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Vice Blog

Os Federais Norte-americanos Estão Tentando Dizimar a Irmandade Ariana do Texas

Enquanto isso, ela se espalha para além do sistema prisional dos EUA.

Tatuagem associada à gangue de prisão Irmandade Ariana original. Foto via Wikimedia Commons.

Na semana passada, sete membros da Irmandade Ariana foram condenados à prisão, o resultado mais recente de uma ofensiva contra a gangue supremacista branca. Esse combate teve início em Houston, no ano passado, com uma acusação federal de extorsão. Mas, enquanto os federais norte-americanos estão trabalhando para acabar com o coletivo racista, os tentáculos da irmandade continuam se espalhando muito além do sistema prisional dos EUA.

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A Irmandade Ariana do Texas (IAT) surgiu nos anos 80, adotando o nome de uma notória gangue de prisão da Califórnia fundada décadas antes. A lenda é que os detentos do Texas pediram permissão aos membros originais da gangue para começar as atividades em seu ramo.

A IAT, que começou a ser temida pelos assassinatos brutais que os membros conduziam nas guerras contra os rivais dentro de prisões, era composta por grupos como o Aryan Circle e a Texas Mafia. No entanto, os membros libertados se organizaram também nas ruas e investiram no negócio de metanfetamina. A área de Dallas e Forth Worth é a fortaleza do grupo, mas eles também estão presentes em Houston e San Antonio. Apesar de a maioria dos fundadores e membros mais antigos ainda estarem presos, o nome e a reputação deles provocam terror dentro e fora do sistema correcional norte-americano. A gangue é conhecida por assassinatos de vingança e pelo lema: "Deus perdoa; os irmãos, não".

Como a maioria das gangues de prisão, a irmandade opera sob a política de "blood in, blood out" (o candidato a membro precisa derramar sangue para entrar e só pode sair da gangue morto), e os chefes são bandidos de carreira que atuam como generais, emitindo ordens de suas celas em unidades de segurança máxima.

"O importante é a brutalidade. Os mais violentos são os mais respeitados. A única inteligência necessária é a de como conseguir drogas; fora isso, é só uma questão de músculos", me contou um detento de prisão federal que vamos chamar de Crazy Billy. CB é um nativo de Ohio de 35 anos, preso por roubo a banco. Encarcerado há 12 anos, ele já fez muitos negócios com a IAT e outras gangues supremacistas brancas.

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"As pessoas se juntam a gangues, porque querem ser parte de alguma coisa. Ou porque são muito fracos para se defender sozinhos. Então, eles querem estar com quem estiver no controle da ala. Já vi caras de Nova York se aliando à IAT, porque eles estavam no comando", afirma Crazy Billy. "Não gosto dessa gangue. Já tive problemas com eles. Mas sei de uma coisa: isso faz as outras raças respeitarem mais os brancos. Porque eles sabem que, pelo menos, esse grupo vai agir."

Enquanto a gangue cresce e se espalha pelo mundo, as operações de rua vêm se expandindo e os federais têm estabelecido várias acusações contra o grupo. Esse último caso de extorsão vai até o começo dos anos 80 e lista vários assassinatos, ataques e sequestros nas ruas e nas prisões, juntamente com acusações relacionadas à distribuição de metanfetamina. Mas, nessa última rodada de condenações, boa parte da liderança da gangue foi desmantelada.

"Sei que, no sistema estadual, a IAT está em confinamento permanente. Os caras não estão felizes com as acusações – isso corta parte da comunicação deles", frisa Crazy Billy. "A maioria deles quer ser admirada. Eles estão sempre se metendo nos assuntos de todo mundo. Eles querem estar envolvidos no que estiver acontecendo. Por quê? Porque eles não têm nada melhor para fazer. Eles não estão tentando melhorar. Eles estão tentando: a) conseguir mais poder; e b) conseguir mais dinheiro."

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Apesar de a promotoria federal dos EUA ter conseguido 73 condenações, nenhum membro da gangue foi acusado por crime de ódio. Em vez disso, os federais foram atrás da gangue estritamente por empreendimentos criminosos. A Irmandade Ariana, claro, possui crenças baseadas em raça, mas mostrou repetidamente que está disposta a fazer negócio com grupos latinos, negros e quaisquer outros. A única cor que eles realmente consideram sagrada é o verde.

"Não conheci muitos deles que fossem realmente apegados a crenças raciais. A maioria é nazista só nas tatuagens e só se importa consigo mesmo e com a gangue", diz Crazy Billy. "Eles não deixam outras raças atacarem ninguém também. Só se for do interesse deles. Eles não veem problema em trabalhar com outras raças. Eles também se aproveitam de brancos mais fracos. No Oeste, a IAT cobra dos brancos não membros para que eles possam andar pelo pátio."

O Departamento de Justiça dos EUA se referiu às últimas condenações como a "dizimação da liderança, além da prisão de membros violentos da gangue e associados". O líder do grupo, Larry "Slick" Bryan, 52 anos, foi sentenciado a 300 meses numa prisão federal. Mas Crazy Billy oferece uma perspectiva diferente.

"Quando a IAT assume, eles estão totalmente no controle. Se alguma merda racial acontecer… todo mundo se fode", ele alerta. "A IAT, na Califórnia, começou protegendo os caras brancos. Quando sentiram o gosto do poder, eles simplesmente viraram a mesa e começaram atacar sua própria espécie."

Então, mesmo que a safra atual de líderes da Irmandade Ariana do Texas tenha sido podada, o tribalismo dentro do sistema prisional norte-americano – e a habilidade da gangue em fazer dinheiro do lado de fora – garante que o grupo não vai desaparecer tão cedo dos EUA.

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Tradução: Marina Schnoor