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Santa blasfêmia: a artista que criou estátuas religiosas pop está sendo perseguida na internet

Quando começou a fazer personagens da cultura pop em formato de santos religiosos, a brasiliense Ana Smile não imaginou que seria crucificada na internet.

É pecado ou crime trocar a roupa da Virgem Maria por um manto com as mesmas estampas do famoso look usado pela Mulher-Maravilha? Para algumas pessoas, sim. Quando começou a fazer personagens da cultura pop em formato de santos religiosos há três anos, a brasiliense Ana Smile não imaginou que seria "crucificada" na internet.

Nos últimos dias, comentários agressivos feitos por pessoas religiosas dominaram os perfis da Santa Blasfêmia, sua empresa embrionária que reproduz imagens de gesso em formato de personagens como Batman, Frida Kahlo, Mulher Gato, Galinha Pintadinha e Coringa. "Perguntam como eu tenho coragem e se eu não tenho medo de ir pro inferno", relata a artista que, atualmente, vive em Goiânia (Goiás).

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Foto: Santa Blasfêmia/ divulgação

Foto: Santa Blasfêmia/ divulgação

De acordo com o Ministério Público do Distrito Federal (MPDF), 31 e-mails foram encaminhados para eles falando sobre o assunto e relatando que uma petição online estava sendo feita para encaminhar a denúncia. Entretanto, a assessoria de imprensa justificou que o MPDF não trabalha com petições online e que esse tipo de demanda deve ser encaminhada para a ouvidoria.

Ana tomou conhecimento de que, na última semana, um homem desconhecido viu um de seus trabalhos expostos na vitrine de uma loja colaborativa em Brasília. "Ele não gostou, entrou na loja, fez um bafão danado, quis chamar todo mundo e exigiu que os vendedores tirassem as peças." Mas eles não tiraram. Foi aí que mensagens começaram a pipocar no Facebook, no Instagram e até mesmo no WhatsApp da artista. "Recebi comentários como 'Por que você não faz uma santa com a sua cara sendo penetrada?'."

Foto: Santa Blasfêmia/ divulgação

O impulso para a criação das imagens surgiu quando Ana se deparou com um meme da famigerada dupla Batman e Robin com os dizeres "Santa blasfêmia, Batman". Ela curtiu tanto a ideia que começou a procurar algo similar para comprar e decorar sua casa. Sem sucesso na busca, resolveu arregaçar as mangas e usar seus conhecimentos em arte. "Sempre gostei de desenhar, fazer bisqui, modelagem, pintura." Deu certo. Os amigos curtiram a ideia e começaram a fazer encomendas. Ana viu nisso uma boa oportunidade.

Hoje, ela compra peças de gesso cru que, posteriormente, são lixadas, modeladas, pintadas à mão, laqueadas e envernizadas. Os preços variam de R$ 200 a R$ 390 e os itens podem medir de 30 cm até 50 cm de altura.

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Foto: Santa Blasfêmia/ divulgação

Ana reforça que as imagens, embora sejam originalmente de santos, não possuem ligação com religião. "Por isso, me frustra tanto esse bafafá todo dos últimos dias. As peças foram criadas como itens decorativos. Não tem nada a ver com religião."

Até a publicação desta matéria, a VICE não conseguiu localizar as pessoas que iniciaram a petição online para denunciar as imagens feitas pela artista.

Mas uma coisa é fato. Apesar da dor de cabeça, o burburinho todo fez com que Ana conquistasse novos clientes. Possíveis problemas com a justiça? Ela não parece muito preocupada. "Eu tô tão atolada de pessoas interessadas em comprar e conhecer o trabalho de forma positiva que a última coisa que eu vou fazer é ler essa petição", diz.

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