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Stoya Fala Sobre Por Que Las Vegas e Megaigrejas São o Ápice da Realização Humana

Um pouco sobre passarinhos e seres humanos.
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Por Stoya

Os machos do pássaro-cetim são pequenos arquitetos aviários. Eles constroem estruturas decorativas como demonstração de aptidão genética ou desejo sexual, depois enfeitam essas estruturas com qualquer coisa colorida que encontram e que consideram visualmente atraente. Às vezes eles caçam besouros e os usam como obras de arte em vez de comê-los. O carinha com a torre maior e mais bonita consegue mais fêmeas, depois elas vão embora para chocar e criar seus filhotes sozinhas. Eles são os grandes solteirões da natureza. Bonobos fazem sexo por diversão. Sabe-se que eles usam a língua quando beijam. Bonobos fêmeas fazem sexo com outras fêmeas e machos com outros machos. Já foram documentadas orgias entre eles muito parecidas com o que você imagina que acontecem numa casa de swing, só que com mais pelos. Bonobos transam porque estão estressados e transam porque estão entediados. Estou simplificando aqui para efeito cômico, se você quiser saber mais, recomendo a leitura de A Mente Seletiva, de Geoffrey Miller.

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Os seres humanos não são, de modo algum, os únicos animais a se envolver em comportamentos que não contribuem diretamente com a sobrevivência do indivíduo ou da espécie como um todo. No entanto, parecemos ter esses comportamentos mais que qualquer outra criatura. Veja bem, em algum momento os humanos descobriram coisas como a agricultura e acabaram com um monte de tempo livre e recursos sobressalentes. Tiramos vantagem disso para procriar como coelhos, dominar a Terra e começar brigas com outras tribos. Construímos vilas e cidades. Desenvolvemos a tecnologia, começando com ferramentas simples, e eventualmente construímos coisas como computadores e naves espaciais.

Agora temos moda, café, códigos morais, pornografia, mansões e comédia. Transformamos nossas exibições de recursos sobressalentes (o que mais pode ser uma casa de cinco quartos para uma pessoa só ou um vestido de US$14 mil com o qual mal dá para sentar?) em grandes indústrias. Inventamos o dinheiro e o sistema bancário. Não sei onde exatamente o capitalismo entra nessa equação, mas (pelo menos no mundo desenvolvido) nossas vidas são dominadas por esse conjunto de rituais e leis cercando pedaços de papel e de metal que só têm valor porque concordamos que têm… E esses pedaços de papel e metal agora são secundários aos balanços bancários intangíveis e transações com cartão de débito.

Também temos Las Vegas, que é o poço de tragar dinheiro mais brilhante e devasso em que já pisei. Jogar é uma maneira emocionante de entregar seu dinheiro para um cassino em troca do barato totalmente legal de noradrenalina. Claro, às vezes você ganha uma partida aqui e ali, mas no final do dia a casa sempre fica com a melhor metade do negócio. O slogan “O que acontece em Vegas, fica em Vegas” diz aos visitantes que eles podem tirar seus ids da coleira. Ele diz que há uma cidade inteira que encoraja a pessoa comum a ceder a todos os seus impulsos até o dinheiro acabar. Os cassinos de Las Vegas são alimentados pelo capitalismo e por excessos de todos os tipos, e é precisamente por isso que argumento que eles são metade do ápice da realização humana até o momento.

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Foto por Jeff Koga. (Obs.: Não é uma freira de verdade.)

Durante certo momento da Adult Entertainment Expo de janeiro, eu estava no Hard Rock Hotel ouvindo “Hangover” do Taio Cruz. A música celebra o ato de beber demais e é daquelas que realmente grudam na cabeça. Eu estava empoleirada num sofá de veludo com uma taça de prosecco na mão, me entretendo tentando adivinhar quais das mulheres se equilibrando em sapatos quase disfuncionais eram convidadas de despedidas de solteira e quais eram colegas da indústria do sexo. Fora as vestimentas quase uniformes que faziam muito pouco para protegê-las dos elementos, os dois extremos desse espectro pareciam ter o objetivo comum de fazer as pessoas se sentirem bem. Os humanos tendem a fazer coisas apenas com o objetivo de se sentir bem. Alguns de nós gostam de se sentir bem fazendo sexo por diversão, ficando bêbados ou dançando ao som do baixo. Alguns gostam de se sentir bem comendo coisas que são uma combinação deliciosa de açúcar, sal e gordura, ou aprendendo alguma coisa, ou usando o intelecto para fazer coisas que acham que vão melhorar a humanidade. Outros gostam de se sentir moralmente superiores através da abstinência e sobriedade.

Esse último grupo tende a congregar nesses espaços chamados igrejas. A menos de 25 quilômetros de distância do Hard Rock Hotel existem várias megaigrejas. Elas geralmente têm telões e luzes por trás do pastor que lembram muito um grande show de rock ou uma apresentação de um DJ famoso. Elas atraem milhares de fiéis toda semana para grandes campi. Participar do culto em um desses lugares tem sido descrito como um vício. A congregação entrega seu dinheiro para a igreja como dízimo em troca disso e se sente contribuindo com a comunidade e seguindo a palavra de Deus. Algo muito parecido com jogar em máquinas caça-níqueis: a pessoa paga pela habilidade intangível de se sentir bem. Por mais que eu discorde da maioria de suas mensagens, as igrejas são a outra metade do ápice da realização humana.

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Quando olho para Las Vegas, vejo uma mensagem concreta piscando em néon para o universo de que a humanidade não vai se contentar com cavernas e forragem. Tanto as igrejas quanto os cassinos são monumentos decadentes no deserto que dizem que estamos tão evoluídos que podemos devotar grande parte do nosso tempo para saciar a nós mesmos ou policiar moralmente quem faz isso. Nossas crenças e as especificidades dos nossos rituais podem diferir, mas, no final das contas, os instintos que nos guiam são muito parecidos.

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