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Pussy Riot Fala Sobre a Luta Para Tirá-las da Cadeia

Nos encontramos com Katia Samutsevich, em Moscou, que explicou como saiu da prisão e o que está fazendo para libertar suas companheiras de banda.

Katia Samutsevich, do Pussy Riot (foto por Olga Kravets).

A maior parte do mundo civilizado está putíssimo com o tratamento que a Rússia tem dado a seus dissidentes. Até agora, Vladimir Putin tem desviado qualquer crítica que venha em sua direção com seu punho de aço. Nem mesmo ter sido colocado no olho do furacão da mídia sobre as Olimpíadas de Sóchi fez com que ele cedesse.

Mas ontem, essa situação deprimente ficou um pouco mais iluminada quando uma aprovação preliminar foi garantida para um projeto de lei de anistia que pode libertar as antagonistas mascaradas de Putin da cadeia. As duas feministas punks atualmente presas no país – Nadezhda Tolokonnikova e Maria Alyokhina – podiam ter sido libertadas amanhã, mas, provavelmente, vai levar mais de seis meses para a lei entrar em vigor. Além disso, as garotas devem ser libertadas em março de qualquer forma; mas quando políticos russos mostram qualquer sinal de misericórdia – o parlamento aprovou a lei, que tem o aval de Putin, por 446 votos a 0 – isso sempre acaba virando manchete.

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O julgamento do Pussy Riot foi altamente criticado por desobedecer vários artigos da Convenção Europeia de Direitos Humanos. As evidências contra o grupo incluíam afirmações de que o feminismo delas era incompatível com a religião ortodoxa e que elas instigaram o ódio contra a igreja. A principal falha aí é que a banda não realizou sua “Prece Punk” contra Putin, em fevereiro de 2012, para ofender a religião de ninguém. Elas estavam protestando contra um estado russo que beira o teocrático e sua punição prova que a prole legislativa da confortável relação estado-igreja é má notícia para quem não se conforma com os valores nacionalistas russo, orientados para a família ortodoxa.

Prender o Pussy Riot por cantar numa igreja foi claramente uma maneira calculada de dar uma lição nos manifestantes anti-Putin e conseguir apoio público para uma coisa dessas não foi difícil no clima atual da mídia russa. Putin fechou recentemente a Ria Novosti, a agência de notícias estatal, e a substituiu por uma máquina de propaganda mais eficiente. Mas, como se fosse Carma, usar o Pussy Riot como exemplo foi um tiro no pé de Putin. As garotas rapidamente ganharam atenção internacional e, muito inconvenientemente para o líder russo, todos os detalhes do julgamento, sentença e libertação antecipada delas estão sendo analisados detalhadamente de perto.

As análises sobre a lei de anistia – que também deve libertar 30 ativistas do Greenpeace, atualmente perdidos no sistema carcerário russo – vão agora se centrar nas motivações de Putin não apenas para permitir que isso acontecesse, mas para ativamente encorajar isso. O presidente ostensivamente propôs a anistia para celebrar a entrada em vigor da constituição pós-soviética do país, mas muitos acreditam que Putin tem segundas intenções. Será isso é uma jogada para diminuir o inevitável golpe da mídia que virá com a liberação do Pussy Riot em março? Ou uma tentativa de limpar manchas feias no currículo de direitos humanos da Rússia antes de Sóchi?

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De qualquer maneira, esse é um pequeno e reconfortante passo que vai desencadear resenhas positivas para a Rússia, sem realmente melhorar a situação de prisioneiros políticos de longa data, como o ex-oligarca e simpatizante da oposição Mikhail Khodorkovsky. Até agora, a lei só se aplica a mães (as duas membros do Pussy Riot ainda encarceradas são mães), grávidas, idosos e soldados presos por crimes menores, além de – crucialmente –  qualquer pessoa trancada por acusações de hooliganismo ou por participar de rebeliões em massa. Mas sim, essa é uma vitória para a sociedade civil não ortodoxa russa, porque Putin está finalmente cedendo à pressão internacional, apesar de não estar se curvando ainda.

