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Paul McCartney, DLC e o Futuro dos Video Games

O ex-beatle se interessou em participar da composição da trilha sonora do Destiny já nos seus primeiros estágios de desenvolvimento junto com os responsáveis pela trilha sonora do jogo e também da série Halo. Ficou meio breguinha, mas rolou.

Em 1983 (um ano antes do seminal album do Van Halen) o guitarrista, compositor, produtor musical e inovador Frank Zappa enxergou o futuro. Como a pobre industria fonográfica estava sendo afetada pela recente popularização da tecnologia de gravação de fitas cassete, Frank pensou em uma nova forma de não apenas aproveitar esta nova tecnologia como também incentivar seu uso de maneira legal. O que ele pensou em fazer foi basicamente inventar o serviço de streaming de música antes mesmo de a internet existir. Nesse serviço, por uma quantia mensal o amante da boa música poderia, depois de comprar um aparelho que decodificasse sinais de telefone ou TV a cabo em audio gravável em fitas cassete, acessar um catálogo armazenado em servidores das gravadoras. A partir da transmissão digital o assinante poderia gravar as músicas em fita para ouvir depois, Zappa até pensou em usar os canais de TV a cabo que não tinham sinal algum para mostrar as capas e encartes dos discos disponíveis no catálogo. Não preciso dizer que esta inovadora, revolucionária e consideravelmente simples forma de distribuir música acabou não vendo a luz do dia e só agora o streaming de música consegue existir direito.

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Consigo lembrar de outro serviço mais ou menos parecido, que também foi criado cedo demais para seu próprio bem, o pouco lembrado Sega Channel, provavelmente a primeira plataforma de distribuição digital de jogos para console. Ele funcionava mais ou menos assim: você comprava o aparelho que ligava o seu Mega Drive na TV a cabo e a partir de uma assinatura mensal você tinha acesso a um catálogo de jogos que podia baixar direto no cartucho esquisito onde entrava o cabo – quem já jogou Sonic 2 em cima de um Sonic & Knuckles em cima de um Game Genie sabe que a Sega gostava de torres esquisitas de cartucho. O problema é que o serviço chegou tarde demais para a geração 16bits, nos idos anos de 1994, quando a prioridade da companhia já era o Sega Saturn, que também não deu muito certo, mas enfim, só queria comentar aqui que a Sega inventou a internet antes da internet. Alguns jogos tiveram modificações especiais desenvolvidas para alterar a jogabilidade de um jogo já existente, como por exemplo a modificação do clássico Earthworm Jim, mostrando um pouco da potência que o download de conteúdo novo poderia ter nos jogos eletrônicos

Essa semana duas novidades surgiram das escuras profundezas do espaço sideral para iluminar o complexo (nem tanto) mundo de um dos jogos mais jogados (pelo menos por mim) dos últimos tempos, Destiny. Como eu já comentei por aqui, eu fiquei meio arara quando comprei o jogo e dentro da propria caixa dele já vinha propaganda não de uma, mas duas expansões ou, como costumam chamar hoje em dia, DLCs, do inglês Downloadable Contents. A primeira vez que vi o advento das expansões foi na época dourada da Blizzard, empresa responsável pelas séries Warcraft, Diablo e Starcraft, além de outras pérolas. A primeira expansão que eu comprei foi a confusa e estranha e Hellfire, expansão oficial do Diablo, o primeiro (expansão essa que foifeita por outra empresa, no caso a falecida e recentemente ressuscitada Sierra). Outra empresa comprar os direitos para fazer e vender a expansão era uma prática comum nos tempos antigos (anos 90), mas a partir de seu próximo título principal, Starcraft, a galera da Blizzard começou a ver o potencial que existe no desenvolvimento e venda da continuação do jogo, que pode acrescentar muitas horas no tempo de jogo dos viciados e encher suas carteiras dando mais conteúdo para um jogo que já existe.

