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Outros

O Outro Caminho do Bem

Conversamos com o cara que diz ter encontrado a solução de todos os problemas da humanidade.

Queira ou não queira, todos vão ler Luis Marcelo Freddo — diz ele. O matemático de 42 anos acredita piamente que seu livro, “Carta Para a Humanidade”, chegará aos olhos de todos os seres humanos e, mais que isso, será o pontapé inicial da solução de todos os problemas da humanidade em derrocada (não confunda com desencanto).

Sua crença só se consolida com um empurrãozinho terreno. Os três primeiros títulos do compêndio de 17 mil páginas já foram publicados em versão digital, mas agora Luis busca verba para imprimir o último dos tomos homônimo à obra. Ele teve a ideia de partir em busca de um investidor-anjo em um anúncio na Folha de São Paulo que chamou nossa atenção.

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Lá estavam dois quadros com dizeres de aspirações globais se destacando entre matérias corriqueiras sobre a capital paulista. Contrariando o trecho que dizia que o contato deveria ser feito somente pelos interessados, a gente enviou um email para o pomposo endereço que, como ficou claro depois, reproduz as intenções megalomaníacas de Luis.

“Meu livro tem força suficiente pra, quando for conhecido, estilhaçar tudo que todos pensam”, me disse ele. Admito que coloquei meu cérebro em alfa algumas vezes enquanto a gente conversava. Foram muitos dados por minuto. E talvez minha cabeça tenha perdido um pouco do poder de processamento. “Eu canalizo a inteligência de todo mundo, a minha e a sua.”

Foi com essa capacidade de antena cerebral que, segundo Luis, seus textos começaram a surgir em julho de 2001. “Tem gente que fala que esse livro é uma psicografia das forças divinas, das forças criadoras ou da mãe natureza, como eu chamo. Eu tenho um cérebro extremamente potente. Eu estou emitindo um comando”, me contou ele.

A orientação do Luis passa por referências militares e bases filosóficas, teorias de ciências questionáveis e postulados de precisão matemática, panteísmo e mensagens de povos antigos. Tudo isso se desencontra às vezes, mas talvez ele se explique melhor escrevendo. Ele afirma sem firula que seus textos podem acabar com os problemas de saúde, guerra e ecologia do mundo. “É uma bomba verbal”, nas suas palavras.

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Pra jogar por baixo, é uma proposta ousada. Mas o cara joga muito alto. Ele acredita que grandes corporações como a Coca-Cola deixarão de existir graças a seus textos. Ele é tido como louco por metade de seus irmãos e como gênio pela outra metade. Ele classifica Jesus e Buda como adornos de prateleiras. O céu não é o limite para Luis.

VICE: Que livro é esse?
Luis Marcelo Freddo: Esse livro é “Uma Carta Para a Humanidade”. Eu escrevi 22 livros e esse é o último. Comecei a escrever em 2001 e terminei em 2011. Eu fui registrar esse livro como didático na Câmara Brasileira de Livros, mas registraram como Antropologia Filosófica, filosofia aplicada a ser humano. O mundo hoje padece de uma problemática enorme. A doença é generalizada em pessoas ricas, pobres, velhas, jovens, todas têm doenças espalhadas. Tem problemas de pobreza. Tem problemas de violência, porque você pode ser assaltado aqui e tem guerras no Afeganistão, por exemplo. E problemas ecológicos, não só no sentido de desmatamento, mas também na ecologia interna das pessoas: a gente é uma Terra ambulante e devido ao estilo de vida do mundo moderno atual, essa ecologia está sendo devastada. Quando devasta o corpo, devasta a mente. Um dos fatores que causa a devastação psíquica é a devastação do corpo. O mundo está essa piração toda. Eles querem mudar, mas não têm essa capacidade. Estamos em 2014 e os cientistas dizem que os problemas estão piorando, então como vai ser daqui a 5 ou 10 anos. Como vai estar esse mundo daqui a uns anos? Estudando muito, eu meio que fiz uns gráficos na minha cabeça com todas essas variáveis e é capaz que esse mundo não esteja mais, que a espécie humana não esteja mais aqui. A minha previsão é essa: não tem como a espécie humana continuar, ela está numa curva descendente. Criou-se a tecnologia, carros novas, roupas bonitas, mas isso é uma máscara.

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Até quando a humanidade dura?
Até quando nossa resistência psicológica e física aguentar. A gente é fruto de milhões de anos de seleção natural, então a gente tem certa resistência orgânica e fisiológica, embora todo mundo só coma porcaria — você vai no supermercado e 99% dos itens é lixo. A pessoa aguenta porque ela tem uma coisa chamada homeostasia e por isso o corpo se reequilibra. Mas a nossa energia está sendo gasta. Quando eu nasci eu andava de bicicleta, de carrinho de rolem. Meus sobrinhos só querem saber do iPad, de McDonalds. Quando eu era pequeno, morava num sítio e era diferente.

