A PM Dispersou na Porrada o 2º Grande Ato do MPL em SP

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A PM Dispersou na Porrada o 2º Grande Ato do MPL em SP

Eminentemente pacífica, a manifestação sofreu com várias tentativas violentas de dispersão por parte do aparato policial.

Discordo do escritor: a noite não é suave. Não quando se está num protesto do Movimento Passe Livre (MPL) acompanhado pela polícia em São Paulo. Eminentemente pacífica, a manifestação sofreu várias tentativas violentas de dispersão por parte do aparato policial. As justificativas pelas bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral, balas de borracha e golpes com cassetetes você lê abaixo.

De dia, tudo parecia mais amigável: a feição dos policiais caminhando com o ato, as buzinadinhas dos motoristas vendo a marcha passar, os transeuntes curiosos. Mas o bicho pegou mesmo quando o céu azul-claro escureceu. Todo mundo, de alguma forma, se armava: aprumando suas máscaras antigás e seus capacetes. Foi nessa hora que os black blocs entrelaçaram os braços, tomaram a linha de frente e escudaram a multidão que vinha atrás. Quando o dia foi embora, a animosidade tomou conta do ar. Manifestantes e policiais respiravam. Juntos.

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De repente, a cantoria da molecada deu lugar a gritos desesperados de "calma, calma" enquanto jornalistas, estudantes, fotógrafos e curiosos em geral se amontoavam um nos outros para fugir das bombas de gás lacrimogêneo – com medo de desmaiar, ser pisoteado, levar um estilhaço no olho ou uma bala de borracha na cabeça. Ninguém queria ser atingido. Ninguém queria virar manchete de jornal ou rechear as listas de detidos pela Polícia Militar.

Mas não começou assim. Ontem (16), às 17h na Avenida Paulista, a concentração do 2º Grande Ato do MPL contra o aumento da tarifa do transporte coletivo parecia tranquila, mesmo com a barreira policial bloqueando a avenida. "Esperamos que o protesto tenha começo, meio e fim. Esperamos que a polícia colabore e que ele possa ocorrer com tranquilidade", disse Érica de Oliveira, integrante do MPL. Sobre uma provável reunião do prefeito Fernando Haddad com representantes de movimentos sociais para abordar o passe livre para estudantes de instituições privadas, Érica foi incisiva: "O prefeito deve se reportar à população nas ruas, e não ao MPL. Reunião a portas fechadas só prova que isso, na verdade, é esquema governista do próprio prefeito para tentar desmobilizar a luta do povo".

Aparentemente sereno, o Major Fedrizzi, responsável pelo efetivo do dia, afirmou que 800 policiais foram convocados para acompanhar a manifestação.

Neste ano, o MPL passou a adotar a prática da assembleia para decidir o trajeto. Quem tem sugestões de caminho, escreve num papel e passa para quem está no comando do microfone divulgando as informações aos presentes. Talvez seja uma maneira de democratizar ainda mais sua maneira de atuar nas ruas e, de alguma forma, se desconectar de acusações que os ligam às depredações que acontecem pelo meio do caminho – coisa que boa parte da sociedade e dos comentaristas profissionais de portais na internet acredita ser planejada.

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Com a Paulista fechada pela polícia (as obras da ciclovia facilmente se converteriam em material bélico pra black blocs), a maioria dos presentes, levantando as mãos, decidiu pelo trajeto que começaria na Rua da Consolação, passaria pelo Viaduto do Chá sentido Prefeitura e terminaria na Secretaria do Transporte. Ainda na primeira parte do caminho, algumas confusões aconteceram e um sujeito foi detido. No meio do bololô, imprensa e manifestantes tentavam entender o que houve – na hora, ninguém soube ao certo. Depois a polícia informou que o sujeito portava um frasco com vaselina.

Bombas de gás lacrimogêneo foram disparadas na altura da Rua Bela Cintra. Com medo, parte da galera correu de volta para a Paulista.

Hora ou outra, pequenos atritos aconteceram. Às vezes entre polícia e manifestante; às vezes, entre imprensa e manifestante. Em dado momento, Rafael Vilela, fotógrafo da Mídia Ninja, se desentendeu com um pessoal da linha de frente. "Cês são pior [sic] que a PM, mano", acusou. Uma das garotas deu sua versão: "Zoamos ele [sic] por receber verba do PT e ele ficou puto, dizendo 'Depois a gente conversa'. O que é isso? Está me ameaçando?".

Tudo foi relativamente bem até o ato chegar na Prefeitura. Ali, o MPL falou sobre a importância do diálogo entre prefeito e população, reiterando sua atuação nas quebradas da cidade, e não só no centro ou na Paulista. De repente, foi bomba pra tudo quanto era lado e ninguém entendia mais porra nenhuma.

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Foi um mar de gente correndo de um enxame de bombas de gás lacrimogêneo.

Há relatos de que tudo teve início quando fogos de artifício, garrafas e pedras foram arremessadas em direção à polícia, mas a verdade – por mais que você tenha lido sobre o fato em sites e jornais –, depois que inventaram os P2, é difícil saber. Não há estado de vigilância ou streaming de celular que elucide isso. Talvez o único detentor desse segredo seja o sujeito que fez o primeiro objeto da noite cortar os ares. Seja ele quem for.

A PM jogava bombas tão descomedidamente que, por muitas vezes, elas explodiam próximas aos policiais que estavam do outro lado.

Por mais que o MPL tentasse, era difícil reorganizar a manifestação. Na Praça da República, eles fizeram uma última tentativa, mas foram dispersados por mais bombas. Ali, era anunciado o fim do segundo ato de 2015 – mesmo que informalmente.

Nosso fotógrafo, Felipe Larozza, apanhou de cassetete logo no final do protesto enquanto tentava passar pela galera num desses momentos em que tudo vira um grande bolo de gente tentando fugir da polícia.

De acordo com a PM, treze pessoas foram conduzidas à delegacia e quatro locais foram depredados, sendo três agências bancárias e uma banca de jornal.

O próximo ato foi anunciado para terça-feira, dia 20, na Praça Silvio Romero, no Tatuapé.

Novamente: suave a noite não foi. Ainda assim, teve quem conseguisse eternizar um beijo em meio à loucura.

Veja mais fotos do Felipe Larozza aqui e siga a Débora Lopes no Twitter.