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Nesse verão, eu me encontrei com Katia Samutsevich, membro do Pussy Riot, em Moscou, para entrevistá-la sobre o lançamento de seu filme sobre a homofobia sancionada pelo estado russo. Katia foi libertada depois de uma apelação em outubro de 2012 e quando a encontramos, ela estava trabalhando arduamente para tentar apelar da sentença de suas amigas feministas com a ajuda de advogados e grupos de direitos humanos – esforços que foram rejeitados na época, mas que agora dão frutos. De nossa conversa com ela, é possível tirar a conclusão de que essa nova lei de anistia é uma tentativa de Putin de usar qualquer meio necessários para evitar o vazamento de provas de que esse foi, segundo Katia, um julgamento falho.

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VICE: Como surgiu o Pussy Riot?
Yekaterina Samutsevich: Como criamos a banda? Primeiro, ficamos ativamente interessadas no feminismo. Já estávamos interessadas na ideia de feminismo, mas foi nesse momento que decidimos pesquisar se havia qualquer artista feminista na Rússia. Honestamente, procuramos muito e não achamos nada. Enquanto pesquisávamos mais a fundo, aprendemos sobre a segunda onda do feminismo nos Estados Unidos, que incluía o punk feminista. Gostamos da ideia e começamos a procurar por bandas punks feministas na Rússia. De novo, não encontramos nada. Talvez elas existissem, mas não eram vistas. O que nos deixou muito chateadas. “Por que isso não existe na Rússia?”, pensamos. Então formamos nossa própria banda feminista. Tivemos que fazer isso porque era algo inexistente. Depois, pensamos no nome, na imagem e começamos a tocar.

Como aconteceu de você conseguir sair da cadeia e as outras garotas não?
Demiti meu outro advogado e o novo encontrou um grande erro processual. Ele descobriu que não havia nenhuma descrição das minhas ações no veredito, logo, apesar de a corte ter oficialmente me sentenciado a dois anos de cadeia, o veredito não foi realmente entregue a mim. O advogado apontou esse erro na audiência de 10 de outubro. A corte percebeu que tinha cometido um erro e tentou encobrir tudo. Se eles admitissem isso, teriam que cancelar o veredito. Para evitar isso, ele suspenderam minha sentença, mas deixaram as sentenças da Masha e da Nadia como estavam.

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Uma sentença suspensa significa grandes restrições de viagem. Estou sob um acordo e não posso sair de Moscou. Tenho que ter uma permissão especial da inspeção penitenciária para poder deixar a cidade e não posso sair da Rússia sob nenhuma circunstância. Também não posso violar nenhuma lei – mesmo uma infração administrativa mínima pode aumentar a sentença suspensa, ou até me colocar de volta atrás das grades. É uma restrição bem pesada, apesar de eu poder andar pela cidade. O que já é uma vantagem.

Você espera que Nadya e Maria sejam libertadas em breve?
O julgamento, assim como as investigações antes dele, foi concluído sob muitas violações processuais. No momento, estamos apresentando esses erros à suprema corte, que tem o poder de repelir a decisão da corte em Khamovniki [um distrito de Moscou], onde aconteceu o julgamento. O Tribunal da Cidade de Moscou já tentou encobrir essas violações durante a audiência. Meu advogado diz que nunca viu um julgamento com tantas violações básicas. Ele disse que se a Suprema Corte – que vai verificar a apelação em breve – for imparcial, o veredito será anulado. Infelizmente, nosso tribunais estão sujeitos à pressão de cima, então, não sei o que vai acontecer. Mas estamos lutando.

Em sua opinião, por que vocês receberam sentenças tão duras por uma ofensa que deveria render, no máximo, 15 dias de prisão?
São muitas razões. Primeiro, isso é resultado da propaganda que é forçada na mídia de massa –  a propaganda de um governo extremamente conservador, no qual qualquer ação que não é parte da política normativa das autoridades é altamente criticada. Depois, há a dependência de nossos tribunais a essas autoridades. Também achamos que Putin levou nosso caso para o lado pessoal. Acho que foi por isso que a polícia nos prendeu; nosso caso foi um presente para o presidente deles. Provavelmente, é uma combinação de todas essas coisas, e tudo se juntou nessa sentença.

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O novo filme de Milene, Jovem e Gay na Rússia de Putin – para qual esta entrevista foi conduzida – estará em breve na VICE News.

Siga a Milene no Twitter: @Milenelarsson

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