Corria tudo?
Corria, nadava, andava.

Cheio de gás no pulmão!
Hoje a criançada não aguenta. A cada geração a resistência diminui. E isso é só a questão física. Tem problemas com os povos, gente que não tem o que comer e um monte de gente ganhando milhões. Existe uma problemática.

Existe…
E aí o cristianismo diz que vai ser a solução pra isso. Porra, o cristianismo está aí há dois mil anos e… Ou as palavras de Jesus não foram ouvidas até agora ou a qualidade delas não tem o poder de solucionar que disseram que seria do salvador. Ah, mas tem o judaísmo, o budismo, a ciência e a tecnologia, as ONGs… Todas as propostas de solução, embora todo mundo queira resolver a questão, não resolvem a questão. Contra fatos não existem argumentos.

Você acha que os problemas não são resolvidos?
Não. Não por falta de vontade, mas porque a gente não tem a solução. Se não há uma solução para um problema, não significa que ela não exista, mas, sim, que não foi descoberta. Na matemática existe o teorema de Fermat. Ele fez uma equação que funciona, mas ninguém conseguia provar. Ainda assim, sabia-se que isso era certo. 300 anos depois veio um matemático que provou.

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E o seu livro é isso?
Meu livro é uma proposta de solucionamento para esses problemas. Ele não é uma narração dos problemas. Ele é direcionado a ser uma proposta.

Você consegue resumir essa proposta?
É, são 17 mil páginas escritas… Esse livro anunciado é uma das partes. Ele tem 320 páginas e traz muita coisa, mas não traz tudo. Pô, é a história da humanidade inteira. É um problema complexo. Num livro só não tem isso, mas tem a teoria pra resolver. Com esse livro eu quero concorrer ao prêmio Nobel da paz. E vou ganhar isso. É previsto. O livro tem esse potencial. Mas vou resumir: qual a cor que representa a paz?

A branca.
E vamos supor que ciência, tecnologia e poder monetário são a cor vermelha. Agora vamos supor que as religiões e o Oriente Médio são representados pela cor amarela. Se eu juntar amarelo com vermelho, o que acontece?


Vai dar amarelo, vermelho e laranja. São cores o quê?

Quentes?
São as cores do fogo. São essas cores que tem o poder, assim como o Estados Unidos, o Oriente Médio e o dinheiro. Só eles botam a boca no trombone. Minha teoria é a seguinte: no desenvolver da história humana surgiram as principais formas do pensamento humano e cada uma das tonalidades da cor vem de uma mesma fonte. Cada um dos pensamentos é uma cor. O que você precisa fazer para que todos voltem ao branco? Sabe que nem o disco do Pink Floyd?

Tem que misturar…
Não, tem que reunificar. Essa é a condição sine qua non para se ter paz. É preciso ter a reunificação da família humana. Atualmente, ninguém é unido. Uma das soluções para a humanidade é a reunificação da família, reestabelecer a humanidade como uma família única.

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Como assim?
Uma família com um objetivo único. Na prática. E não só uma coisa sentimentalista. É algo objetivo. Isso não é socialismo, anarquismo, nada, isso é orgânico. Seu corpo tem células diferentes, mas elas têm uma coisa em comum: elas são sintonizadas de maneira a formar um organismo único. A humanidade não tem isso.

Temos de nos comportar como células de um corpo só?
Sim. A biologia prova isso. Todo organismo tem um cérebro que comanda. Nesse livro eu estou fazendo o papel de cérebro da humanidade. Eu tenho um cérebro extremamente potente. Eu estou emitindo um comando.

Então, o que você está fazendo é a salvação da humanidade?
Se a gente continuar assim, a humanidade, a gente fica a meia luz. Eu quero que ela fique sob uma luz inteira. Ela tem de amadurecer o pensamento e evoluir. Quem evolui, garante a salvação. Não é algo religioso.

E isso que você disse sobre as cores é só um dos pontos de todos os livros.
Só um dos pontos. Tem outro livro que já tenho registrado que vai ser o terceiro ou quarto que vou lançar. Vai se chamar “Reunificação da Família Humana - Operação Fênix”. Você perguntou se a humanidade vai acabar. Bem, no meu ponto de vista, a humanidade já acabou. Somos cinzas. Pegou fogo e virou cinzas. Somos vivos-mortos, somos o que sobrou. Por isso fiz a Operação Fênix. O que é isso? A ave que ressurge. Pega fogo e levanta voo.

