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Edição do Homem de Areia

Sais de Banho na Ferida

Um usuário descreveu dessa maneira: “Com cocaína, você pode ver um grupo de meninas, achar que é o cara, e ir até lá falar com elas. Com o Amped, você pensa em ir até elas e tirar o pau duro pra fora”.

Roanoke vista da Estrela de Roanoke. Agentes federais varreram a área e cidades vizinhas para tirar o Amped e outras drogas sintéticas do mercado semanas antes da venda se tornar ilegal na Virgínia, Estados Unidos.

Quando uma droga sintética lícita chamada Amped desembarcou nos Estados Unidos em outubro de 2011, os fãs de narcóticos recreativos ficaram maravilhados com ela. Vendida como “produto para atrair joaninhas” e “pó da exuberância”, o Amped foi desenvolvido por um bioquímico — uma raridade nessa indústria nada confiável. Mas quatro meses depois a coisa toda mudou de figura. Comentários de usuários de Amped começaram a aparecer em blogs alegando que, diferentemente dos primeiros lotes do poderoso pó estimulante, os carregamentos mais recentes tinham cor e textura de massa podre úmida. O negócio tinha cheiro de mijo. Mas para aqueles dispostos a cheirar essa pasta refrigerada, ela ainda dava um barato decente.

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O Bath Salt Guru, blog extraoficial da indústria de sintéticos, deu uma explicação obscura sobre a mudança: Wicked Herbals, a empresa responsável pelo Amped, rompeu com seu químico por causa de uma discussão sobre a mudança da fórmula. Um post alertava os leitores de que o produto estava seriamente comprometido. Dezenas de pessoas postaram comentários implorando por detalhes e, quase que paralelamente a isso, outros usuários de Amped manifestaram sua satisfação com os novos carregamentos. As drogas conhecidas como “sais de banho” são mais do que simplesmente estimulantes. Os usuários acharam o Amped e outras marcas mais potentes que cocaína. Um usuário descreveu dessa maneira: “Com cocaína, você pode ver um grupo de meninas, achar que é o cara, e ir até lá falar com elas. Com o Amped, você pensa em ir até elas e tirar o pau duro pra fora”. Ele relembra uma noite em que foi dar um rolê para cheirar Amped. Quando amanheceu, ele estava brincando no balanço do jardim de um desconhecido, só de cueca, mostrando o pau semiereto para as meninas que passavam de carro, na esperança de se dar bem.

Poucos lugares estavam tão prontos para receber a praga dos sais de banho como a região sudeste da cidade de Roanoke, no estado norte-americano de Virgínia. Estabelecida no pé de uma das Montanhas Blue Ridge, a região é uma confusão de casas pré-fabricadas e terrenos baldios cheios de mato e de sucata. Uma variedade de epidemias de drogas marcaram a cidade nas últimas décadas. Um morador conta que seu vício em heroína chegou ao ponto dele ser hospitalizado por injetar na veia produto para desentupir canos. Outro conta que viu seus vizinhos passando de carro em frente sua casa com cachimbos de crack entre os dentes. Mas as drogas não destruíram a camaradagem da vizinhança. Por exemplo, há pouco tempo, quando uma hospedaria local promoveu uma arrecadação de fundos para uma criança com problemas de desenvolvimento, toda a comunidade apareceu para apoiar, inclusive mais de 100 membros da gangue de motoqueiros local.

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O Amped e outras marcas de sais de banho começaram a aparecer nas tabacarias de Roanoke em março, depois que os fabricantes mandaram cartões postais superchamativos para as lojas, prometendo grandes lucros. Como uma farsa da epidemia de crack, os proprietários da principal tabacaria do sudeste, a D.K. Tobacco, ofereceram a primeira rodada de sais de banho com desconto. Dizem que funcionários chegaram até a usar camisetas do Amped para promover o produto. Do outro lado da cidade, outra tabacaria contratou um homem para segurar uma placa com uma propaganda dos sais de banho. Em pouco tempo, choveram compradores.

Jeff Dudley, chefe da polícia de Salem, segura unidade de Amped que um de seus policiais comprou em uma tabacaria.

