Os Moradores do Terreirão Pegam Água Potável num Rio Cheio de Jacarés

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Os Moradores do Terreirão Pegam Água Potável num Rio Cheio de Jacarés

O fotógrafo Ariel Subirá esteve por lá e mandou algumas fotos assustadoras dos moradores levando galões e baldes à beira do canal para tentarem descolar um banho nesse calor de 40°.

Todas as fotos são do Ariel Subirá.

Não é uma tristeza sem limites quando falta água na sua casa e você precisa correr para comprar um galão para tomar banho? Imagine agora estar sem água desde o Natal e precisar pegá-la em um rio bastante poluído com esgoto, lixo doméstico e, ainda por cima, lotado de jacarés.

Pois é, esse Pitfall da vida real existe e está rolando agora mesmo com os moradores da comunidade Terreirão, situada no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro. Lá, atualmente a única maneira de se conseguir água potável é numa bica no Canal das Taxas.

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O fotógrafo Ariel Subirá esteve por lá e mandou algumas fotos assustadoras dos moradores levando galões e baldes à beira do canal para tentarem descolar um banho nesse calor de 40°. Por conta disso, fizemos uma apuração por aqui para descobrir por que isso está acontecendo na comunidade.

Embora não pareça muito seguro ficar a menos de três metros de um animal com uma arcada dentária massiva, os jacarés-de-papo-amarelo não ligam muito para humanos: as chances de ataque, segundo o biólogo Mário Moscatelli, são mínimas.

Na verdade, o Rio das Taxas faz parte do habitat natural deles. De acordo com Antonio Melo, um dos responsáveis pelo Movimento de Despoluição do Canal das Taxas, os jacarés se alimentam de peixes, mas, devido à transformação do Canal em despejo de esgoto, o alimento vem se tornando cada vez mais escasso. "Eles vão onde está a comida. As pessoas da comunidade pegam pão ou outros alimentos e jogam para eles. É por isso que existe uma concentração deles na área", explica.

Parece que o grande vilão do canal não são os jacarés, mas, sim, o esgoto não tratado que acaba sendo jogado ali. "Isso vem de duas fontes. Existe ligação clandestina? Existe, mas são poucas. O maior poluidor do Canal das Taxas chama-se Cedae. Ela recolhe o esgoto do Recreio e, em vez de jogar lá para a Barra, na estação de tratamento, ela despeja o esgoto no canal das Taxas, se tornando uma grande vala a céu aberto", conta Antonio.

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Segundo ele, são cerca de 6 mil jacarés-de-papo-amarelo que vivem no conjunto de lagoas no Recreio; desse contingente, estima-se que 300 passem pelo Canal das Taxas. Embora a presença deles no canal possa causar espanto, o maior problema decorrente do despejo de esgoto é que o local se torna ideal para a proliferação de mosquitos, que dominaram o Recreio dos Bandeirantes.

A Subprefeitura da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá comunicou à VICE que, depois de ser notificada que os moradores alimentavam os animais, resolveu, juntamente com a Secretaria do Meio Ambiente, gradear o local e que o trabalho deverá terminar dentro de 30 dias.

Além disso, a Subprefeitura informou que também existe um grupo chamado "Guardião das Águas", responsável pela limpeza do canal e pela retirada das gigogas, plantas que servem para filtrar a água, mas que se tornam prejudiciais quando há um excesso de materiais orgânicos. Antonio rebate e diz que a presença dos guardiões do rio não é constante. "Eu adoraria, são pessoas batalhadoras e humildes", ele frisa. "Mas não adianta retirar as gigogas. Elas vão voltar por causa do esgoto que é despejado lá."

Já a Cedae declarou que começou a receber as reclamações da falta d'água há duas semanas e que essa falta não é contínua. "A comunidade do Terreirão é abastecida, mas o fornecimento de água pode estar sendo afetado pelo elevado consumo (nesse período de verão, o consumo é 30% superior à média). O abastecimento em locais considerados 'ponta do sistema', como alguns pontos do bairro do Recreio dos Bandeirantes, pode ficar sujeito a flutuações quando ocorre redução da pressão na rede", alegou a companhia.

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