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O Protesto pela Água em SP Começou Tenso

Imprensa, manifestantes e transeuntes ficaram encurralados no vão do Masp pela PM durante quase uma hora.
Foto: Felipe Larozza/VICE

Começou tenso o terceiro ato pela água realizado ontem (11) em São Paulo. A concentração teve início às 17h no vão-livre do Masp (Museu de Arte de São Paulo) e juntou cerca de 200 pessoas.

Rafaela, do grupo Lute pela Água – que convoca pela terceira vez um protesto relacionado à falta de água em São Paulo (os outros dois aconteceram em 2014) –, explica: "Somos uma junção de coletivos, frentes e indivíduos, como a Frente Independente Popular (FIP), a Unidade Vermelha e a Base Popular. Pedimos a autogestão da Sabesp. Se o governo não dá conta de administrar a Sabesp, que ela seja administrada pelo povo. Outra coisa é a culpabilização. A população não é culpada pela crise".

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Em menos de uma hora de concentração, o clima entre Polícia Militar e manifestantes esquentou. Isso porque, de repente, os policiais bloquearam a passagem de quem estava no vão. Ninguém podia sair, fosse transeunte, manifestante e até mesmo imprensa.

De acordo com a polícia, o cerco foi feito porque ninguém do protesto dialogou com a PM sobre o trajeto. "Isso nos faz entender que não há somente a intenção de manifestar um direito. Existem outras intenções escondidas", disse o capitão Aurimar – com uma câmera GoPro acoplada ao peito –, responsável pelo efetivo do dia.

Rodrigo Antônio, militante do Território Livre, conversou com um tenente da polícia. "Ele estava pedindo que houvesse liderança identificada do ato. Lembrei que não existe nenhuma lei que peça isso como algo obrigatório. Uma manifestação como a de hoje, com diversos coletivos, não precisa de um líder. Isso daí, na verdade, foi um modus operandi criado durante [os protestos da] Copa do Mundo em que, claramente, eles [policiais] atacaram as liberdades democráticas. E o legado ficou", falou à VICE.

Alguns jovens foram abordados pela PM, tendo suas mochilas revistadas e seus documentos anotados para averiguação. De acordo com o capitão, essas pessoas tinham um "provável perfil de black blocs".

Nos primeiros minutos da ação, que durou quase uma hora, se deu mal um sujeito ou outro que tentou ultrapassar o cordão humano composto por policiais. De acordo com os manifestantes, duas pessoas foram detidas. A PM não confirmou a informação.

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Assustados, alguns manifestantes tiraram os sapatos e enfiaram os pés num canteiro de água (bem suja) que dava acesso à calçada. Uma eventual ação violenta por parte da PM, como o arremesso de bombas de gás ou balas de borracha, causaria um verdadeiro desastre ali.

O vão do Masp, localizado em plena Avenida Paulista, é um lugar alto. Suas costas dão para uma mureta que fica a pelo menos 15 metros do chão da rua de trás. Mortes acidentais já aconteceram no local.

Se os protestos deste ano parecem não vingar, Rafaela acha que a "realidade de 2013 é totalmente diferente de 2015", pois "ficou na rua quem sempre esteve". Para ela, outro fator que repele novos manifestantes é a violência policial. "Andar envelopado pela polícia num protesto é algo que assusta as pessoas", frisa.

Depois que a PM liberou o cerco no vão do Masp, por volta das 19h45, a manifestação andou pela cidade até as 21h, parando em frente a pontos estratégicos, como a Secretaria de Saneamento de Recursos Hídricos, na Rua Bela Cintra, e o Reservatório da Sabesp, na Rua da Consolação.

Em todos os lugares, era feito um jogral – o que fez todo mundo entender que o trajeto tinha sido desenhado com antecedência.

Uma questão que ficou no ar: se o ato estava todo programado, com pontos definidos, valeu a pena não dialogar com a polícia antes e colocar todos os presentes em risco por mais de uma hora no vão do Masp?

Depois de passar pelo Parque Augusta e apoiar a causa do coletivo que se opõe à construção imobiliária no local, o protesto acabou pacificamente na Praça Roosevelt.

Ali, antes de ir pra casa, policiais foram alvos de piada por parte de alguns manifestantes: "Acabou, hein, polícia. Agora é hora de ir na (sic) padaria comer aquela coxinha e tomar água limpa."