O Primeiro Zine da Austrália Foi Feito num Navio de Condenados?

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O Primeiro Zine da Austrália Foi Feito num Navio de Condenados?

The Wild Goose: A Collection of Ocean Waifs era uma publicação semanal – escrita à mão em papel almaço doado pelo padre a bordo, e lida pelos passageiros do navio de condenados Hougoumont todo domingo.

Deixa eu te perguntar uma coisa. Se fosse 1867 e você estivesse na última viagem de condenados da Inglaterra para a Austrália, preso no convés inferior, o que você faria para passar o tempo? Esconder cada lima que rolasse pelo chão e esperando até a madrugada para esfregar isso nos seus dentes de escorbuto? Deitar na sua rede esperando a fila para o banheiro diminuir? Não John Flood: como um J. Jonah Jameson irlandês sem orçamento para fotos, ele coletava conteúdo para seu jornal de condenados.

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The Wild Goose: A Collection of Ocean Waifs (O Ganso Selvagem: Uma Coleção de Coisas Achadas no Oceano) era uma publicação semanal – escrita à mão em papel almaço doado pelo padre a bordo, e lida pelos passageiros do navio de condenados Hougoumont todo domingo. Atingindo sete edições, The Wild Goose é provavelmente o primeiro zine da Austrália. Fiel à tradição dos zines, era um perrengue produzir um jornal. Nas transcrições, os comentários ranzinzas de Flood revelam os desafios da edição em alto-mar – incluindo perder "uma grande quantidade de manuscritos, porque algum folgado sentou nas lousas de rascunho".

Fora as regras sobre não chegar perto das lousas, Flood e seus colegas editores, John Boyle O'Reilly e John Casey, tinham uma política rigorosa de envio: "Todas as contribuições… devem ser mandadas para nosso escritório antes da noite de quarta-feira; e desejamos ardentemente que nossos valorosos correspondentes estejam conscientes de que 'brevidade é a alma da sagacidade'".

A coluna de cartas para o editor era feroz, mas justa. Para "um leitor constante" eles responderam: "Não achamos que seja possível enganar o capitão de que a tripulação está armando alguma coisa; nem achamos que eles vão melhorar a sopa". Já "Dick" foi zoado por sua ortografia: "Se escreve 'Coxswain' não 'Cock'shen' [timoneiro]. Onde você estudou?"

Eles aceitavam poemas, artigos de opinião, novidades e texto engraçados – com as duas últimas coisas se sobrepondo na maioria das vezes, graças à ironia sem fim de Flood. "Há rumores de que cinco encontros serão permitidos no convés a cada manhã às quatro horas, para o propósito de banho. Parabenizamos o público por essa benção tão necessária."

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Flood era jornalista antes de ser condenado por traição (junto com outros irlandeses rebeldes, por tentar um ataque armado ao Castelo Chester em Liverpool) e sentenciado a 15 anos na Austrália. Mostrando um desprezo saudável pelo Sistema, The Wild Goose foi batizado em homenagem aos "Wild Geese" da história irlandesa: rebeldes dos séculos 16, 17 e 18 que se juntaram a exércitos da Europa continental para lutar contra os britânicos.

Flood empalava os britânicos sem misericórdia com sua espada de perspicácia – "Esse magnânimo governo, com a bondade exuberante de seus sentimentos, colocou uma grande porção da… Austrália à nossa disposição. Generosamente custeando todas as despesas de nossa jornada até lá".

Mas acima de tudo, ele estava nessas pelos companheiros: "O público – nosso público – está sendo afligido pela… monotonia e melancolia – dois diabretes que desejamos sinceramente vencer". E se ler o Goose não fosse suficiente, ele recomendava a terapia antiga de escrever tudo que te deixasse puto. Falando ainda sobre esses diabretes, disse Flood: "Essa é a maneira mais certa para superar ambos".

Que o espírito do Goose continue a olhar pelos nossos rabiscos melancólicos. Amém.

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Tradução: Marina Schnoor