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Por que a Islândia não Merece sua Reputação

Na verdade, o governo do país é bem desgraçado em suas escolhas políticas.

Uma geleira em Eyjafjallajökull, Islândia (foto via Andreas Tille).

Na semana retrasada, o primeiro-ministro da Austrália, Tony Abbott, tomou um merecido pé na bunda. A queda dele me lembrou de toda a merda que o governo australiano conseguiu fazer com ele no poder e de como eles realmente mereceram o que conseguiram, tanto em termos do destino de Abbott como da imagem da Austrália no exterior. Me parece que agora as pessoas do Hemisfério Norte sabem que o governo australiano tem preconceito com os aborígenes e com os refugiados. Alguns até ouviram falar que Abbott negava as mudanças climáticas.

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Isso me faz pensar por que o governo islandês não teve o mesmo destino, já ele tem aprovado muita merda racista.

Desde a reeleição na primavera de 2013, a coalizão conservadora permitiu que o sistema de saúde já sucateado da Islândia virasse pó e agora está se preparando para privatizar a saúde – algo que funcionou superbem em outros países. O governo também supervisionou a tentativa atrapalhada da polícia islandesa de importar submetralhadoras norueguesas – para um país com praticamente nenhum crime com armas –, citando, claro, a "segurança nacional".

As autoridades estão tentando industrializar o interior da Islândia, vendendo ou supervisionando a venda de grandes porções de terra para entidades estrangeiras que planejam construir usinas de energia e refinarias de sílica. Isso combina com a visão da direita islandesa de que nossa economia tem de ser impulsionada pela indústria, uma postura especialmente irritante considerando que as indústrias pesadas contribuem com uns 5% do PIB do país num ano ruim, enquanto o turismo – que é principalmente voltado para a natureza – faz milhões e milhões de dólares todo ano. Ainda assim, os políticos consideram o turismo irrelevante, o que vem resultando na deterioração de marcos nacionais, em um pico nos aluguéis em Reykjavík devido ao estabelecimento não regulamentado de hotéis e na lotação geral da capital, obrigando turistas a ficar em barracas e fazer cocô em público e em propriedades privadas.

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Mas seu desprezo pelo turismo não impediu o pai do ministro das Finanças de monopolizar o transporte entre Reikjavík e o único aeroporto internacional da Islândia. Quem já passou por lá provavelmente ajudou a encher os cofres dele, já que não há transporte público até o aeroporto da capital islandesa.

E também temos racismo. No ano passado, um refugiado nigeriano foi deportado e separado da família depois que um assistente do então ministro do Interior vazou um memorando com informações falsas sobre o cara na mídia, enquanto uma candidata ao conselho municipal ganhou votos dos racistas prometendo parar a construção da única mesquita de Reykjavík.

Eu sei que tudo isso parece pouco – até fofo – comparado com as coisas que o governo australiano fez, porém fico perplexo com quão cego o mundo se mostra diante dos crimes do nosso governo e todo o hype em cima da Islândia – especialmente por causa da nossa política "ultraliberal", que na verdade fica restrita a um ou outro gesto ideológico de um comentarista ou político ocasional sem muito poder.

O ex-prefeito da Islândia usou drag uma vez – e todo mundo ficou achando que tudo é superlegal e fino aqui na Islândia, como se isso fosse um paraíso prafrentex. Ou aquela vez em que cinco banqueiros corruptos foram presos depois de fazer o que todo o nosso setor financeiro vinha fazendo antes da economia entrar em colapso, e um monte de sites caça-cliques publicaram matérias dizendo como tínhamos "deixado os bancos quebrarem" (isso nunca aconteceu) e como "prendemos nossos banqueiros".

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A verdade é que os bancos estão crescendo e lucraram horrores desde o colapso, enquanto o resto do país ainda está tentando se levantar. Todos os erros que levaram à crise sete anos atrás estão sendo repetidos pelos mesmos partidos políticos, os quais, bizarramente, o eleitorado da Islândia escolheu reeleger; enquanto isso, o islandês comum afunda em dívidas, ao mesmo tempo em que o custo de vida sobe com a inflação e os salários continuam os mesmos.

Mas ninguém dá a mínima. As pessoas querem tanto acreditar no mito do "paraíso" esquerdista que preferem não saber a verdade. Um paga-pau médio da Islândia visitando o país é rapidamente inundado com clipes bizarros e matérias fofas sobre como todo mundo aqui "acredita em elfos" (outra mentira) ou como banimos a religião e "acreditamos em nós mesmos" (nossa Constituição ainda garante direitos especiais para a Igreja) – e, assim, fica difícil ver que esse é um lugar real com problemas reais.

Não estou dizendo que você não pode visitar o país e se divertir. Pelo contrário: acho que o único jeito de realmente aproveitar a vida aqui é vir como turista, um não participante da nossa sociedade corrupta. Então, venha injetar seu delicioso dinheiro estrangeiro na nossa economia e ajudar a provar que nosso governo está errado sobre o turismo. Venha ver a natureza antes que ela seja destruída. Venha tomar uns drinques antes que os funcionários das nossas lojas estatais de bebida entrem em greve. Venha ver o show antes que todos os músicos se mudem para o exterior, como eu estou fazendo. Mas venha rápido, antes que as pessoas no comando afundem o país na merda definitivamente.

@sindrieldon

Tradução: Marina Schnoor