A Lava Jato vai sumir na neblina?
Foto: Agência Brasil

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A Lava Jato vai sumir na neblina?

Ausente das manchetes, operação desacelera após impeachment e mira em alvos repetidos.

Michel Temer nem assumiu o posto de presidente interino e o amplo pacto que gerou a provável abertura do impedimento de Dilma Rousseff já está fazendo efeito: a Lava Jato esfriou. A operação "prendo e arrebento" nem precisou de um novo Ministro da Justiça ou manobra que o valha para começar a murchar. Já na beirada da votação da Câmara para a admissibilidade de abertura do processo o colunável juiz Sérgio Moro começava a recuar, afirmando que gostaria que a Lava Jato não passasse de dezembro deste ano.

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Depois de um trimestre animado no início de 2016, incluindo a condução coercitiva do ex-presidente Lula, o vazamento de grampos de conversas particulares do ex-presidente (incluindo um papo com Dilma Rousseff, entre outros), a obtenção de provas de um sistema interno de controle de pagamentos de propinas da Odebrecht, a revelação final da delação do senador Delcídio do Amaral, a revelação de uma supertabela citando valores dirigidos a praticamente todos os partidos brasileiros na Odebrecht e a aparente tentativa de reviver o caso Celso Daniel, a Lava Jato desacelerou e não gera nenhum vazamento importante ou denúncia espetacular desde a votação do impeachment na Câmara.

Para não dizer que não deu em nada (ou pelo menos, em nenhuma capa de revista semanal), o MPF do Paraná denunciou João Santana e uma turminha da Odebrecht, gente que já estava no script e que, em boa parte, está preventivamente presa, e em alguns casos condenada. Esse tipo de ação teve uma repercussão midiática bem menor do que as tretas anteriores.

Por outro lado, diferentes atores envolvidos na Lava Jato começam a se movimentar. A Controladoria Geral da União considerou na quinta-feira (28) a empreiteira Mendes Júnior como "inidônea", o que significa que ela tomou um gancho de ao menos dois anos em realizar contratos com o governo. É a primeira empresa denunciada na Lava Jato que passar por essa treta, que pode ser também o destino da Odebrecht – talvez seja por isso que, por baixo dos panos, Marcelo Odebrecht e sua turma estejam tentando encontrar a melhor maneira de xisnovear geral.

Na semana passada um despacho do agente da Polícia Federal Filipe Hille Pace basicamente disse que "já trabalhamos demais" e que estariam esgotados, inclusive passando por problemas estruturais. Em clima de "jogando a toalha", Pace diz que "não há razoabilidade e possibilidade fática e humana a se apurar, no presente inquérito, todos os crimes que possam ter sido praticados pelos indiciados em desfavor da estatal brasileira". O inquérito que gerou o despacho é, veja só, relacionado a Jorge Luiz Zelada e João Augusto Resende Henriques, apontados como peças do PMDB no esquema de corrupção da Petrobras e, em tese, apadrinhados por ninguém menos que Michel Temer.

Por outro lado, quem avança a passos trôpegos, enquanto a Turma do Moro parece desacelerar, são os processos da Procuradoria Geral da República. Depois dos despachos do relator do processo no STF, Teori Zavascki, chapuletando Moro, o juiz paranaense ficou mais esperto e tem, em tese, emitido qualquer suspeita de envolvimento de pessoas com foro privilegiado direto para o Supremo. Isso significa que a parte mais casca-grossa das investigações, que incluem os possíveis presidente e vice-presidentes interinos da República, estão nas mãos de Rodrigo Janot – e ele já começou a pedir benção pra Zavascki, solicitando autorização para investigar o presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o senador Aécio Neves (PSDB-MG), e o ministro das comunicações Edinho Silva (PT), entre outros.

As suspeitas de que, durante a presidência interina, Michel Temer agiria para travar a Lava Jato, pesam cada vez mais, e chegaram a ser motivo de editorial do jornal O Globo nesta terça-feira (3). É por isso mesmo que Temer já pré-degolou do cargo de Ministro da Justiça Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, criticado por procuradores da Lava Jato. Parece que o caminho para Temer conseguir se manter no poder, sem voto e com uma investigação ainda mirando no seu partido, vai ser uma trilha estreita em meio à selva triste. Ao seu lado, Temer vai poder contar com as Olimpíadas, as eleições municipais e o próprio julgamento de Dilma para jogar a sua cortina de fumaça e realizar sua "ponte para o futuro".