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Música

Os Caras Por Trás do Twitter ‘DJs Complaining’ Analisam o DJ Mais Reclamão do Mundo

Quem é e o que faz o DJ Chuckie, que contabiliza mais de 500 mil seguidores no Twitter e não para de reclamar de coisas ordinárias como o aluguel dos piores jatinhos do mundo.

DJ Chuckie (foto por RJ Schmidt via)

Olá, somos o DJs Complaining. Talvez você já conheça nosso trabalho. Ganhamos certa fama inesperada na internet quando retuítamos as reclamações de DJs no Twitter. Depois disso escrevemos uma coluna intelectualmente desafiadora ainda que hilária para um veículo musical norte-americano, até que nos mandaram embora por zoar Bem Westbeech, por mais que ele tenha começado. Agora viramos material reciclado para sites imbecis em busca de cliques.

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Mas antes dos artigos e editoriais, nosso trabalho era simples: dar uma sacada em umas contas no Twitter de DJs até que achássemos uma reclamação deles sobre o cafezinho, e então dávamos RT. Pouco depois não precisamos nem fazer isso mais; o pessoal de bem da internet começou a mandar as reclamações direto pra gente, citando seus DJs favoritos que ganhavam um tempinho nos holofotes da vergonha. A situação complicou mais um pouco quando os DJs começaram a marcar uns aos outros. Isso nos confundia. Estávamos tentando zoar os caras; não era para eles curtirem poxa.

Por algum motivo, o DJsComplaining virou uma espécie de medalha de honra; aparecer no nosso Twitter mostra não só que você é bem-sucedido o suficiente para levar uma vida glamorosa com viagens de avião e ressacas acumuladas, você também é conhecido o bastante para ser retuítado. Subsequentemente, nos vimos na bizarra posição de ter que distinguir entre os reclamões sinceros e aqueles que buscavam um espacinho lucrativo no DJsComplaining, o que foi ficando cada vez mais difícil, ainda mais quando ficou claro que não fazíamos a menor ideia de quem era essa gente.

Por mais que gostemos de nos considerar relativamente manjões do rolê da dance music, também lembramos dos Vengaboys e não somos norte-americanos, então essa modernidade de "EDM" tem pouco apelo com a gente. Claro que reconhecemos uma boa reclamação quando vemos uma, mas nos peça pra falar qualquer coisa sobre 80% dos DJs retuítados além de "é um DJ" ou "ele é um reclamão do caralho" e não saberemos o que te dizer. Ao clicar no perfil de um reclamão muitas vezes não temos ideia se é um moleque espinhento de 15 anos com 70 seguidores ou alguém um pouco menos espinhento de 18 anos com 700 mil seguidores.

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Por mais que o fato de não estarmos familiarizados com a obra de Firebeatz ou R3HAB ou Alopecia Key$ não tire nosso sono à noite, começamos a sacar que essas pessoas talvez sejam mais que nomes em uma rede social – que sua legião de seguidores no Twitter pode não estar os acompanhando só para ler sobre voos atrasados e wi-fi ruim. O apelo mesmo deve ser a música, e queríamos saber o porquê.

Seleção de alguns tuítes do DJ Chuckie

O lugar que pareceu mais certo para se começar essa investigação foi a conta do DJ Chuckie. Possivelmente nosso reclamão mais indicado, Chuckie é responsável por pérolas como: "Preciso atualizar meu rider porque mandaram uma porra dum Prius pra me pegar hoje" e "Ninguém me vence nessa de alugar o pior jatinho". Coisa fina. Ele tem 579 mil seguidores. Nunca ouvimos falar do cara, e botamos fé que você também. Ou não?

Uma espiadela no seu Twitter revela que Chuckie é um DJ e produtor de Amsterdã que quase sempre está de boné. Aos 36 anos de idade, ele é mais velho que boa parte de nossos outros bodes expiatórios, mas em grande parte representa perfeitamente a noção bizarra que essa galera tem de achar que merece alguma coisa que conhecemos tão bem depois de tanto com o DJsComplaining. Como a maioria dos feeds que examinamos, não há qualquer sinal de paixão pela música ou qualquer coisa além de falar de si mesmo, encher a cara e ficar bicando vaporizadores. Talvez seja algo planejado. Talvez o cara se separe de sua arte para que uma coisa não interfira na outra. Talvez seu sucesso possa ser explicado por seu talento e tanta reclamação perdoada pelo mesmo motivo. Afinal, todos os gênios têm um quê de grandiosidade, certo?

