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Os Franceses Não Querem um Templo Mórmon na França

A pequena cidade francesa de Le Chesnay deve se tornar o lar do primeiro templo mórmon da França. Mas muita gente não está curtindo muito essa ideia.

Foto cortesia de Temple Mormon Paris

A pequena cidade francesa de Le Chesnay não é muito conhecida por nada além de seu shopping center chato. Mas isso está prestes a mudar – um terreno de sete mil metros quadrados, a dois quilômetros de distância do Palácio de Versalhes, deve se tornar o lar do primeiro templo mórmon da França. Além do templo (que deve ser completado entre 2016 e 2017), um estacionamento subterrâneo, jardins públicos e um hotel também serão construídos para receber os devotos mórmons do mundo todo.

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Achei que seria até legal, mas muita gente não curtiu a ideia, então tentei conseguir uma entrevista com alguém do alto escalão da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Infelizmente, o escritório de mídia deles ficou preocupado em “chocar” os devotos com “os artigos relacionados a sexo da VICE”, e meu pedido foi negado. Então, para discutir o processo de tornar o mundo um lugar mais confortável para os mórmons, entrei em contato com Philippe Brillault, o prefeito de Le Chesnay.

VICE: Você autorizou a construção do templo mórmon no final de 2011, mas não estava a favor do projeto no início.
Philippe Brillault: Assim como muitos franceses, eu costumava pensar nos mórmons como uma grande seita. Eu tinha muito preconceito contra eles, achava que eram uma comunidade pequena e reclusa, e estranha para mim. Para ser honesto, quando você é prefeito e precisa lidar com mórmons, seu primeiro pensamento é “ótimo, outra enxurrada de controvérsia”.

O que fez você mudar de ideia?
Finalmente, concordei em me encontrar com alguns de seus representantes para entender quem eles eram, o que queriam e o que estavam fazendo realmente. De qualquer maneira, o único jeito de evitar que o templo fosse construído era comprando o terreno – o que estava fora de questão. Então, fizemos algumas pesquisas e percebemos que eles não são um culto, eles são como todo mundo. As pessoas os acusam de poligamia, mas eles não fazem mais isso. E não acho que eles façam mais proselitismo do que qualquer outro grupo.

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Philippe Brillault – Imagem via

E como você já devia esperar, muitos contestaram sua decisão. Algumas pessoas fizeram até petições para parar a construção do templo.
Os primeiros a contestar minha decisão foram meus oponentes políticos. Eles deixaram todo mundo irritado e jogaram as pessoas contra os mórmons. Mas a única petição que me interessava era a dos moradores de Le Chesnay. Organizamos uma reunião entre a associação de moradores e os mórmons, para discutir o projeto e tentar melhorá-lo. As objeções eram, basicamente, politicamente motivadas ou relacionadas ao prédio do templo em si. Resolvemos os problemas do prédio e, falando politicamente, fui eleito no primeiro turno da eleição municipal com 60% dos votos, então assumi que não haveria problema.

Algumas associações argumentaram que os mórmons têm desvios sectários. O que você acha disso?
Em relação a quem fez essas declarações, fico imaginando se essas pessoas pesquisaram o assunto direito. Associações oficiais, que abordam de maneira séria o fenômeno das seitas, nunca discutiram isso comigo. Associações internacionais de verdade nunca me escreveram. Falei com o chefe de departamento, entrei em contato com o bispo e nenhum deles parecia ter nenhum grande problema com isso.

Algumas das práticas deles ainda são questionáveis, como o fato de os mórmons terem que dar 10% de sua renda para a igreja.
E o imposto de igreja? Acho que o bispo ficaria feliz se os católicos tivessem que dar 10% de sua renda. Todos são livres para fazer o que quiserem. Se você é uma pessoa livre que dá 10% do seu salário para a sua igreja, isso significa que você aceitou que tem que fazer isso.

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Você é católico praticante?
Sim, claro – sou profundamente religioso. Mas acontece que adoramos o mesmo Deus. Posso ir a uma sinagoga ou a uma mesquita e orar para Deus como qualquer um. Podemos não ter a mesma percepção da face dos nossos deuses e de sua maneira de ser, mas, provavelmente, só vamos entender isso na vida após a morte.

Sua decisão foi religiosamente influenciada?
Não, sou um representante do secularismo e respeito cada ser humano, se suas ideias forem compatíveis com as regras da República. O projeto do templo mórmon está em plena conformidade com essas leis. Como devoto, acho que os católicos não têm que temer os mórmons numa cidade onde há três igrejas que ficam lotadas todo domingo. Quando confia em si mesmo, você não tem medo de competição.

Qual o impacto que você espera que o templo tenha na sua cidade?
Ainda não sei. Perguntei a eles se haveria benefícios no turismo. Nos anos 1970, as pessoas vinham para cá visitar nosso shopping, depois disso, vinham pelo aeroporto Orly – será que elas vão visitar o templo mórmon no futuro? Ainda não sei. Mas acho que todos ficarão satisfeitos em ter um monumento para olhar.

Estamos falando de um projeto que custará em torno de €80 milhões. Não é um tanto excessivo para uma cidade de 30 mil habitantes?
Não se trata de dinheiro do contribuinte, então não vejo problema. Os americanos e aqueles que investiram no projeto são livres para fazer o que quiserem. Considero isso uma questão privada. Fico até tentado a dizer que isso vai beneficiar a economia francesa. Pelo menos esse projeto está empregando trabalhadores franceses.

Mas sua cidade precisa de um templo mórmon?
A resposta é clara: não. Mas é tudo relativo. Esse projeto será uma desvantagem para a cidade quando estiver concluído? A reposta também é não.

Obrigado, prefeito.

Tradução: Marina Schnoor