Garotas de Cidade Pequena

FYI.

This story is over 5 years old.

Viagem

Garotas de Cidade Pequena

Elize Strydom viajou o mundo fotografando a o dia a dia das garotas que vemos todos os dias.

Nossa obsessão moderna por adolescentes é amplamente documentada e, às vezes, meio bizarra. Não nos cansamos de histórias cheias de palavras como amadurecer, rubor e desabrochar. Mas a fetichização da juventude – especialmente de garotas – pode ser algo difícil de se representar honestamente. Isso estava na mente de Elize Strydom quando ela começou seu projeto fotográfico Small Town Girl. Ela conviveu com garotas de várias partes do mundo e fotografou os momentos cotidianos que formam suas experiências adolescentes.

Publicidade

VICE: Primeiro, você é de uma cidade pequena?
Elize Strydom: Sim, me mudei para Sydney uns cinco anos atrás. Cresci no interior e frequentei a universidade regional de Lismore, norte de NGS [Nova Gales do Sul]. Meu primeiro emprego foi numa rádio na minha cidade natal e depois trabalhei em outra cidade próxima, em outra rádio local. Então, passei minha vida toda em cidades pequenas.

De onde veio essa ideia?
Fazer amizade com garotas que cresceram em Sydney me fez pensar que tivemos vidas muito diferentes. Elas falavam sobre suas experiências de pegar o trem na cidade e ir a shows, disfarçar a idade para entrar em baladas aos 15 ou 16 anos. E eu pensava: "Que shows?". Isso não fez parte da minha adolescência. Isso me fez pensar: "Ah, talvez as coisas tenham sido diferentes para mim".

Além disso, fiz 28 ou 29 anos e percebi que tinha sido adolescente dez anos atrás. Mas parecia ontem. Achei que seria legal revisitar meus anos de adolescência através de outras jovens mulheres. Eu não tinha um nome para isso ainda: só conheci algumas garotas, tirei algumas semanas de folga do trabalho, perguntei se podia ficar na casa delas e acompanhá-las por aí, documentando seus cotidianos.

Isso foi além da Austrália, certo?
No começo, era apenas a Austrália; aí, pensei que seria legal fazer isso nos EUA, porque esse era um país que eu idolatrava quando era adolescente. Eu pensava: "Queria tanto ir a um acampamento de verão". Eu romantizava o que via nos programas e filmes americanos.

Publicidade

Quando você ficou com essas garotas americanas, isso foi como a fantasia que você tinha quando era adolescente?
Sim! Mas uma coisa com que fiquei surpresa é que nem toda garota adolescente vai ao acampamento de verão. Eu achava que todo adolescente americano fazia isso, essa ilusão foi destruída. Mas, mesmo assim, algumas vezes estávamos indo ao Starbucks ou ao shopping, e eu pensava "Estou num filme!".

Há similaridade entre as garotas que cresceram em cidades de tamanho parecido, mesmo que em países diferentes?
Sim. A importância da família, principalmente. Elas ficam mais isoladas e seus amigos podem não morar perto. É muito mais difícil se reunir e socializar; então, os irmãos se tornam seus melhores amigos e elas passam muito mais tempo em casa com eles. Especialmente nos EUA, notei que a família vem em primeiro lugar.

Por que garotas em vez de adolescentes no geral?
Achei que os sentimentos e as experiências de mulheres jovens – especialmente em cidades pequenas e lugares isolados – não são tão amplamente legitimados. Eu queria mostrar essas garotas e, como eu disse antes, queria reviver meus anos de adolescência.

Falamos sobre essa ideia glamourizada do que é ser adolescente, especialmente nos EUA. E há muito disso na arte e na cultura pop no momento. Você acha que fetichizamos o que é ser uma garota na adolescência?
Definitivamente. E me preocupei que meu trabalho pudesse estar apenas acrescentando algo a isso. Mas o que tento é não pensar "OK, quero tirar uma foto dela fazendo isso, porque quero que isso pareça assim". Na verdade, eu não sabia quase nada sobre elas antes de chegar. Elas podiam ser realmente notáveis ou só fazer as coisas delas. Tentei me envolver com seja lá o que elas estivessem tentando apresentar e capturar isso.

Publicidade

Small Town Girl – Australia, South Africa and the USA fica em exposição de 14 a 20 de maio na Gaffa Gallery em Sydney, Austrália.

Entrevista por Wendy Syfret. Siga-a no Twitter.

Tradução: Marina Schnoor