Você tem quantos livros lançados?
Livros de papel são caros, então eu coloquei uns livros no mercado via eBook. Tenho três livros digitais. São várias versões do Carta para Humanidade: Little Boy, Comando Delta e Fat Man.

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Parece nome de operação militar ou de bomba. Por quê?
Você sabe o que é o Little Boy?

A bomba lançada em Hiroshima na Segunda Guerra.
Sim, era a menorzinha de Urânio. A outra se chamava Fat Man porque era de Plutônio. E tem uma operação militar nos Estados Unidos no Oriente Médio que se chamava Comando Delta. Bem, cada pessoa tem um pensamento. Meu livro tem uma força suficiente pra, quando for conhecido, estilhaçar tudo que todos pensam. É inserir uma bomba verbal no cérebro das pessoas. Está todo mundo pensando lixo! Não estou falando vocês… É mais quem está comandando a sociedade.

Claro, claro…
Então, vou explodir pra virar pó e fazer o verdadeiro pensamento no lugar. Meus livros são bombas!

Você acha que é possível que a gente consiga solucionar todos os problemas da humanidade com suas ideias?
Acredito que elas vão ser o pontapé inicial. O livro não fala como se organizar a agricultura para gerar comida para todo o mundo. Eu não sou agrônomo, não tenho esse conhecimento técnico, mas meu pensamento é como se fosse um efeito dominó. O primeiro eu tenho que derrubar e depois todos serão derrubados. A evolução da tecnologia faz parte de um plano para que se realize o plano da humanidade. Não existe nada mais poderoso que uma ideia certa no momento certo. A ideia é essa, o momento é esse.

E o que vai acontecer coma gente quando o mundo souber das suas ideias?
Seremos a verdadeira humanidade. Ela será feita dos verdadeiros seres humanos. O que são eles? Eu mostro no livro como se alimentar, como devem ser os relacionamentos humanos, de família.

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Fala de relação sexual?
Não, não entrei nesses detalhes…

No que você se inspirou pra escrever isso?

É mais inspiração interna. Leio muito, me alimento bem, pratico jejum, pratico muitos esportes. Isso faz com que seu sangue fique com melhor qualidade e seu cérebro é alimentado por ele. Se você tem um bom estilo de vida, seu cérebro fica melhor. Eu criei uma letra que representa essa forma de pensamento, o X. Jesus Cristo, quando veio na Terra, ele foi crucificado. A cruz é o sinal da soma, mas ninguém pensa que isso é para somar as capacidades humanas. Mas a soma é pouco. A multiplicação é mais: é a soma da soma. Me perguntaram se meu livro é uma Bíblia sagrada. Não. Se é eu não sei, porque a humanidade transformou os livros sagrados em profanos. Se ele vai ser sagrado ou profano, vai depender da utilização. Ele tem força suficiente para isso.

Posso dizer que é um manual?
Não. É uma teoria. Nela, o X é a multiplicação. E eu me reportei a Arquimedes, o inventor da alavanca. Alavanca é multiplicação de força: para você multiplicar uma força, você precisa de apoio. Vamos fazer um alavancamento disso, vamos um apoiar o outro. O Estados Unidos precisa apoiar os islâmicos e os islâmicos precisam apoiar os norte-americanos.

Mas esse apoio mútuo não é algo que todos querem?
Sim, mas ninguém faz acontecer. Tem muitas ideias, como a do Ghandi, que são maravilhosas, mas ninguém não está nem chegando nessas ideias. Se daqui pra frente a gente não fizer nada, vai todo mundo pro fundo do poço.

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Você não acha que tem uma data de validade pra humanidade?
Não. Estamos numa derrocada. Ah, tem outro motivo do X.

Qual?
O que é o XX na biologia?

Ih… O Homem?
Não.

Ah, é a mulher.
Sim. A humanidade tem o homem e a mulher, tem pai e tem mãe. Vamos supor que o pai seja Deus e a mãe seja a natureza. A humanidade tomou um tombo e se esborrachou e se ela não tiver a ajuda desses pais ela não vai se levantar. Como fazer isso? Vamos emitir um conteúdo de informações do super hiper ultra conhecimento. Como a gente vai colocar isso em uma linguagem humana? Vamos ver um ser humano que tenha uma antena psíquica para receber nossas mensagens e ele capta essa mensagem e transforma em palavras humanas. Eu fui porta-voz disso.

Você foi porta-voz de Deus? Ou da natureza?
Da natureza.

Você acredita em Deus?
Sim, mas não do jeito que as religiões falam. Acredito que ele está em todas as coisas.