“Nas horas de maior movimento, principalmente depois que escurecia, parecia estacionamento do Walmart”, disse o dono de uma loja próxima que pediu para permanecer anônimo. Há relatos de clientes que apareciam cinco ou seis vezes por dia. Moradores dizem que parecia fila do sopão. Do estúdio de tatuagem vizinho à D.K. Tobacco, Charlie Barham viu o negócio da tabacaria crescer depois da cobertura da imprensa local. “De repente, vimos mais do que o noia de sempre chegando na D.K.”, disse. “Trabalhadores da construção chegavam de caminhão. Todo mundo, inclusive a sua avó, ouviu falar desse negócio e decidiu que valia a pena experimentar.”

Em questão de semanas, os sinais de devastação apareceram no bairro. Brigas violentas com suspeitos de serem usuários se tornaram cada vez mais comuns, sobrecarregando policiais e funcionários de prontos-socorros. Só em maio, a polícia da cidade de Roanoke respondeu a 34 chamados relacionados a sais de banho. “Era mais do que um problema sério. Era uma epidemia. E aconteceu muito subitamente”, afirmou o chefe da polícia da cidade de Roanoke, Chris Perkins. A essa altura, o atoleiro já não estava mais restrito aos limites da cidade, o Amped já assolava o condado inteiro. “Um policial teve que brigar com um menino por nove minutos”, disse o chefe da polícia do condado de Roanoke, Chuck Mason. “A maioria dos nossos conflitos dura menos de um minuto. O menino veio para cima dele completamente nu.” O médico de um pronto-socorro entrevistado pela TV local disse que se cocaína e metanfetamina eram tempestades tropicais, a situação dos sais de banho era um furacão.

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O dono de outra loja próxima conta que noias de olhos vidrados rondavam a pizzaria e o estúdio de tatuagem nos arredores, tremendo e perguntando se vendiam produto para atrair joaninha. Alguns se apoiavam contra postes no estacionamento para vomitar. Os donos da padaria vizinha contaram que sua loja foi invadida uma noite no que eles acreditam ter sido uma tentativa de conseguirem acesso à tabacaria.

Angela Marie Crabb, 31 anos, mãe de dois filhos, morava a duas quadras da D.K. Tobacco. Ela já tinha tido problemas com álcool, heroína e crack quando um amigo lhe apresentou o Amped em março. Alguns dias depois de Angela usar a droga pela primeira vez, Lorrie Jones, sua mãe, a encontrou nua se equilibrando de forma arriscada na sacada do segundo andar do prédio onde morava. “Foi como a assistir um filme de ficção científica”, disse Lorrie. “A forma como ela contorcia o corpo, o jeito de falar, tudo estava muito estranho.” Ao longo de algumas semanas, Angela definhou e chegou a pesar 36 kg, seu rosto inchou de forma macabra. Uma noite ela apareceu na casa da mãe sem avisar e tentou quebrar as janelas durante um ataque de fúria. “Não era ela. Era o Amped. Parecia literalmente demoníaco”, disse Lorrie. Na noite seguinte, Angela teve um ataque cardíaco. Ela passou seis dias internada antes de falecer em 25 de abril.

Horas depois da filha morrer, Lorrie encontrou uma jovem em frente ao hospital que teve o braço amputado depois de injetar Amped demais. Dois dias depois, outra jovem mãe, Tina Elaine Mullins Crockett, morreu de um ataque cardíaco provocado (pelo menos parcialmente) por Amped. “Era como se uma nuvem tivesse se aberto sobre o Vale de Roanoke e despejado um monte de demônios em cima de nós”, disse Lorrie. “Parecia que tinha passado um tornado. Ele sugou muitas pessoas com ele, e minha filha foi uma delas.” Donos de tabacarias não ligaram para as reclamações de que estavam destruindo a comunidade. Afinal, os sais de banho não eram ilegais e eram muito lucrativos. As lojas compravam unidades de Amped no atacado por US$ 5 e vendiam a US$ 25. Um traficante qualquer consegue ganhar US$ 50 com 30g de maconha ou dobrar seu investimento com meio quilo de cocaína. Donos de tabacarias que movimentavam 30 pacotes por dia, em uma estimativa conservadora, chegavam facilmente a um lucro líquido anual de US$ 200 mil.

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Os donos da D.K. Tobacco são refugiados sudaneses e muita gente no bairro considerava a venda de sais de banho um ato de ingratidão nacional. O ressentimento crescia ainda mais quando eles ostentavam seus lucros. Um deles apareceu com um Nissan novo, afirmando que comprou à vista. Em outra ocasião, exibiu um cheque administrativo no valor de uma casa nova. “Não consigo acreditar que eles não sabiam o que estavam fazendo”, disse o dono de uma loja próxima que pediu para não ser identificado.

