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Assista a um trecho exclusivo de Fresh Dressed com Nas:
O filme mistura entrevistas com parte da realeza do hip-hop ( Nas, Kanye West, Sean Combs e Pharrell Williams) e filmagens de arquivo mostrando os prédios queimados do Bronx dos anos 70, lojas icônicas como a Dapper Dan's e imagens de 2Pac e Um Maluco no Pedaço. Tentando ir do blacksploitation do Harlem dos anos 70 até o A$AP Rocky usando os melhores tecidos das casas de moda da Europa em 83 minutos, não sobra muito tempo para Jenkins explorar alguns dos comentários sociais mais interessantes dessa obra. Em vez disso, temos trechos satisfatórios e menos complicados com a moda mais fresh e vislumbres do estilo de rua do passado.As primeiras palavras de nostalgia vêm de Kanye West: segundo ele, "ter estilo era mais importante que ter dinheiro. Quando eu era moleque, eu queria dinheiro para poder ter estilo". Quanto ao que continua sendo estiloso, temos alguns exemplos, começando com um tributo à influência de Little Richard (o "Liberace sem as lantejoulas", diz o ex-editor da Vogue André Leon Talley), passando pela mistura inimitável de Melle Mel de jaqueta de motoqueiro, short de ciclismo e bota de cowboy, até o nascimento da cultura dos tênis, apresentando uma entrevista com um cara conhecido como Mayor em sua garagem, que abriga sua coleção de Jordans, Pro-Keds e adidas de quase meio milhão de dólares.
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Assista a um trecho exclusivo de Fresh Dressed com Dapper Dan:
Vale dizer que isso tudo estava acontecendo numa época em que Nova York era uma cidade de cinco bairros distintos, antes de Manhattan gentrificar o Brooklyn e expulsar a classe trabalhadora de lá. Logo, temos uma amostra dos estilos de cada bairro, época em que se reconhecia as pessoas do Brooklyn por elas usarem Clarks nos pés, sharkskin, óculos Cazal sem lentes e chapéu Kangol para completar. Enquanto isso, no Harlem, a moda era conjunto esportivo de veludo com a marca do tênis combinando. As cores eram berrantes como os grafites nos trens do metrô. Ser fresh era sua habilidade de usar roupas novas e ter estilo.
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Essa é uma narrativa que Jenkins aborda depois de celebrar a ascensão da moda urbana nos anos 90 e o nascimento de empresas de moda fundadas por negros, aqueles que tiraram essas roupas das lojas de bairro e levaram até as grandes lojas de departamentos. Ali havia um espírito de união, destacado por 2Pac ter se recusado a receber pagamento de Karl Kani por promover sua marca, porque ele era negro. Porém esse foi um sonho que tinha data de validade, e logo todo rapper criou sua própria linha de roupas. A saturação do mercado manchou não só a imagem de rappers iniciantes como também a de magnatas estabelecidos do hip-hop, como Russell Simmons e Sean "Puff Daddy" Combs.O filme parece desistir quando entramos nos anos 2000. Uma época em que marcas de luxo como Gucci e Louis Vuitton descobriram que havia muito dinheiro para se tirar de carteiras negras. Não há uma grande análise aqui. Nem mesmo uma anedota sobre como a Burberry tentou um rebranding para capitalizar em cima do movimento de moda de rua e começou a perder valor de mercado: seus clientes de classe superior deram as costas para a marca, enquanto isso se tornava roupa dos chavs britânicos. Só ficamos sabendo que o argumento de raça se tornou um argumento de classe: assim que você fica rico o suficiente, há clubes em que você será aceito, independentemente da etnia. No entanto, para aqueles que querem subir nesse trem, o preço da passagem ficou muito mais caro.Fresh Dressed, de Sacha Jenkins, está em exibição nos cinemas dos EUA e faz parte do festival In-Edit, em São Paulo. Ele pode ser visto por demanda em www.freshdressedmovie.com e estará disponível no iTunes a partir de 10 de julho.Siga o Kaleem Aftab no Twitter.Tradução: Marina Schnoor