A semana passada foi muita treta pra Vinicius de Moraes
Foto: Agência Brasil

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A semana passada foi muita treta pra Vinicius de Moraes

Sérgio Machado derruba Alves, Renan cogita pedir o impeachment do Procurador Geral, Cunha entra em queda, o inverno chega à campanha de Haddad e Rio decreta calamidade pré-Olimpíadas em apenas mais uma semana de Brasil interino.

Se você acha que o ápice da semana que passou foi o episódio novo de Game Of Thrones, é porque não conseguiu prestar atenção no furdunço que foi a política brasileira no período. Quando todo mundo ainda estava tonto com o ataque homofóbico que resultou no maior massacre a tiros da história dos EUA, a semana começava numa atribulação crescente, provando que a crise política nacional, ao invés de ser estancada pelo início de processo de impeachment, como muitos queriam, apenas segue a atolar mais no brejo – ainda não podemos afirmar com precisão se o revival é dos anos 90 ou do governo Sarney mesmo.

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A primeira complicação da vacilosa interinidade foi com Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que teve o relatório pedindo a sua cassação aprovado na Comissão de Ética de Câmara nesta terça (14), depois de sete meses de protelações e pedaladas regimentais. Agora a contagem regressiva do suspenso presidente da Casa está dada: ele ainda pode recorrer à Comissão de Constituição e Justiça, mas há pouco espaço para manobras ali. A votação definitiva da sua cassação deve ocorrer no Plenário da Câmara a partir de meados de julho, e dificilmente Cunha vai conseguir juntar 257 deputados para votar abertamente contra sua cassação. Se Temer e sua patota estavam felizes em se livrar da imagem corrupta de Cunha a eles ligada, ainda têm que correr para desarmar a bomba que poderia ser uma eventual delação de Cunha, que conta com o líder do governo na Câmara (André Moura, PSC-SE) no bolso e com a própria mulher, Claudia Cunha, no banco dos réus da Lava Jato. O problema é que havia uma delação mais urgente a se lidar.

O ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que já havia protagonizado uma curta temporada de spin off com suas gravações comprometendo o ex-ministro do Planejamento Romero Jucá (PMDB-RR), o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), o ex-ministro da Transparência Fabio Silveira e o ex-presidente José Sarney (PMDB-MA) soltou a sua bomba final nesta quarta-feira (15). Sua delação premiada, celebrada com a Procuradoria Geral da República, envolve mais de 20 políticos, incluindo, que surpresa, o interino presidente Michel Temer (PMDB-SP), acusado de solicitar R$ 1,5 milhão de reais para a campanha de Gabriel Chalita (agora no PDT) para a Prefeitura de São Paulo em 2012. "Pro Michel eu dei", se auto-mulou Machado em seu depoimento, que conta com mais de 400 páginas.

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A delação foi um golpe de mestre de Machado que, acuado (como pode ser ouvido nos áudios de Renan e outros), fugia loucamente da prisão, destino que também queria evitar para seus filhos, herdeiros e participantes ativos na maracutaiagem. O primeiro a tombar foi o ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves (PMDB –RN), velho conhecido da Lava Jato, que pediu demissão na quinta-feira dia 16. Alves, que foi ministro do Turismo também sob a administração de Dilma Rousseff, já havia sido alvo de mandados de busca e apreensão durante a Operação Catilinárias em dezembro de 2015, e foi acusado desta vez de receber R$ 1,55 milhão em propinas – de um total de R$ 100 milhões que Machado afirma ter desviado para o PMDB. Alves soltou uma carta de demissão de dois parágrafos, afirmando que pediu para sair "em prol do bem maior". Conversas anteriores dão conta que os ministros mais próximos de Temer haviam prometido ao interino deixaram voluntariamente seus postos se fossem envolvidos em escândalos da Lava Jato. Com Alves, já são três ministros de Temer que caem envolvidos apenas na treta de Machado, e o intempestivo presidente em exercício cogita extinguir o Ministério do Turismo de vez, em ano de Olimpíadas.

Machado ainda acusou Aécio Neves (PSDB-MG) – de quem "todo mundo conhece o esquema", segundo o delator – de financiar em 1998 a campanha de 50 deputados para tentar ser presidente da Câmara; disse que repassava "mesada" a chefes do PMDB como Calheiros e Edson Lobão (PMDB-MA), ex-ministro de Minas e Energia; afirmou ter agitado doações para Luiz Sérgio (PT-RJ), que foi relator da CPI da Petrobras e até mesmo para Jandira Feghalli (PCdoB-RJ) e demonstrou através de uma planilha que repassou R$ 400 mil para o filho do homem, Sarney Filho (PV-MA), atual ministro do Meio Ambiente.

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Talvez a parte mais interessante da delação seja o didatismo de Machado ao demonstrar o funcionamento dos sistemas de desvios nas empresas públicas brasileiras, que diz vir de décadas. Segundo ele, no nível federal a propina orbitava em torno dos 3% por contrato, nos níveis estaduais, entre 5% e 10%, e nos municipais o teto poderia chegar a 30% - o lance é que esses tetos saíram de controle nos últimos anos.

Temer parece ter ficado bastante irritado com a delação, e publicamente afirmou que ela é "mentirosa e criminosa" – no particular, parece não ter poupado mesóclises de baixo calão para se referir ao X-9 pemedebista. Não só pela pachorra de querer macular a perenemente instável interinidade da presidência, mas também provavelmente por ofuscar movimentos do Planalto que devem ser vistos como "vitórias" por Temer e equipe.

A primeira foi a apresentação da Proposta de Emenda Constitucional que estabelecimento do teto deinvestimentos do governo. Na prática, a medida – cujo texto está sendo usado pelo ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa na defesa de Dilma no Senado – significa que os gastos do governo, incluindo em saúde e educação, vão diminuir significativamente ao longo dos próximos 20 anos. Se alguém acha que educação e saúde de qualidade eram um problema ainda para Dilma, agora podem entrar na fila da dança do patinho. Além disso Temer resolveu enterrar um dos projetos mais interessantes do segundo governo Lula ao propora extinção da TV Brasil e o sucateamento oficial da EBC – o sonho de ter uma "BBC brasileira" e a mamata de descolarmos de graça as fotos que sempre ilustram esses artigos corre um sério risco de acabar.

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Para além da irritação temerária, os pedidos de prisão contra Jucá, Sarney e Calheiros feitos pela PGR vazados na semana passada, aliados à delação de Machado, fizeram o presidente do Senado cogitar dar entrada em um dos cinco pedidos de impeachment contra o Procurador Geral da República Rodrigo Janot parados em sua mesa. O mais recente, protocolado nesta terça (14), é assinado por duas advogadas que participaram também de um pedido anterior, protocolado pelo MBL. Quando especulávamos sobre os instrumentos possíveis para Temer barrar a Lava Jato, não cogitávamos a participação ativa do Movimento Brasil Livre em manter as engrenagens do Petrolão firmes.

No mundo mais paroquial do aquecimento para as eleições municipais, em São Paulo o prefeito Fernando Haddad (PT) enfrentou com reticência uma série de acusações sobre a negligência da sua administração em relação a morte de cinco moradores de rua na recente onda de extremo frio que se abateu sobre a capital paulista. A administração Haddad foi acusada de permitir à Guarda Civil Municipal retirar barracos e colchões de moradores de rua, sob o pretexto de impedir a "favelização" do espaço público, agravando a situação. Depois de uma semana sob forte ataque de todos os lados, o Carcetti libanês prometeu instalar tendas emergenciais para os moradores de rua, e ainda resolveu proibir o confisco de colchões por parte da GCM. Talvez no debate público as medidas tenham chegado tarde demais, e a lerdeza dialética de Haddad deve continuar sendo usada por adversários como Andrea Matarazzo (PSD) e João Dória Jr (PSDB).

Mas o descalabro institucional nacional segue de vento em popa. O dono do "helicópterodo pó" Gustavo Perrella foi nomeado secretário nacional do Futebol na semana em que a seleção foi eliminada da Copa América com um gol de mão do Peru, e no Rio de Janeiro o governador em exercício Francisco Dornelles (PMDB) decretou "calamidade pública" às vésperas das Olimpíadas graças à crise econômica das contas estaduais, para flexibilizar a maneira como os recursos públicos vão ser gastos até o fim do ano.

Para fechar a tampa? Os procuradores da força-tarefa da Lava Jato afirmam não ter indícios para mandar prender Lula. Para além da presunção da inocência do ex-presidente, outro medo ronda a República de Curitiba: encarcerar Lula seria criar um mártir político. Tem coragem?

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