Quando a busca pelo Amped estava no auge, o estacionamento em frente à D.K. Tobacco ficava cheio de carros o dia todo e alguns usuários continuavam na região até de madrugada.

As forças policiais da região de Roanoke descobriram o problema dos sais de banho em uma reunião de cúpula mensal em março, quando o Amped chegou às lojas. O departamento de éticas da polícia comprou amostras para examinar, mas os resultados foram negativos — elas não continham substâncias ilegais. Um químico forense foi chamado para explicar como essas drogas contornam a lei. “A mensagem era de que não havia nenhuma consistência específica na composição química da coisa”, afirmou o Chefe Mason. “Ela era fabricada no exterior — na China, na Índia e na Rússia — e eles iam ajustando a fórmula para ficar à frente da lei.”

Em maio, os sais de banho chamaram atenção do país inteiro ao serem considerados o suposto motivo do surto de Rudy Eugene, de Miami, que comeu o rosto de um morador de rua. Mais tarde, o resultado do exame de sangue revelou que não havia rastros de sais de banho em seu corpo, apenas de maconha. Mas os sais de banho têm se tornado cada vez mais populares nos EUA entre usuários de drogas há pelo menos três anos. Centros de controle e informações toxicológicas locais atenderam a 6.138 chamados relacionados a sais de banho em 2011, contra 300 no ano anterior. Os ingredientes ativos dos sais de banho tendem a ser “substitutos de catinona”, variações sintéticas do estimulante natural encontrado no khat, planta popular na África e no Oriente Médio parecida com as folhas de coca da Bolívia. No fim do ano passado, a DEA (agência norte-americana de combate a narcóticos) anunciou a proibição emergencial dos dois compostos ativos mais comuns nos sais de banho, o MDPV e a mefedrona, o que só serviu para inundar o mercado com dezenas de outros substitutos de catinona.

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Pouco antes do pânico zumbi primaveril, uma aliança entre forças policiais locais e federais deu uma entrevista coletiva em Roanoke para informar a comunidade sobre os perigos dos sais de banho. Ao lado de um pôster com várias marcas — Amped, White Water Rapids, Go Fast e Snowman, para citar algumas —, as autoridades explicaram que os sais de banho eram semelhantes a metanfetaminas e cocaína e eram ilícitas pela Lei Federal de Substâncias Análogas. Segundo essa lei, substâncias análogas são aquelas que imitam os efeitos de drogas ilegais, os produtores tentam burlar a legislação indicando no rótulo que os artigos não são para consumo humano. A DEA e a procuradoria norte-americana disseram à polícia que não poderiam fiscalizar o cumprimento da lei na rua, mas poderiam ajudar a confiscar sais de banho das lojas antes que a proibição entrasse em vigor no estado da Virgínia.

Em junho, a polícia local e a DEA passaram intimações de promotores federais a sete tabacarias, exigindo que entregassem seus suprimentos de sais de banho. De modo geral, os estabelecimentos obedeceram, embora um proprietário tenha me dito que, se as autoridades voltassem, ele quebraria o pescoço delas.

O chefe da polícia de Salem, Jeff Dudley fala sobre os efeitos catastróficos que o Amped e outras drogas tiveram sobre Roanoke e comunidades próximas.

A fabricante do Amped, Wicked Herbals, fica em Tempe, no estado de Arizona, e serve como central de vendas de várias outras marcas de sais de banho produzidas na região. Eight Ballz, Bullet, Blow, White Water Rapid, Bliss e Snowman estão todos à venda no site da empresa e possuem fórmulas muito parecidas. Em uma visita recente a Tempe, descobri que os sais de banho são uma indústria florescente tanto para produtores quanto para revendedores. O proprietário de uma tabacaria antiga na região de Phoenix estima que, nos últimos três anos, mais de 200 lojas abriram por ali com uma única missão. “Eles não vendem mais nada. Só vendem isso”, disse, apontando para um recipiente de vidro cheio de pacotes coloridos de sais de banho. Um mercado competitivo favorece o consumidor. Em sua loja no Arizona, meio grama de Amped custa US$ 12,99.

