Em Cuba não há cursos de tatuagem, não se encontram livros sobre o assunto, não se produz máquinas de tatuar ou tintas e nada disso se pode importar legalmente. Tatuador também não é considerado uma profissão oficial no país. Ou seja, pela lei, tatuar é algo clandestino.
Mas Fidel deveria saber que tudo que é proibido é mais gostoso. Pelas ruas de Havana é muito fácil encontrar tatuados, sejam tiozinhos ou jovens, e inclusive alguns estúdios - mesmo que com entradas não muito sedutoras. Vivendo a noite habanera por 33 dias, o tipo com as tatuagens mais bacanas que conheci foi um dealer que estava em todas as festas. Ele me recomendou um estúdio na avenida 23 do bairro Vedado. "Diga que é meu amigo". Isso sempre ajuda.
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Chegando no lugar encontrei Rioger Martinez, de 23 anos de idade e dois de profissão. Ele estudou desenho e começou como todos os cubanos: "Tinha uma máquina caseira e tinta improvisada, todo mundo aqui já passou por isso". O problema, segundo ele, são mesmo os equipamentos e a tinta, porque depende de alguém que traga do exterior, não se pode nem comprar pela internet e mandar entregar na ilha.
No estúdio, Rioger atende em média duas pessoas por dia a um preço médio de 80 reais, dependendo do tamanho do desenho e da nacionalidade da pessoa - para os turistas tudo é mais caro. Como já havia terminado os passarinhos nas costas de uma garota e o lugar estava vazio, pedi algo para mim.
Quando moleque, minha família extremamente conservadora dizia que se eu fizesse tatuagem perderia o direito a herança - algo que provavelmente nem existe. Como já fiz alguns rabiscos pelo corpo, dentre eles a sigla ACAB (All Cops Are Bastards) feita pelo vice-presidente de uma torcida organizada, acho que não estou mais na lista de benefício familiar algum, então não haveria motivos para não ter uma lembrança especial de Cuba. Como queria algo local, fui buscar inspiração na propaganda revolucionária de Fidel, que tem como lema "Estudo, Trabalho e Fuzil". Escolhi o último e recebi o desenho da famosa AK-47, a preferida dos guerrilheiros.
Já com a agulha na mão, Rioger contou que temas comunistas ou revolucionários não são mais feitos na ilha, a não ser para turistas. "Sempre que tatuei Che Guevara foi para um estrangeiro, os cubanos não ligam mais para essas histórias, eles querem outras coisas".
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Pra você não pagar de turista em Cuba, saca só o que os locais tatuam: