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Música

Dogs e seus humanos passando frio no concerto para cachorros de Laurie Anderson

"Parece que nunca está frio demais para cheirar bunda."

Laurie Anderson, fotos por Jackson Krule.

Você gostaria de ver um concerto grátis na Times Square? Apresentado pela artista vanguardista Laurie Anderson? Tocando músicas para cachorros? Num puta frio? Parece que muita gente respondeu sim para essas perguntas, e aparentemente eu sou uma delas, porque na noite da última segunda-feira (4) eu estava num táxi rumo a Manhattan com meu cão, o Kerouac, um chow-chow vira-lata de 12 anos. O painel do táxi dizia que estava fazendo -7ºC, mas os ventos de 30 km/h dava uma sensação térmica de muito mais frio.

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Chegando lá, encontrei outras pessoas que tinham feito as mesmas escolhas que eu, todas empacotadas em suas roupas mais pesadas e sentadas nas arquibancadas vermelhas da Duffy Square. Uns 75 cachorros, que não tinham escolhido estar ali porque não podem decidir muito onde vão, também estavam presentes, mas pareciam felizes porque cachorros sempre parecem felizes mesmo. Esse era o tipo de evento que geralmente acontece no Brooklyn, provavelmente num lugar coberto, mas lá estávamos nós.

Uma barraca foi armada na base das arquibancadas oferecendo fones para os humanos que quisessem ouvir o concerto. Coloquei os fones e procurei um lugar na arquibancada, onde muita gente já tinha esticado seus cobertores junto com seus dogs.

Jenny Coffey e Beauregard. Jenny Coffey, que mora em Lower East Side, trouxe seu cachorro de nove anos, Beauregard. Perguntei se ela tinha pegado os biscoitos de cachorro que funcionários estavam distribuindo antes do show. "Sim", respondeu Coffey, "mas não é a marca que ele gosta". Coffey e o marido são grandes fãs de Anderson, "e espero que ele também seja", ela disse, apontando para Beauregard.

"Ele curte música experimental?", perguntei. "Sabe, ele é…", respondeu Coffey, gesticulando enquanto procurava as palavras certas. "Ele é do contra. Ele gosta de seguir seu próprio caminho."

Enquanto uma música ambiente tocava nos meus fones, falei com Steve Cho, Karmen Wu e seu cão esquimó americano Shubert — "como o compositor". Os dois músicos amadores nunca tinham ouvido o trabalho de Anderson antes, mas ficaram sabendo do show pelo New York Times.

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Quando perguntei se eles achavam que Schubert ia gostar do concerto, Wu respondeu que não sabia.

"Sabemos que ele odeia piano", ela explicou. "Ele gosta de violoncelo. Talvez ele goste de coisas em frequência mais baixa."

Passei algum tempo reparando se Kerouac estava gostando o show, esperando que ele reagisse à música específica para cachorros de algum jeito interessante, mas ele parecia não estar sendo afetado, só contente de estar no meio de estranhos que às vezes abaixavam para fazer carinho nele.

"Só quero colocar as mãos nisso", ouvi um transeunte dizendo para ele, provavelmente falando do seu pelo grosso.

O autor e Kerouac.

Um pouco antes da meia-noite, metade das telas gigantes que cercam a Duffy Square começaram a passar um seguimento de três minutos do documentário premiado de Anderson, Coração de Cachorro, uma coleção de histórias íntimas sobre amigos, memória, morte e cães. A outra metade das telas continuou passando os comerciais de sempre.

Depois que o trecho acabou e as telas voltaram à sua programação normal, a multidão começou a descer as escadas da arquibancada.

Uma mulher sem cachorro de cabelo rosa notou Kerouac e outro cão rodeando um ao outro. "Parece que nunca está frio demais para cheirar bunda", ela disse.

Era o tipo de noite fria onde você se vê falando coisas sem sentido tipo essa. Quando estávamos na fila para devolver os fones, uma moça disse "Se todo mundo ficasse bem juntinho…", aí parou, como se tivesse percebido que estava pensando alto, ou como se não tivesse energia ou calor corporal suficiente para continuar falando.

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Jonathan Nosan e Clover. Quando estávamos indo embora, perguntei a Jonathan Nosan, um contorcionista, se sua beagle de nove anos Clover tinha gostado do show. "Ela ficou mexendo a cabeça", ele disse. "Ela ficou com a cabeça meio inclinada." Nosan disse que tinha gostado do evento. "Foi um momento do tipo 'Nova York não é tão ruim assim", ele disse. "A Times Square não é tão escrota". "Depois de 20 anos aqui, é fácil ficar meio desencantado", continuou Nosan. "Aí alguma coisa linda, artística e imensa assim acontece. Fiquei muito feliz." Siga o James no Twitter e o Jackson no Instagram. Veja mais fotos abaixo.

Tradução: Marina Schnoor