o estilo do Jan/Juan López Fernández e seu Superlopez, paixão que por um tempo trocou pelo hardcore, com direito à banda cover do Minor Threat (Atac de Core, ele no vocal) e uma afinidade maior com o rolê straight edge, com o qual simpatiza até hoje.

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Depois da ameaça do HC, sua obsessão se voltou à HQ. Com influências de Daniel Clowes, Cowboy Henk e Kamagurka, entre outros, se formou em Fine Arts, colaborou com veículos importantes – desde 2010 faz cartoons para a revista El Jueves –, lançou os livros Abulio (2010) e Fracasa Major (publicação independente de 2012 com quadrinhos em P&B) e acumulou muitos fãs: mais de 1 milhão só no Facebook – a maioria brasileiros, apesar de ele nunca ter vindo ao país e de sua editora não ter representação por aqui –, fora os haters ofendidos que costumam aparecer para pedir que ele tire alguns quadrinhos do ar.

No ano passado, Cornellà publicou seu terceiro livro, Mox Nox (Bang Ediciones), com histórias de uma página sobre pessoas felizes que estão prestes a morrer, todas sem texto. Mas neste mês a jornalista brasileira Nina Raquel Sales, que há quase um ano trocou a Letônia pela Espanha, cruzou com ele em Barcelona e conseguiu arrancar dele algumas palavras descompromissadas sobre suas fábulas coloridas, sua infância querida e a pinta de bom moço que mantém aos 33 anos. Ou será que é só aparência? Por trás do colorido, tomaria conta o mundo cru do racismo, do sexismo, do capitalismo que é melhor não ver? De repente é tudo ficção, diversão. Racismo, sexismo, capitalismo, ficção, China, Coreia, Brasil… ? Estamos confusos em muitos tons.

VICE: Cornellà, você teve uma infância feliz?

Joan Cornellà: Adoro que você me chame de Cornellà, me parece tão… Uma infância feliz? Uma infância de criança de classe média, com problemas de coluna, sem nada mais grave. Nenhum problema de infelicidade. Não fui abusado pelos meus pais (risos).

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Você tem cara de bom moço, isso procede?

Bem, a gente não sabe o que outra pessoa pode fazer quando as portas estão fechadas. Minha cara é essa para todos, mas acho que sou horrível. A pior pessoa que já conheci em toda minha vida. Por isso não me vejo tanto – só às vezes, refletido no espelho.

Seu livro Mox Nox retrata a morte como consequência da felicidade. Ou é o contrário?

Ui, que pergunta. Retrata a morte. A morte é o tema. A felicidade vem pra dar o contraste. Não acho que tenha uma coisa antes da outra. Não penso que haja a relação de consequência nesse sentido. Vão juntos, mas a temática é sempre a morte.

O que te vem à mente sobre o Brasil?

Brasil? Um lugar onde se vende vodca. Cheio de gente. Não sei. Está ao lado da Letônia. Não sei mais. Não viajei muito na minha vida, não sou muito de viajar.

No Brasil te chamam de psico nível 11, o malucaço do Joan Cornellà, doidão. Elogio ou insulto?  

Me chamam assim no Brasil? A maioria? (risos).

Creio que todo o país te chama assim.

Horrível. Me sinto mal. Preferia que vocês me dissessem coisas bonitas. É insulto! (risos) Todo dia eu recebo mensagens de gente dizendo que sou um louco, um psicopata. Coisas horríveis.

Você faz terapia para lidar com isso?

Terapia? (risos). Não. A terapia é fazer o que faço. Sou louco mesmo. Me incomoda admitir. Mas deve me incomodar porque é verdade.

Se um dos personagens dos seus quadrinhos pudesse falar, o que nos diria?

O que nos diria? Crianças vão ler isso aqui? Diria paz e amor para todos. Peace & love. E muito obrigado.

Peace & love, Cornellà. Positive and mental attitude! 

A Nina faturou um presentinho.