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Seis anos após a expansão Starcraft: Brood War, a responsável por transformar a Coréia do Sul na capital mundial do Starcraft, depois de mais dois jogos e duas expansões, a Blizzard inventou um jeito mágico de ganhar dinheiro chamado World of Warcraft. Nesse jogo, o MMO de maior sucesso da historia da humanidade, a empresa não apenas conseguiu ganhar dinheiro com a venda inicial do jogo base, chamado por muitos de vanilla, e com as expansões, mas também com um sistema de assinatura que você tinha que pagar para a continuidade da manutenção e aperfeiçoamento normal do jogo. O jogo não dava dinheiro mais apenas com a venda do produto, mas na contratação do serviço.

Bom, e o que o Destiny tem a ver com isso?

O jogo original, ou vanilla, foi lançado três meses atrás, e a primeira expansão, A Escuridão Subterrânea, que acabou de ser lançada, está causando frisson entre a meninada que já comprou e angústia entre quem não a adquiriu. Em diversas declarações oficiais, a Bungie, empresa responsável pelo jogo, já pronunciou a frase: "O jogo Destiny não é um MMO". Mas na prática o pessoal que joga o negócio ainda está em dúvida, ainda mais com algumas coisinhas que aconteceram agora com a expansão, em especial com um pequeno detalhe. As novas fases de história e assaltos (basicamente missões que você tem que repetir quinze mil vezes semanalmente) são obviamente exclusivos da expansão, mas acontece que com isso eles travaram o conteúdo que já estava disponível para quem comprou o jogo sem a expensão, já que toda semana há um assalto semanal que pode dar itens fuderosos e bônus de experiência para o resto da semana. Com o acréscimo dos assaltos novos que estão bloqueados para quem não comprou a expansão, quando as missões do assalto são as novas quem não tem a expansão simplesmente não pode jogá-los. Se as expansões continuarem vindo em ritmo acelerado, como essa primeira, e o conteúdo novo bloquear de certa forma a experiência de quem já tinha o jogo eu acho na minha humilde opinião que o jogo está estabelecendo um tipo de assinatura de facto e sim, e virou um maldito MMO.

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Não acho absurdo o jogo ser um MMO na verdade, mas preferia que a galera fosse um pouco mais aberta com suas escolhas e não ficasse nesse não fode nem sai de cima tão comum a grandes empresas. Eu jogo bastante o jogo e não acho mais um absurdo pagar por um serviço como eu achava na adolescência, faz parte inclusive da jornada em direção ao ficar grandinho, pagar as suas contas, eu pago até a música que ouço hoje em dia em um serviço bem parecido com o idealizado por Frank Zappa, não compro discos mas pago pelo acesso a eles. E já que estamos falando de música qual era mesmo a segunda coisa que veio das negras profundezas obscuras do sistema solar para assombrar o mundo de Destiny mesmo? Um clipe horroroso de uma música muito, mas muito mais ou menos mesmo, de ninguém menos que Sir Paul McCartney.

Aparentemente do nada, Paul McCartney se interessou em participar da composição da trilha sonora do jogo já nos seus primeiros estágios de desenvolvimento junto com Martin O'Donnel e Michael Salvatori, os responsáveis pela trilha sonora do jogo e também da série Halo, da mesma empresa que fez Destiny. A trilha sonora geral do jogo é bem razoável, embora meio brega, e combina bem com o clima, meio vazio de recheio em si, de jornada épica que Destiny se propõe a fazer. Até aí tudo bem, você controlar seu mago espacial contra hordas de alienígenas monstruosos que tentam com unhas e dentes e garras asquerosas exterminar os últimos vestígios de humanidade do sistema solar, tudo sob uma música empolgadona e a percussão orquestral moendo, funciona. Pensando bem, essa música genérica do Paul com essa letra mais genérica ainda, até que combina bem com a história genérica e insossa do jogo. O que não quer dizer que não pareça que Paul não fazia a menor ideia da história do jogo ao escrever a música e que o jogo, mesmo com a história dúbia e genérica, ainda não seja divertido quando você atira na cabeça de aliens monstruosos. De qualquer forma eu acho que o Tupac conseguiu ser um holograma muito mais vivo do que Sir Paul McCartney em seu mais novo clipe, mesmo com seu holograma sendo projetado diretamente do além.

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