Uma breve cronologia de Fidel Castro (1926-2016)

FYI.

This story is over 5 years old.

Noticias

Uma breve cronologia de Fidel Castro (1926-2016)

O líder da revolução cubana morreu na última sexta (25), aos 90 anos.

Esta matéria foi originalmente publicada na_ VICE News_.

O ex-presidente de Cuba Fidel Castro, o revolucionário socialista que tomou o controle de seu país em 1959 e o comandou desafiando o embargo imposto pelos EUA por quase meio século, morreu na última sexta (25) aos 90 anos. Sua morte foi anunciada por seu irmão Raúl, que assumiu a presidência em 2006.

"É com profunda tristeza que estou aparecendo para informar ao nosso povo e nossos amigos da América Latina e do mundo que hoje, 25 de novembro de 2016, às 10h29, Fidel Castro, o comandante da revolução cubana, morreu."

Publicidade

Raúl terminou sua declaração com o chamado clássico da revolução cubana: "Para a vitória, sempre!"

Castro estava doente há muitos anos, e entregou o poder para o irmão quando uma doença intestinal se agravou. Em abril, o próprio Fidel sugeriu que sua morte era iminente, dizendo: "Logo terei 90 anos… Logo serei como todos os outros".

Enquanto exilados cubanos dançavam nas ruas de Miami, a capital da ilha, Havana, ficou em silêncio.

No Twitter, a blogueira e ativista cubana Yoani Sánchez falou sobre o clima logo depois do anúncio da morte da Castro, descrevendo que o medo no país era "palpável". E Angel Castro, um sobrinho do ex-presidente, disse a CNN: "Para nós, ele era como um pai. E Cuba o via como um pai. Uma mulher ligou aqui chorando dizendo que tinha perdido seu pai. Todo mundo se sente assim".

O presidente Barack Obama, que este ano se tornou o primeiro presidente norte-americano a visitar Cuba desde 1928, ofereceu as condolências da Casa Branca junto com suas esperanças de criar laços mais próximos com a nação caribenha, o que tem sido uma prioridade da sua administração.

"Neste momento do falecimento de Fidel estendemos nossa mão de amizade para o povo cubano", ele disse. "Sei que este momento enche os cubanos — em Cuba e nos EUA — com emoções poderosas, lembrando as incontáveis maneiras como Fidel Castro alterou o curso de vidas individuais, de famílias e da nação cubana."

Publicidade

A decisão surpresa e histórica do presidente Obama, em 2014, de restaurar relações com Cuba depois de mais de cinco décadas de comunicações frias foi vista como um marco de seu legado em relações internacionais. Como essa decisão se baseia inteiramente em ações executivas e mudanças de legislação, as políticas de Obama sobre Cuba parecem especialmente vulneráveis agora.

O presidente eleito Donald Trump já criticou abertamente a política de Obama em relação à nação caribenha. "Todas as concessões que Barack Obama garantiu para o regime de Castro foram feitas com ordem executiva, o que significa que o próximo presidente pode revertê-las. E é isso que vou fazer a menos que o regime de Castro atenda nossas demandas", disse Trump durante um comício em Miami em 16 de setembro. Na manhã do último sábado (26), Trump surgiu no Twitter para comemorar as notícias da morte de Castro, antes de divulgar uma declaração mais detalhada que descrevia Cuba como uma "ilha totalitária" que precisa "se afastar dos horrores" que "sofreu por tanto tempo".

Trump statement on Castro — Maggie Haberman (@maggieNYT)26 de novembro de 2016

As reações ao redor do mundo foram mistas. Líderes da América Latina logo prestaram homenagens à grande figura da revolução.

O presidente da Venezuela Nicolás Maduro disse: "Para todos os revolucionários do mundo, temos que continuar o legado dele e levantar sua bandeira de independência, socialismo e pátria".

Publicidade

O presidente mexicano Enrique Peña Nieto tuitou que Castro era um amigo de seu país e um promotor do diálogo:

Fidel Castro fue un amigo de México, promotor de una relación bilateral basada en el respeto, el diálogo y la solidaridad.

— Enrique Peña Nieto (@EPN)26 de novembro de 2016

O presidente do Equador Rafael Correa prestou homenagem ao líder dizendo "Fidel está morto. Vida longa a Cuba! Vida longa a América Latina!"

Se fue un grande. Murió Fidel.
¡Viva Cuba! ¡Viva América Latina!

— Rafael Correa (@MashiRafael)26 de novembro de 2016

No Brasil, o ex-presidente Lula se pronunciou via sua página no Facebook: " Morreu ontem o maior de todos os latino-americanos, o comandante e chefe da revolução cubana, meu amigo e companheiro Fidel Castro Ruz". Lula também postou um vídeo em que aparece escrevendo em uma parede VIVA FIDEL.

