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O Occupy Hong Kong Está Chegando ao Fim?

Se alguém não agir para reajustar o paradigma do Occupy Hong Kong, o movimento, com certeza, vai morrer em breve.

No dia 15 de outubro, seis policiais de Hong Kong carregaram um assistente social chamado Ken Tsang até um beco escuro, o jogaram no chão e o espancaram. Suas mãos foram amarradas atrás das costas. Eles o chutaram enquanto ele rolava pelo chão: no total, a surra durou quatro minutos.

O local hoje é lendário, algo como um monumento da brutalidade policial em Hong Kong.

Os protestos do Occupy honconguês contra a recusa de Pequim em permitir que o povo tenha uma escolha real nas próximas eleições estão minguando, mas a reputação da polícia local não vai sair ilesa disso.

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Quando uma filmagem do incidente do dia 15 surgiu, a reação do público foi tremenda. A polícia e as gangues da Tríade adoram o mesmo deus guerreiro, o que fornece comparações fáceis. Mesmo que os agentes da lei envolvidos no espancamento pudessem ser facilmente identificados, as investigações se arrastariam: foi apenas na semana retrasada que sete policiais foram presos e acusados de espancar Tsang. A acusação contra eles é de "agressão ocasionando dano físico", com pena máxima de três anos. Mas eles podiam ter sido acusados de um crime diferente, aquele que pune servidores públicos que cometem agressão durante o exercício de suas funções: nesse caso, poderiam pegar prisão perpétua.

Em Hong Kong, como em qualquer outro lugar, o sistema protege a si mesmo.

E como praticamente todo departamento de polícia do mundo, a força policial de Hong Kong tem um grande problema de relações públicas. Antigamente uma entidade confiável, ela não goza do mesmo prestígio nos dias de hoje: qualquer um que use um uniforme policial está maculado. Seus agentes são comparados a cães e acusados de trabalhar em conluio com mafiosos. Tudo que eles fazem passa por um intenso escrutínio. Toda vez que aparecem nos locais de protesto com oficiais de justiça para executar ordens do tribunal, os ânimos se exaltam.

No ápice dos protestos, eram três os principais pontos de reivindicação em Hong Kong: o primeiro, um acampamento no distrito Admiralty, que fica perto dos prédios do governo e do quartel do Exército de Libertação Popular; o segundo era em Causeway Bay, no coração de uma popular área de comércio; e o terceiro era Mong Kok, uma área também popular com os compradores e onde os confrontos entre manifestantes e a polícia, e entre manifestantes e elementos contra o Occupy, foram mais tensos.

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Na terça-feira retrasada, a polícia desocupou um pequeno ponto da área ocupada em Mong Kok apesar de o lugar ter mais repórteres e espectadores do que manifestantes. Oficiais de justiça apareceram no local pela manhã, mas foi só por volta das 16h que veículos puderam usar a rua novamente.

Foi como um teste para ver como os manifestantes e espectadores reagiriam, já que a polícia retornou no dia seguinte para retirar o resto das barracas e outros materiais do Occupy. Mais de 100 manifestantes foram presos. Pessoas que queriam recuperar trabalhos de arte do protesto das caçambas de lixo confrontaram a polícia – e finalmente puderam fazer isso antes que o resto fosse levado para um lixão. Depois de tudo, uma nova pintura surgiu nos muros para cobrir qualquer traço de subversão.

Muitos daqueles que simpatizavam com as exigências dos manifestantes ficaram felizes em vê-los partir. Um comerciante de Mong Kok me disse: "Passei 20 anos construindo meu negócio [de construção e reforma] aqui. Esses garotos falam em democracia e todo mundo tem algo a dizer, mas eles não falaram com ninguém aqui antes de fechar nossas ruas. O aluguel é de cerca de US$ 15.500 por mês nesta região. Entendo o que eles estão fazendo, mas eles cortam minha garganta quando bloqueiam meu negócio".

Para ele, fazer os manifestantes voltarem para casa não é só uma questão de cortar o prejuízo. É uma questão de manter seu meio de subsistência e o de seus funcionários, além de garantir que algo que ele construiu não morra. Vimos isso com o Occupy Wall Street nos EUA, quando donos de negócios e residentes locais se irritaram com o batuque alto e as táticas pouco ortodoxas dos ativistas, que não conseguiram ganhar o apoio das pessoas comuns das ruas.

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Dois meses depois do começo do Occupy Hong Kong, todo mundo está um pouco cansado. O clima só vai ficar mais frio e chuvoso a partir de agora, e as condições não são ideais para uma ocupação de longo prazo. Depois que Mong Kok caiu, os policiais e os manifestantes estavam no limite. A polícia ia continuar a ofensiva nos outros acampamentos? A desocupação de Mong Kok iria reenergizar os protestos estagnados?

No domingo retrasado, alguns manifestantes do acampamento em Admiralty tentaram cercar os quartéis-generais do governo. A polícia correu para lá com cassetetes e sprays de gás lacrimogêneo para impedi-los. Foi o episódio mais violento das últimas semanas, com a tropa de choque atacando os manifestantes para dispersá-los. Pelo menos 18 pessoas foram presas.

A noite chegou e finalmente as coisas se acalmaram. Lá pelas 11h da manhã de segunda-feira, a Admiralty estava silenciosa novamente. Os estudantes se espalharam pela rua e adormeceram. Alguns recuaram para suas barracas. Uma garota estava cortando pedaços de espuma e amarrando nos braços com barbante. Ela me contou que precisava de uma armadura para enfrentar os policiais de novo.

Mas o Occupy Hong Kong claramente perdeu o fôlego. Os líderes políticos em Hong Kong e Pequim não vão ceder. Eles não veem razão para isso. Aos olhos deles, os manifestantes pró-democracia são apenas baderneiros. Continuar com a agitação só vai voltar a opinião pública contra os ativistas pró-democracia, pelo menos quando se trata de ocupar espaços e ruas públicas.

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Sentindo que suas ações não estão sendo efetivas, um dos líderes dos estudantes, Joshua Wong (candidato à personalidade do ano da TIME), anunciou na segunda-feira passada que vai entrar em greve de fome indefinida. Dois outros adolescentes afirmaram que só tomarão água durante a greve.

Outra mente por trás do Movimento Occupy, Benny Tai também entrou em greve de fome em outubro. O que não deu muito resultado.

Se alguém não agir para reajustar o paradigma do Occupy Hong Kong, o movimento, com certeza, vai morrer em breve. Na verdade, os três fundadores do movimento anunciaram que vão se entregar. Eles dizem que querem que os manifestantes levem o espírito do Movimento Guarda-Chuva de volta à comunidade.

Tradução: é hora de voltar para casa.

Tradução: Marina Schnoor