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Μodă

Os Cholombianos

O distinto visual dos fãs de cumbia da classe trabalhadora de Monterrey não é nem mexicano, nem colombiano

Fotos por Stefan Ruiz

ENRIQUE “PELÓN” OLVERA

Um pequeno bordel e camelôs vendendo DVDs piratas, filmes pornôs caseiros e camisas Polo falsificadas dominam os arredores da “Embaixada Colombiana” em Monterrey, México. A Embaixada é uma lojinha na Rua Revolución, que pertence a um sujeito chamado Mario Durán e vende tudo quanto é quinquilharia importada da Colômbia: camisetas, adesivos com a inscrição “Eu [coração] Barranquilla”, bandeiras, chaveiros, pinturas areografadas de paisagens tropicais, chapéus de palha, tambores, guacharacas e – acima de tudo – CDs de cúmbia. Desde os anos 1960, o povo de Monterrey (principalmente os habitantes dos bairros operários de La Independencia e La Campana) dança ao som da cúmbia colombiana. Mas como a cúmbia ficou tão popular nessa cidade industrial é uma questão controversa. Alguns dizem que foi por conta de um grupo de trabalhadores que emigrou para lá e certa vez convidou alguns colombianos para passar o Natal em Monterrey, e que eles levaram alguns discos da sua terra para tocar na festa. Outra versão, que a maioria dos locais com quem conversei desmente com veemência, afirma que os discos chegaram ao México junto com carregamentos de cocaína destinados a abastecer o mercado dos EUA. O motivo mais plausível, e o mais sem graça, é que os sonideros locais (DJs com sistemas de som portáteis) começaram a comprar discos colombianos na Cidade do México simplesmente porque gostavam desse tipo de música. Um desses sonideros em particular, Gabriel Dueñes com seu Sonido Dueñes, é tido como o pai da cúmbia de Monterrey. Gabriel, que hoje tem uns 60 anos, tem uma barraquinha onde vende camisetas, CDs piratas com capas xerocadas e suas próprias mix tapes. Ele me contou que durante uma festa em meados dos anos 1960 seu toca-fitas superaqueceu e a música começou a ficar mais lenta. A partir desse dia, as pessoas começaram a pedir para ele tocar essa versão mais cadenciada, e assim surgiu a chamada cumbia rebajada. De acordo com Toy Selectah, um nativo de Monterrey que é praticamente a versão mexicana do DJ Diplo, essas cúmbias lentas foram a base para a cena que o DJ Screw criou em Houston nos anos 90, o que faz sentido já que milhares de imigrantes de Monterrey viviam por lá na época. Ao longo dos anos, à medida que a cúmbia de Monterrey foi ganhando características próprias, surgiu um visual entre seus ouvintes da classe trabalhadora que não é nem mexicano nem colombiano. Na verdade não é de nenhuma nacionalidade. Todo domingo à tarde, depois de dançar o fim de semana inteiro nos bares e casas noturnas da cidade, uma porção de “colombianos” mexicanos se reúne em frente ao 7-Eleven que fica no térreo do Edifício Latino, no centro de Monterrey. Por influência dos cholos [gângters mexicanos] de Los Angeles e de alguma idealização mítica da Colômbia tropical, eles usam camisas enormes de estampa havaiana ou xadrez por cima das calças Dickies mais largas que você já viu na vida. As calças, sempre que possível, combinam com os tênis Converse e até com os cadarços (um garoto que conhecemos tem quatro pares de All Star com sete cores de cadarço diferentes), e seus bonés personalizados são justos o bastante para não cobrirem toda a cabeça, apenas se equilibrarem cuidadosamente sobre suas franjas. Cada milímetro do boné é coberto por inscrições aerografadas ou bordadas, que incluem o apelido de seu dono, o nome de sua namorada, o nome de sua gangue, a estação de rádio que ele ouve, o bairro onde mora etc. Alguns “colombianos” também usam ícones religiosos pendurados no pescoço, com imagens de São Judas Tadeu, da Virgem de Guadalupe, da cada vez mais popular Santa Muerte e até de Pancho Villa. No início, eles eram similares aos escapulários usados por freiras e monges, mas logo evoluíram para gigantescos cartazes feitos à mão, usados para transmitir o mesmo tipo de informações presentes nos bonés. Nomes de gangues como Los Temelocos, La Dinastia de los Rapers, Foxmafia e Latinaz aparecem bordados em letras garrafais em pedaços de tecido de 30 x 30 centímetros. Um dos garotos que vimos tinha o número 10.90 bordado no escapulário. Quando perguntei se era uma estação de rádio da qual ele gostava, ele me contou que se tratava do código do metilbenzeno, a matéria-prima responsável pelo barato que se sente ao cheirar benzina. Esses escapulários são interessantes, mas o aspecto mais importante da moda dos “colombianos” é seu corte de cabelo original, inspirado, em doses iguais, no hip-hop norte-americano, no reggaeton porto-riquenho e nos antigos retratos de guerreiros astecas. A parte de trás é toda raspada, exceto pelo rabicho na parte de baixo. Na parte de cima o cabelo é curtinho e espetado, com franjas emo da era dos romulanos cuidadosamente aparadas. E, o mais importante, eles têm costeletas no estilo orelha de cachorro que começam no topo da cabeça e se mantêm coladas no rosto graças a quantidades absurdas de gel. Eles chamam isso de Estilo Colombiano. A cena colombiana de Monterrey, apesar do cheirador ocasional de solventes, é bem tranquila. Por exemplo, a garotada que fica no 7-Eleven vai até lá porque sua estação de rádio preferida, a XEH 1420 AM, tem como sede o 20º andar do edifício em que está localizada a loja. Eles usam um telefone público para ligar para a emissora a tarde inteira para pedir músicas e dedicá-las a uma lista de até 60 nomes. Enquanto outros gêneros musicais do México, como os narcocorridos, são hinos de exaltação aos traficantes locais e seus feitos violentos, as músicas ouvidas pelos “colombianos” são sobre paz, amor e amizade. Porém, como em qualquer outro lugar do México, existe muita tensão em Monterrey. Os cartéis de drogas usam trailers para bloquear as avenidas principais, as explosões de granadas estão se tornando cada vez mais frequentes e algumas casas noturnas antes frequentadas pelos “colombianos” foram tomadas pelos traficantes. Todo mundo anda no fio da navalha e, em cidades como Monterrey, em que a divisão de classes é marcante, as pessoas que se vestem de forma diferente muitas vezes são discriminadas. Vários garotos que conhecemos contaram que já foram espancados e tiveram suas costeletas grudentas cortadas com facas ou tesouras por militares ou policiais. Não foram poucos os que rasparam a cabeça e pararam de usar calças largas para escapar dessa perseguição. Mas, apesar das adversidades, muitos “colombianos” não desistem, melecam suas costeletas de comprimento descomunal com gel e dançam a noite inteira na batida enlouquecedoramente lenta de suas cúmbias.

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DIEGO

CRISTIAN “CLON”                                                  MICHEL

SAMUEL “SAMMY” MARTINEZ

JUAN “EL TOPO”

ESTEBAN

SERGIO “CHEKO KOLOMBIA” TORRES        ELIZABETH “BEBA” FUENTES

JUAN ANTONIO “TONY” ZAVALA

Mais cholombianos?

Picture Perfect: Stefan Ruiz

Amanda Watkins Ama os Cholombianos