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O comércio dos sais de banho depende de uma rede internacional de fornecedores de ingredientes. Eles estão principalmente na China e comercializam seus produtos sob o pretexto de serem “químicos para pesquisa”. Comparados às empresas químicas legítimas dos EUA, os distribuidores do mercado paralelo da China vendem ingredientes ativos em quantidades muito maiores a preços muito mais baixos. Muitas vezes, nem mesmo quem vai sintetizar essas substâncias tem total consciência de qual é sua composição e qual vai ser o resultado. Substitutos de catinona são criados pela adição ou subtração de algumas moléculas. As equipes de vendas mantêm distribuidores norte-americanos informados sobre as quase infinitas opções disponíveis para compra. A maioria dos sais de banho acaba contendo três elementos: um substituto de catinona, um agente de massa e um anestésico tópico.

A fórmula original da Wicked Herbals continha um substituto de catinona relativamente fraco chamado ­-PPP. O produto era consistente, mas muitos usuários percebiam que sua eficácia diminuía depois de algum tempo de uso. Em busca de um composto mais intenso, os pesquisadores decidiram usar o ­-PVP como ingrediente ativo no Amped. Um fórum online com um extenso catálogo de drogas sintéticas fez uma primeira avaliação positiva do ­-PVP — “Muito, muito divertido” —, mas incluiu um adendo: “Editado: depois de alguns meses com isso circulando na minha cidade, estou convencido de que é mesmo o diabo. Do nada, muita gente começou a fumar essa merda todo dia e ficou escrota e começou a roubar. Essa porra nem é tão melhor que MDPV. Com certeza é neurotóxica”. De qualquer maneira, o ­-PVP virou o padrão da indústria para a maioria das marcas do Arizona. Enquanto novos ingredientes ativos continuarem sendo desenvolvidos, novas formas de sais de banho estarão dentro da legalidade.

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No último ano e meio, órgãos legislativos locais têm trabalhado para incluir o ­-PVP na lista sempre crescente de substâncias controladas. Desde 1º de julho, mais de 41 estados norte-americanos proibiram quase 90 variedades conhecidas de substitutos de catinona. Os envolvidos em cada etapa do processo estão monitorando as alterações do panorama legal, mas quase ninguém — nem produtores, revendedores, policiais ou autoridades públicas — acredita que a situação vai ser resolvida num futuro próximo. Existe muito dinheiro envolvido e, enquanto novos ingredientes ativos continuarem sendo desenvolvidos, novas formas de sais de banho estarão dentro da legalidade.

Quando a mãe de Brittany Cross, Tina Crockett, morreu durante uma festa com Amped em abril, ela teve de organizar o enterro sozinha porque tanto seu pai quanto seu padrasto continuaram usando a droga.

A Estrela de Roanoke é a resposta do oeste da Virgínia ao letreiro de Hollywood. Erguida em 1949, ela está no topo de uma montanha, em uma explosão de 17.500 watts de néon que ilumina toda a região. Viajei para Roanoke três dias depois das tabacarias tirarem os sais de banho de suas prateleiras.

Nos estacionamentos das tabacarias de Roanoke, uma aparência de normalidade havia voltado. “Esses dias clientes saíam do estacionamento cantando pneu de irritação”, disse Barham. Em todas as tabacarias, as pessoas diziam a mesma coisa. A polícia confiscou, acabou tudo. Depois das apreensões, equipes de TV ficaram de olho nas lojas. Os donos ficaram inquietos. Em frente à D.K. Tobacco, um cara que pediu para permanecer anônimo disse que me contaria toda a história do Amped. “Injetei no braço das pessoas. Essa merda acabou com elas”, disse.

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Depois de procurar por todos os lados uma amostra de Amped e voltar de mãos vazias, fui até o estúdio de tatuagem About Time por volta das 22h. Na frente da loja, um pessoal perto de uns carros estacionados estava com uma energia estranha. Lá dentro, o clima era animado. O proprietário, Randall “Hooter” Horton, disse que é tatuador em Roanoke há 27 anos. Quando seus fregueses me ouviram dizer que eu estava lá para apurar uma pauta sobre sais de banho, começaram a compartilhar suas histórias sinistras uns mais alto que os outros: um companheiro de cela que jogou a mãe da escada, um amigo da família hospitalizado por saltar do telhado, uma menina que mordeu a mãe. O Horton disse que uma vez viu um amigo injetar Amped no banheiro da casa dele. “Eu disse: ‘Sério? Você se pica com isso?’.” O amigo disse que era lícito e garantiu que tinha tudo sob controle. Mas o Horton não conseguia se imaginar injetando o conteúdo daqueles pacotinhos coloridos. “Nunca pensei que aquilo poderia derrubar uma pessoa desse jeito”, afirmou.

