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Obviamente, o Protesto deste Domingo Foi Bem Menor

Algo entre 275 e 100 mil pessoas pediram o impeachment da presidente Dilma, "Fora Lula", "Fora PT" e até o Bolsonaro esteve pela Paulista.
Entre 275 e 100 mil pessoas estiveram na Avenida Paulista pedindo o impeachment da presidente Dilma.

A promessa repetida exaustivamente nas redes de que o dia 12 de abril seria maior não se cumpriu. Comparado com o milhão de pessoas que estiveram no protesto do dia 15 de março pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), o deste domingo foi visivelmente menor. Apesar disso, os organizadores comemoraram a expansão das adesões no interior do Brasil. Segundo o Datafolha, 100 mil pessoas estiveram hoje na Paulista. Para a PM, foram 275 mil. A polêmica em torno dos números continua.

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O grosso dos manifestantes de hoje se aglomerou em torno de movimentos que pediam o impeachment da presidente, sem defender o golpe, mas pelo menos quatro carros de som pediam "intervenção militar". Como das vezes anteriores, o discurso foi de ódio ao PT (Partido dos Trabalhadores), à Dilma e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A VICE conversou com líderes dos movimentos presentes hoje na Paulista.

Marcello Reis, do Revoltados OnLine.

"O número (de pessoas nas ruas), para nós, não é importante. O importante é a conscientização e a continuidade do trabalho pra gente poder limpar o nosso país", disse Marcello Reis, do Revoltados OnLine, na frente de um carro de som atravessado na avenida, com som à pampa. Ele lembrou que a própria Dilma ajudou a trazer opositores pra rua no último ato. Ela discursou na TV na véspera do dia 15 de março, despertando uma onda de panelaços que não se repetiram dessa vez. "Com certeza teria ajudado (se ela discursasse de novo)", lamentou Reis.

Kim Kataguiri, do Movimento Brasil Livre.

O líder do MBL (Movimento Brasil Livre), Kim Kataguiri, disse que "o impeachment seria um passo à frente, mas não uma panaceia. Ele não resolve o problema da saúde e nem da educação, mas é um passo à frente porque a gente considera que o PT é uma ameaça à República". Ele criticou o Petrolão, o Mensalão, as discussões sobre controle da mídia e o PMDB, partido que assumiria a Presidência caso Dilma deixasse o poder. Eleitor de Aécio Neves (PSDB) à contragosto, Kim disse que não existe hoje nenhum partido ou político à altura das demandas do movimento liberal no Brasil.

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No carro de som dos defensores do militarismo, Edson Freire, identificado por colegas como Relações Públicas do Movimento S.O.S. Forças Armadas, gritava um discurso em inglês, enquanto um jovem fazia a tradução simultânea. "We are going to be slaves from the communists!" Um grupo aglomerado na frente do carro esperava a tradução para aplaudir. Um dos membros do movimento explicou à reportagem que o discurso era feito em inglês por ser dirigido à "comunidade internacional".

Maria das Graças Gomes Félix: "Ditadura é o que nós estamos vivendo agora."

Os carros que pediam golpe ficaram concentrados no início da Paulista. Sobre um deles, Maria das Graças Gomes Félix, de 64 anos, fardada da cabeça aos pés, gritava: "Não é ditadura! Não tenham medo. Pelo amor de Deus. É entra, sai, faz a limpeza e convoca eleições. Ditadura é o que nós estamos vivendo agora. Acordem!"

A poucos metros do carro dos militaristas, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) fez uma avaliação positiva da jornada enquanto tirava selfies com manifestantes. "Não sei quantas pessoas vieram, mas 100% das pessoas que estão aqui sabem o que estão fazendo aqui. Isso é que é importante", disse. Sobre a defesa do golpe, ele disse que não entra "no mérito do que cada um está pedindo. O ponto final de tudo isso aí é tirar o PT de lá. Estamos juntos". Perguntado sobre porque seu partido, o PP (Partido Progressista), não entrava com um pedido formal de impeachment da presidente, Bolsonaro explicou: "80% do meu partido está no Supremo Tribunal Federal (pelo caso Lava Jato). Se depender do meu partido, a Dilma tem mandato vitalício."

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Entre os grupos que pedem a saída da presidente sem golpe militar, o de maior convocatória foi o do Vem Pra Rua. O grupo apresentou diversos militantes da periferia para contestar a acusação de que o protesto é elitista. Marquinhos do Lixão do Alvarenga e Diadema agitou a galera pedindo urros "do pessoal de Heliópolis, de Itaquera, de Embu!".

Minutos depois, o advogado penalista Miguel Reale Júnior, ex-ministro da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso e ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo, na gestão Franco Montoro, subiu no mesmo carro de som para pedir "que Dilma seja investigada e que ela saia. Fora, Dilma! Fora, PT!" Reale foi uma das figuras mais graúdas a discursar. O microfone foi então assumido por um jovem negro que pediu que a multidão erguesse os punhos cerrados enquanto gritava para que todos repetissem: "Nessa batalha, o bem vence o mal!"

A multidão repetia "Lula cachaceiro, devolve meu dinheiro". O carro de som puxava vaias para Chico Buarque, Gilberto Gil e Mano Brown. A poucos metros dali, tocavam no talo uma adaptação do hino contra a ditadura de Geraldo Vandré, mudando as palavras para fazer referência a Dilma, Lula e ao PT.