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O Second Life Sacana

Com o username 'garotinhosafado69' conseguimos circular no antro de putaria virtual superfaturada no Second Life.

Onze anos atrás nascia o Second Life, projeto desenvolvido não com o intuito de ser um jogo, mas um mundo virtual onde você pode ser o que você quiser, com liberdade para construir sua própria casa, inserir seus próprios modelos em 3D e fazer sexo virtual com pessoas dos mais distintos gêneros, inclinações sexuais e espécies. Com a proposta de ser um mundo expansivo com liberdade de adição de conteúdo criado pelos usuários, logo se formou um rico ecossistema de produção, difusão e comercialização desses conteúdos. Você pode, por exemplo, entrar no mercado virtual do Second Life e comprar a animação de dança Reggae Dancehall para se jogar na pista com seus amigos virtuais, adquirir um belíssimo vestido de geisha ou decorar a sua casa de mentira com maravilhosos móveis de jardim. Mas o que provavelmente mais vende no mundo de Second Life, como no resto da internet, é sexo.

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Bem-vindo a Syn City.

Esse universo virtual é maior do que a soma de seus nichos bizarros. Partindo do princípio da livre economia e da filosofia libertária de seus residentes, o Second Life sempre foi um lugar onde os mais esquisitos puderam conviver uns com os outros sem repressão, incluindo furries, o pessoal que curte um role-play de estupro, S&M com máquinas de tortura, etc. Nos áureos tempos desse maravilhoso mundo virtual, várias empresas reais investiram em presença nesse mundo bizarro, incluindo Microsoft, Reuters, Adidas e Coca-Cola. Hoje em dia eles parecem ter desistido desse universo mágico, o que não quer dizer absolutamente que o Second Life esteja em declínio.

Você pode estar se perguntando: "Como e por que esse negócio está durando tanto tempo?". A resposta é simples: dinheiro. O Second Life tem uma economia baseada em sua moeda interna, o Linden Dollar ou L$, que pode ser usada para comprar os mais diferentes objetos, modelos em 3D e animações que permitem ao usuário, por exemplo, praticar sexo oral com outros residentes. O que faz a economia desse mundo virtual girar é que sua moeda interna pode ser transformada em dinheiro do mundo real. O jogo, já no ano de 2006, fez Ailin Graef, uma sino-germânica que controlava o avatar Anshe Chung, virar uma milionária no mundo real a partir de, basicamente, transações imobiliárias feitas no Second Life – transações cujo investimento inicial era de pouco menos de dez dólares. Mas hoje em dia é mais provável você gastar seus L$ com uma rola imensa para equipar o seu avatar ou em textura de mulheres cobertas em esperma e marcas de chicotada.

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Acometido por um nível ligeiramente perigoso de curiosidade, me perguntei "Como será que está o Second Life hoje em dia?", já pulando para conclusões do tipo: "Será que a turma continua transando muito?". Com essas interrogações na cabeça, baixei o visualizador do programa (não sei por que não se chama de cliente o executável) e adentrei nessa terra estranha para ver o que estava rolando.

Rapidamente criei uma conta e fiquei muito feliz ao descobrir que ninguém havia adotado ainda o username garotinhosafado69. Com um largo sorriso no rosto e o coração lotado de esperança, entrei no mundo mágico de Second Life. Como eu estava livre para ser quem eu quisesse, a partir do limitado pacote de modelos e texturas disponíveis no download oficial, eu não consegui pensar em nada melhor do que virar um sensual vampiro sem camisa. Como qualquer outra pessoa em sã consciência faria, também o escolhi por sua feição permanente de quem está espreitando alguma coisa, já que o objetivo era observar o ambiente e os residentes que me circundam.

Depois de dar uma volta na área comum a novos residentes (o nome dos bonecos que você controla), fui diretamente procurar onde poderia estar rolando mais "ação". Escolhi o mundo "adulto" de Syn City, já que naquele horário era o que mais tinha usuários. Ao entrar nesse antro de libertinagem, tive a impressão de estar entrando ao mesmo tempo em um stand center exclusivo de putaria e em um banner pornográfico interativo que vai carregando enquanto você caminha por ele. Os cubículos a povoar os dois lados do corredor que dá entrada ao mundo virtual de Syn City são repletos de lojinhas de modelos em 3D de girobas, xerecas, roupas de couro que deixam os peitos de fora, instrumentos de tortura medieval e vários pacotes de animação de sexo. O sentimento é de uma quermesse da putaria cujos itens mais vendidos são próteses genitais.