No dia seguinte, andando pela região sudeste, conheci um casal beirando os 50 anos — Mike Williamson e Debra Sue Hoffman. Eles desconfiavam que os sais de banho estariam por trás do comportamento bizarro de um de seus vizinhos, que viram havia pouco tempo na frente de casa batendo no peito feito gorila e gritando que ia matar alguém. Em outra casa que visitei, uma loira bonita de 18 anos chamada Jessica disse: “A maioria das pessoas achou que era uma droga de mentira e não pensou que pudesse machucar ninguém”. O primo dela que usava Amped desenvolveu um coágulo no cérebro. Outro garoto que tinha idade para se preocupar com espinhas disse que, duas semanas antes, seu primo surtou com Snowman e acabou preso depois de se atirar pela janela.

Um menino chamado Michael se ofereceu para me levar até o Rescue Mission, um albergue para moradores de rua que ficava no centro da cidade. O Exército da Salvação, que fica ao lado desse albergue, salta à vista com sua cruz de “JESUS SALVA” em neon. Meia dúzia de pequenos grupos rodeavam o albergue. Dois caras corpulentos de uns 20 e tantos anos usando roupas de marca estavam por ali. Me apresentei a um deles, que disse que tinha experimentado Amped, mas não era tão terrível quanto sua reputação poderia levar a crer. Um carro parou e o amigo bateu no ombro dele. Eles precisavam ir. “É o traficante”, Michael sussurrou.

Continuei andando até um posto de gasolina onde costumam ficar uns viciados em crack. Era fim de tarde, mas o sol ainda batia forte nos prédios comerciais do centro. Um pequeno grupo vagabundeava em um trecho livre de asfalto. Perguntei sobre o Amped para um homem que parecia uma múmia desenrolada. Ele disse que já tinha usado e gostado, porque podia cheirar, fumar ou injetar. Seu amigo, um sujeito encolhido de olhos vermelhos, levantou e disse para ele não falar comigo. Ele ignorou o amigo. O cara ficou puto, pegou um canivete e apertou o mecanismo para abrilo. “Ah! Está sem lâmina!”, reclamou, atirando-o no chão. Os dois saíram andando.

No dia seguinte, conheci um cara chamado Tweeker, que mora no alto de um morro no sudeste. O Tweeker disse que só experimentou Amped uma vez. Ele e os amigos estavam sem maconha, então compraram meio grama e perambularam pelo bairro a noite toda. “Foi muito pesado pra mim”, disse. “Achei que ia morrer.” Perguntei o que faz com que o Amped seja diferente. “Você não espera esse tipo de reação de uma coisa que pode ser comprada em uma loja.”

Um estudo de 2011 revelou que os sais de banho induzem os mesmos níveis de serotonina e dopamina do ecstasy e da metanfetamina. As duas drogas eram lícitas nos EUA antes de provocarem epidemias. Há evidências de que os sais de banho sejam piores do que seus antecessores. Comparados ao MDMA e à metanfetamina, eles exigem dosagens mais frequentes para manter o efeito. Os substitutos de catinona também causam descargas de adrenalina mais poderosas, então a droga bate mais rápido e com mais força. Mas essas diferenças ofuscam a pergunta sobre drogas em geral: por que as pessoas estão tão desesperadas para usá-las?

Mais tarde, me vi na casa do Tweeker, ao lado do Michael. O irmão mais novo do Tweeker tinha deixado um helicóptero de controle remoto cair numa árvore e o Tweeker trepou nela para recuperar o brinquedo. O Michael ficou assistindo à cena sentado na escada em frente à casa enquanto fumava um cigarro.

O sol se pôs atrás das montanhas, mergulhando o céu em tons de rosa e laranja. A Estrela de Roanoke vigiava a cidade do alto. Perguntei ao Michael por que ele achava que tanta gente experimentava Amped. “Acho que quando você vive nessa situação econômica, todo mundo fica fissurado com qualquer coisa que consegue arrumar”, disse, e deu um trago do cigarro.