O presidente Michel Temer também se pronunciou: "Fidel Castro foi um líder de convicções. Marcou a segunda metade do século XX com a defesa firme das ideias em que acreditava."

O secretário norte-americano de Relações Internacionais Boris Johnson disse que a morte de Castro marcava o fim de uma era e o começo de uma nova.

Fidel — Boris Johnson (@BorisJohnson)26 de novembro de 2016

O primeiro-ministro do Canadá Justin Trudeau chamou o ex-presidente cubano de "um revolucionário e orador lendário". O presidente russo Vladimir Putin chamou Castro de "um amigo sincero e confiável da Rússia", e o líder chinês Xi Jinping disse que "o povo chinês perdeu um camarada próximo e um amigo sincero".

Publicidade

O ditador comunista deixa um legado complicado e polêmico — um legado que será muito debatido e avaliado nos próximos anos. Castro era famoso por apoiar direitos civis, saúde e educação pública por todo o mundo. Ao mesmo tempo, o revolucionário cubano comandava seu país com força brutal, respondendo a oponentes políticos e dissidentes com fuzilamento.

In many ways, after 1959, the oppressed the world over joined Castro's cause of fighting for freedom & liberation-he changed the world. RIP — Rev Jesse Jackson Sr (@RevJJackson)26 de novembro de 2016

Fidel is dead. I celebrate for my friends who lost their dad to his firing squads, for those jailed, beaten, oppressed by him. For Cuba.

— Ana Navarro (@ananavarro)26 de novembro de 2016

Castro passou décadas como uma figura controversa no palco mundial, uma irritação constante para os EUA e uma inspiração para movimentos de liberdade em todo o globo.

1926:Fidel Alejandro Castro Ruiz nasce na província cubana de Oriente, filho de Ángel Castro, um próspero proprietário de plantações de açúcar, e uma de suas empregadas que se tornou sua segunda esposa, Lina Ruiz Gonzales, segundo o New York Times. Ele era o terceiro de seis filhos, incluindo dois irmãos, Raúl e Ramón; e três irmãs, Angela, Emma e Agustina.

1945: Castro se matricula na escola de Direito da Universidade de Havana depois de frequentar o Colegio Dolores em Santiago de Cuba e El Colegio de Belén em Havana, onde atuou nos times de basebol, corrida e basquete. Na escola de Direito ele mergulhou no nacionalismo cubano e se envolveu na política em tempo integral.

Publicidade

1953: Castro e seu irmão Raúl se juntam a 150 outros revolucionários e atacam um quartel nos arredores de Santiago de Cuba, numa tentativa de derrubar o ditador Fulgencio Batista. O ataque fracassa; Castro e seu irmão são sentenciados a 15 anos de prisão. Eles são liberados antes num acordo com o governo de Batista e planejam sua revolução durante o exílio no México, onde Castro conhece o revolucionário e médico argentino Ernesto "Che" Guevara.

1958: Castro volta para Cuba de barco e conduz uma guerrilha contra Batista, que acaba fugindo para a República Dominicana.

1959: Castro entra em Havana como um herói conquistador e é empossado como primeiro-ministro aos 32 anos, enquanto centenas de membros do governo de Batista são julgados e executados.

1961: Castro declara formalmente Cuba como um estado socialista e repele uma invasão de exilados cubanos apoiada pela CIA na Baía dos Porcos.

1962: Os EUA implementam seu embargo econômico e a União Soviética planeja colocar mísseis nucleares em Cuba, deixando norte-americanos e soviéticos à beira de uma guerra nuclear. No final, o líder soviético Nikita Khrushchev concorda em remover os mísseis se o presidente Kennedy concordar em não invadir a ilha.

Anos 70 e 80: Cuba apoia movimentos socialistas pelo mundo, frequentemente mandando médicos de seu sistema de saúde para apoiar movimentos de guerrilha, como a luta contra o Apartheid na África do Sul. Castro sobrevive a inúmeros atentados contra sua vida.

Publicidade

Soldado norte-americano ajuda uma criança cubana em um dos barcos de refugiados que chegaram a Key West em 10 de maio de 1980.

1980: Castro permite que dissidentes cubanos deixem a ilha num evento conhecido como Êxodo de Mariel, no qual 125 mil cubanos chegaram às praias da Flórida, nos EUA, num único dia. Isso construiria uma comunidade fortemente anti-Castro na Flórida, que influenciou a política entre EUA e Cuba por décadas.

1991: O colapso da União Soviética prejudica a economia de Cuba severamente e limita a influência de Castro.

2006: Castro cede o controle do dia a dia do país para seu irmão Raúl depois de uma enfermidade.

Cuba declarou luto nacional de nove dias enquanto todas as atividades públicas são adiadas. Castro foi cremado no sábado e seu funeral acontecerá no dia 4 de dezembro, segundo a imprensa cubana.

Tradução: Marina Schnoor.

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.