Pesca, Muito Lixo e Pouca Esperança para a Baía de Guanabara

FYI.

This story is over 5 years old.

Fotos

Pesca, Muito Lixo e Pouca Esperança para a Baía de Guanabara

A menos de 500 dias das Olimpíadas, as previsões de que a Baía de Guanabara estaria à pampa para os jogos e para os moradores do Rio começam a esbarrar em montanhas de lixo e litros de esgoto.

Pescadores. Foto: Mauricio Fidalgo.

A preparação para a pesca na beira da praia do bairro Bancários, na Ilha do Governador, Rio de Janeiro, começa cedo: sete horas da manhã. Nem os montes de lixo, os peixes mortos e as moscas atraídas chamam a atenção ou incomodam os pescadores. Os experientes homens do mar afirmam que o acúmulo de lixo se repete em qualquer uma das praias da Baía e que os peixes estão morrendo.

Ecobarreira. Foto: Maurício Fidalgo.

Sem nenhuma esperança de que a Baía de Guanabara será realmente limpa, muitos questionamentos começam a surgir em torno do real legado que as Olimpíadas de 2016 deixarão para a cidade. O ex-governador Sérgio Cabral mantém em sua página a chamada: "Meta é despoluir 80% da Baía de Guanabara até 2016". Apenas 49% da merda foi resolvida – e estamos a menos de 500 dias da abertura dos jogos.

Publicidade

A previsão é de que, em 2016, as provas de vela sejam disputadas na Baía de Guanabara. Nove classes de embarcações devem se aventurar por ali. São elas: RS:X (masculino e feminino), 470 (masculino e feminino), 49er, 49erFX, Laser Radial, Laser Standard e Finn.

Foto: Maurício Fidalgo

Os atletas estão se pronunciando nas redes sociais e na mídia sobre os riscos de se velejar em meio a um mar de lixo e esgoto; além disso, já temos um belíssimo registro de acidente na raia olímpica causado por um batidão em uma caixa de peixe que boiava por ali. Os planos para a despoluição começaram nos anos 90 em uma parceria entre o Japão e o Banco Interamericano de Desenvolvimento e devem se desenrolar para muito além do evento.

A Baía de Guanabara vista bem de longe. Foto: Felipe Larozza

De longe, a vista continua impecável; assim, os turistas do alto do Cristo Redentor podem continuar apontando seus iPhones na direção de um dos cenários mais lindos do Rio - um filtro logo na sequência e o postal está garantido. Lá embaixo, o foco muda. O fotojornalista Mauricio Fidalgo deu um rolê com um grupo de pescadores e depois foi conferir a morada dos urubus e as ecobarreiras da Baía de Guanabara.

Sandro. Foto: Maurício Fidalgo

Quarenta minutos depois de sair da praia, o barco Anjo Lindo, de Sandro Linguiça, de 41 anos, para. Todos ficam de pé à procura de sinais que indiquem peixes grandes, que, ao chegarem próximos à linha d'água, deixam uma marca feita com as barbatanas.

Foto: Maurício Fidalgo

Aquele quase silêncio é quebrado por um grito: "Abre! Abre! Abre!". Os dois barcos até então amarrados se separam e as redes são estendidas pela baía. Num movimento quase que sincronizado, os barcos realizam um cerco e se encontram mais à frente, fechando um círculo com espirais nas pontas internas.

Publicidade

Foto: Maurício Fidalgo

Começa então a "bateção", um trabalho de se enganar os peixes assustando os cardumes para que eles entrem na rede. "A tainha é um peixe esperto; quando ela se assusta, se enterra na lama." Quarenta minutos de espera, e chega a hora de se "meter a mão" e puxar a rede. Nosso barco não consegue nenhum peixe digno do trampo todo. Várias garrafas, sacolas e fraldas foram pescadas.

Foto: Mauricio Fidalgo

Depois de três estendidas de rede, todo tipo de lixo foi pego: placas de eletrônicos, garrafas de vidro e de plástico, sacolas, roupas. O resultado do esforço são oito peixes, somando não mais de 14 quilos, que são vendidos a R$ 12 cada. O valor é dividido entre os quatro pescadores.

Nivaldo e o trampo eterno de "limpar" uma das ecobarreiras. Foto: Maurício Fidalgo

Nivaldo, de 42 anos, está há 10 cuidando dessa barreira de lixo do Canal do Cunha, que fica no Complexo da Maré. Essa é uma das mais antigas ecobarreiras do programa, que agora foi levantado novamente pelo governo.

"Em 10 anos, já tirei muita coisa daqui. Quando bate uma chuva forte, vem uma sujeira de óleo aqui que destrói até as garrafas. Os urubus não saem daqui por causa do monte de bicho morto. Bate uma correnteza e vem tudo parar aqui."

O trabalho de Nivaldo é eterno: o lixo vai e vem todos os dias, mantendo a previsão de que, em 2016, a navegação vai ser de vento em popa em meio a muito lixo e esgoto.

Mais fotos da pescaria e do lixão aqui:

Foto: Maurício Fidalgo

Foto: Maurício Fidalgo

Crew da pescaria. Foto: Maurício Fidalgo

Foto: Maurício Fidalgo

Foto: Maurício Fidalgo

Foto: Maurício Fidalgo

Foto: Maurício Fidalgo

Foto: Maurício Fidalgo