É uma visão panteísta.
Isso, mas nunca estudei o panteísmo a fundo. Vejo meu pai rezando, as pessoas rezando e quanto mais eu vejo mais assombração aparece. Isso é uma hemodiálise espiritual. Todo mundo está ruim e vai na igreja, mas isso é consolo. Não está sendo usado da maneira correta.

E como você recebeu essas mensagens? Como começou isso?
Tem gente que fala que esse livro é uma psicografia das forças divinas, das forças criadoras ou da mãe natureza, como eu chamo. Eu comecei a escrever dia 25 de julho de 2001. Foi quando eu vi uma carta de um leitor na Folha de São Paulo sobre ecologia. Aí eu comecei a escrever e não parei. Fui escrevendo manualmente, quatro mil páginas. Usava umas 30 canetas BIC por dia. Tenho páginas ensanguentadas porque saiu a pele, a carne do dedo. Tenho esse calombo até hoje. Bem, parei de fazer isso e passei pro computador. Escrevia as melhores ideias lá pelas 3h, 4h da manhã. Eu ficava o dia inteiro escrevendo, mas quando eu estava dormindo eu sentia informações serem embutidas no meu cérebro. E tinha mais um monte de informação quando eu acordava. Era tão rápido que eu nem sabia o que estava escrevendo. Uma dessas vezes eu percebi que escrevi que os povos antigos sabiam. Ao mumificarem os corpos, eles mantinham informações da civilização nos corpos. Isso se chama radiestesia. Saí do meu flat na Paulista e fui no MASP. Não é que estava tendo uma exposição sobre o Egito?

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Eu lembro dessa exposição.
Entrei lá e dei de cara com múmia, sarcófago e tudo! Eu li o que estava escrito na parede e era o que eu tinha escrito. Pensei: ou eu estou louco ou é uma intuição muito forte! Há milhares de anos esses povos sabiam o que estaria acontecendo hoje e eles tinham a solução pra isso que está sendo apresentada agora.

Via você?
Isso.

Como? É a tal antena psíquica?
Eu me questionei: como isso acontece? E escrevi: a múmia estava exposta. Qualquer coisa que esteja parado emana alguma coisa, nem que sejam pequenas partículas. Eu respirei aquilo, meu cérebro decodificou e eu escrevi aquilo.

Por que isso não aconteceu comigo? Por que você?
Eu nasci pra fazer essa transmissão.

Bem, você psicografa os comandos da natureza e dos povos passados?
Sim. Mas tem muita coisa que é de mim mesmo.

Nada se repete nesses livros?
Tem uma entonação repetitiva, mas como eu quero que seja um livro infalível às vezes eu dou dez explicações pro mesmo assunto. Tem provas matemáticas, tem equações práticas, gráficos.

Entendi.
O Luis Marcelo escritor não existe mais. Ele está estampado nos livros. Agora sou o Luis Marcelo editor.

Já teve oferta pra publicar o livro?
Nossa, entre ontem e hoje houve muitas ligações. Já já vou ter de contratar uma secretária!

De onde você tirava dinheiro quando estava escrevendo o livro?
Eu trabalhava num restaurante e o dono de lá me disse para eu alugar algo para não prejudicar o livro. Trabalhei oito anos no Banco do Brasil e tinha algumas reservas.

Pra fechar: as pessoas te acham maluco?
Olha, das pessoas que conhecem meu trabalho, 90% acham que é coisa de gênio. Se eu chegasse há mil anos e falasse que bastava eu apertar um botão para iluminar o ambiente eu seria maluco. A minha teoria está num patamar acima. Eu canalizo a inteligência de todo mundo, a minha e a sua. Devido a pessoa nem entender ela pode falar que é loucura. Os grandes gênios da humanidade são tachados de louco. Mas meu livro fala: de nada adianta ter esse cérebro se ele não tiver utilidade, vai virar adorno. As pessoas falam: Jesus, Buda, sei lá. Tudo na prateleira como adorno, ninguém coloca na prática. A palavra dos grandes líderes não deve ser idolatrada. Ela deve ser colocada em prática.

Você acredita na democracia brasileira?
Jamais. Pode ter algum político honesto que queira fazer algo, mas a humanidade está tão cancerosa que não tem poder para fazer mudança. Põe o L no meio de Povo e vira Polvo. Você põe RA e vira Polvora. Põe acento e vira Pólvora. A gente vai explodir tudo. Falta uma faísca. É meu livro.

Se algum dos candidatos lesse seu livro a gente estaria num caminho melhor?
Sim. Mas meu projeto vai independer dessas pessoas que já estão no poder.

A solução é “A Carta Para Humanidade”?
Isso aqui vai fazer a solução aflorar.