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Para se ter uma ideia de qual é a do autoproclamado "Rei do Dirty Dutch", decidimos ouvir sua faixa mais popular no YouTube, "What Happens in Vegas, Stays in Vegas", de 2011. O título por si só é EDM clássico, uma daquelas frases montadas de qualquer jeito que são gritadas nos falantes de forma monótona antes de cada drop; algo destituído de conteúdo o suficiente para não significar nada, mas memorável o suficiente para entrar na cachola cheia de MDMA do cidadão comum por tempo o bastante para que ele vá até um laptop e compre a música no iTunes.

O título fica ainda mais sem sentido quando você assiste o vídeo no YouTube: claramente o que rola em Vegas não fica por lá, sendo tudo documentado arduamente pelo pobre câmera de Chuckie e então editado às pressas na forma de um clipe de cinco minutos antes de ser lançado para o mundo inteiro ver. E caso você esperasse alguma devassidão, coisa que o título dá a entender, o que rola em Vegas é o Chuckie lá trás tocando e apontando pro teto sem razão aparente, e por vezes, meio entediado dentro de um táxi.

Assista ao nosso documentário 'Big Night Out: Ibiza'

A faixa em si é também não tem nada demais; três loops diferentes do GarageBand coladinhos com o ocasional crescendo trance. O "drop" é isso, uma descida em um abismo invernal de sintetizadores de duas notas e a mesma batida anêmica durante toda a música, conduzindo-a.

Esta escassez toda fica ainda mais confusa quando você vê que foram listados três compositores nos créditos da música. Três! Mal dá pra separar três elementos na faixa toda. Isso pode ser sinal de forças maiores trabalhando aqui, que por trás das melodias de ninar e batidas rudimentares há algo a mais; no sentido de que a faixa parece ter sido composta em 20 minutos entre as refeições em um voo transatlântico quando na verdade foi montada meticulosamente em uma espécie de fábrica de testes de EDM na zona rural texana, onde coelhos lobotomizados são trancados em jaulas com luz estroboscópica, forçados a beber energético e a ouvir trance TUTZ TUTZ de uma só nota para então descobrirem o que faz com que se perca o juízo imediata e catastroficamente. Quando eles finalmente pulam e apertam a alavanca "repetir", apesar de saberem que aquilo levará um choque elétrico perigoso, é aquele o som.

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Chuckie e seus sinistros "co-compositores" vivisseccionistas podem seguir experimentando com os pobres coelhinhos, olhos girando e sangue escorrendo de suas pobres orelhas, com a satisfação de saberem ter encontrado algo que a molecada vai pirar.

Talvez julgar alguém com base em uma faixa de electro lixosa de quatro anos de idade seja injusto. Afinal, todo produtor tem um ou dois esqueletos no seu armário – Butch Vig provavelmente lançou umas faixas de skweee que espera jamais encontrar no YouTube. Dizem que você é tão bom quanto seu último jogo, então passamos pro mais novo lançamento de Chuckie, "Traphall EP", para ver como sua arte havia se desenvolvido.

Ninguém pode acusar Chuckie de não acompanhar os novos tempos, e ele mostrar um compromisso incrível nisso de correr atrás de gêneros que foram populares há dois anos atrás. O "Traphall EP" impressionantemente apresenta um misto de trap e dancehall. Porém, ao ouvir o som, fica claro que Chuck não sabe bem o que é trap, o que não é de assustar, já que ele tem 36 anos. Qualquer pulinho no Soundcloud mostra que o pré-adolescente médio com um Samsung Galaxy consegue imitar de forma bem-sucedida os dois principais elementos do trap – um batidão 808 e um chimbal barulhentão que juntos soam como se uma chinchila os tivesse programado andando em cima de um teclado muito quente. "Traphall" não tem nada disso. Não mesmo, sabe Chuckie, o que você fez aqui Chuck – e é um erro muito simples de se cometer, saiba disso – é que você mandou um dancehall escroto com vocais roubados de uma coletânea de bashment.

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Ou seja: nossa pesquisa não sugere que DJ Chuckie seja mestre em seu ofício. Ele não está lançando nada inovador e ninguém vai escrever artigos de 1.500 palavras sobre ele, além da gente agora. Mas botamos fé que Chuckie não está nem aí. Ele é um DJ de carreira que sabe que tem muita grana pra se ganhar por aí pulando de uma cena pra outra, lançando qualquer merda que a galera esteja ouvindo pra "tomar uma bala" esse ano. Ele consegue shows e é pago assim, tudo de bom pra ele. Além disso, alguém tem que ficar ali no palco atrás dos CDJs fazendo caras e bocas, pulando feito uma criança que precisa mijar – e pode muito bem ser o velho Chuckie aqui.

@DJsComplaining

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Tradução: Thiago "Índio" Silva