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Você pode comprar uma língua animada para a sua boquinha. Que bagunça.

Infelizmente, ao tentar entrar em um lugar denominado The Keyhole Club, aparentemente um templo da luxúria construído para a galera transar como animais enquanto estranhos ficam observando, eu fui quase que automaticamente expulso por minha conta ser muito recente. Não consegui entrar de fato na cidade de Syn City, estando limitado à sua entrada como você pode ver nos screenshots, eternamente preso nesse duty free da putaria virtual. Continuei procurando outros lugares onde eu poderia ver a galera mandando ver ou algo mais bizarro, mas grande parte desses lugares são propriedades privadas desse mundo virtual, e seus donos podem escolher a dedo (ou através de um script automático) quem entra lá ou não. Provavelmente para evitar pessoas como eu mesmo, eternos curiosos descompromissados, incapazes de se comprometer seriamente com coisas como modelos em 3D de vampiros transando. Ao mesmo tempo fiquei meio triste e muito feliz de não poder adentrar na profunda entranha do cyber sexo virtual de Second Life, mas pude ter um bom vislumbre em primeira mão – se não do ato sexual sendo praticado – do extenso mercado que essas perversões fazem girar.

Vamos fazer uma breve conversão de alguns preços que eu anotei de produtos sensuais que você pode comprar na entrada de Syn City. Se você quiser um pinto funcional, ele custa L$ 995, que pela conversão atual para dólares dá US$ 4,02. Ou seja, por R$ 9 você pode comprar um pinto de mentira para enfiar nos outros. Alguns apetrechos sadomasoquistas são consideravelmente mais caros. Uma cama de bondage, por exemplo, cheia de poses malucas para você torturar seu parceiro consensual, que fica indefeso ao ser amarrado como uma peça de provolone, custa L$ 3250 ou US$13,11. Seriam quase trinta reais para satisfazer todas as suas perversões de amarrar um modelo em 3D a uma cama virtual.

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Gostei do fato de que meu boneco estava nessa animação de digitar enquanto ficou observando esse casal praticando um clássico felatio.

Se você tiver um avatar masculino e quiser dar a sua bunda, você precisa antes comprar uma bunda por L$ 549. O conjunto de animações necessárias para você fazer um sexo ativo violento com seu parceiro custa L$ 1099. Cada animação de posição sexual custa por volta de L$ 350, mais ou menos R$ 1,50. Você já comprou um pintoco e quer enrabar alguém contra a parede? R$ 150. Cansou dessa posição e quer mandar um papai-mamãe? Mais R$ 1,50. É claro que você pode comprar pacotões com várias animações, como o Kama Sutra com duas mil animações por módicos L$ 2999. Quanto mais variação você necessita no seu sexo virtual, mais grana vai ter que desembolsar. Sabe o mais interessante? Cada transação feita dentro do Second Life tem uma comissão de 5%, ou seja, se você comprou um pintoco por R$ 9 para enfiar na sua mais nova namorada virtual, a empresa Linden Research, Inc. fica com R$ 0,45 da sua rola.

Second Life, onde você é livre para seguir seus impulsos naturais de habitar o corpo de um lobisomem e sodomizar uma mulher siliconada.

É possível conseguir os Linden Dollars de outras formas sem precisar injetar diretamente dinheiro de verdade no bagulho. Dentro desse mundo virtual existem vários minigames chatos que você pode jogar para conseguir uma graninha, e é comum também os residentes trabalharem para outros nas mais variadas funções, como, por exemplo, dançarino (geralmente para ajudar a lotar suas boates) e vendedores. Você pode também entrar no círculo vicioso da economia local e fazer seus modelos e texturas em 3D para vender dentro do jogo, finalmente completando esse ciclo autofágico. Agora estou me perguntando se o cara consegue ficar excitado com a rola em 3D que ele mesmo modelou. Fica a dúvida no ar.

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