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Trabalho Como "Mesa Humana" em Casamentos Indianos Porque Sou Branca

Uma nova tendência está em ascensão entre a classe média indiana. Eles começaram a empregar garotas brancas ocidentais em casamentos para fazer várias coisas estranhas simplesmente porque elas são brancas e ocidentais.

Uma mensagem típica do meu empregador: três dançarinas de dança do ventre para o dia 11, Deli, elas ganham oito mil agora, dúvidas e informações entre em contato com ele / 3 dançarinas de dança do ventre, nove mil, dia 11.. Por favor envie mensagem para mim… / Meninas, o que vocês estão fazendo pegando trabalhos por apenas 3.500 ou 4.000??? Isso faz os clientes pagarem só 5.000 para nós… Não façam isso, moças. Não cobrem o mesmo que as garotas feias indianas… É um pedido.

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“Eu fiz faculdade, sabe”, digo para o semicírculo de homens bigodudos ao meu redor, mas eles não dão muita bola. “E eles me pagam 10 mil rúpias [cerca de R$ 380].” A expressão deles muda rapidamente; eles parecem interessados. “Mas isso é muito dinheiro”, eles dizem. Sim, é mesmo. Por que mais eu estaria fazendo isso? Poucos trabalhos são tão ruins que fazem você ter inveja de uma stripper. Vejo ela lá, suspensa naquele copo de coquetel gigante, iluminadas pelos lasers verdes, gelo seco e as encaradas penetrantes de um bando de homens de meia-idade, rodopiando naquele mastro como se fosse a dona do lugar.

Que vaca sortuda.

Eu queria ter o trabalho dela. Em vez disso sou um objeto inanimado esta noite. Não no sentido de ser objetificada, tipo: “Mulheres são pedaços de carne”. Não, literalmente. Hoje eu sou uma mesa! Uma mesa humana usando um chapéu de bombeiro que brilha no escuro.

Ser uma mesa é tipo isso.

Bem-vindo ao estranho e maravilhoso mundo dos “Trampos para Minas Brancas” da Índia. Toda mochileira que já andou pelas ruas de Bombaim encontrou esses caras supersimpáticos, que espreitam os arredores do Leopold Cafe tentando recrutar viajantes aleatórias para “papéis principais” em blockbusters de Bollywood. Isso já é um negócio manjado. Assista a qualquer filme recente do Boolywood e você vai notar que em quase toda danceteria, clube ou qualquer outra cena de festa tem um grupo de homens ou mulheres brancos inexplicavelmente perdidos entre os atores profissionais e parecendo perdidos ou confusos.

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Mas, agora, uma nova tendência está em ascensão entre a classe média indiana. Eles começaram a empregar garotas brancas ocidentais em casamentos para fazer várias coisas estranhas simplesmente porque elas são – nós somos – brancas e ocidentais. Os trabalhos variam desde receber os convidados vestida de soldado da Guarda Britânica, a guiar os noivos no cortejo de casamento no lombo de um cavalo ou ainda, a ser uma estátua humana.

Ou, no meu caso, servir bebidas vestida de mesa – e esperar as pessoas colocarem os copos vazios de volta no meu tampo. É realmente um negócio tão fascinante e constrangedor quanto parece.

Num casamento indiano não podem faltar luxos como lagostas e perus crus. 

Mas o trabalho paga bem e, na maioria das vezes, essa é a questão. É impossível ignorar as incômodas conotações raciais e pós-coloniais em jogo aqui. Seja lá por que razão, indianos ricos valorizam a pele branca, e qualquer um que tenha dinheiro suficiente para pagar gente etnicamente branca para trabalhar como um móvel vivo em seu casamento é um bambambã.

No Império, um amante da Índia colonial não valia nada sem seu harém de artistas indianos. De encantadores de serpentes a tocadores de cítara, os imperialistas adoravam estar cercados com o que, para eles, parecia exótico. Hoje, os papéis se inverteram – uma ironia refletida em mim agora, parada aqui segurando esses copos.

Aparentemente, a organização do casamento não tinha mais com o que gastar o orçamento.

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Do começo ao fim, a experiência foi insana. Recebi um telefonema de uma mulher de voz grossa, que parecia ser do leste europeu, cujo trabalho é aprovar as fotos e as medidas das garotas, depois acertar a hora e o local onde o pessoal da agência vai buscá-las. No meu caso, foi numa estação no subúrbio da cidade. “Esteja lá às 5h em ponto, do contrário, nada de pagamento!”, ela avisou. “Eu estou falando sério, garota. Não brinque comigo!”

Cheguei lá às 5h e… nada. Lá pelas 6h, mais garotas chegaram – a maioria russas com caras tristes e que só falavam russo. Às 7h, um dos caras que tinha me recrutado no centro de Bombaim apareceu carregando três celulares cagados e falando em dois deles ao mesmo tempo. O nome dele era Pinky. Ele tinha acabado de instalar o WhatsApp e perguntou se podia me adicionar.

Quando vi, todas nós estávamos sendo enfiadas num Toyota Innova branco com a palavra “TURISTA” adesivada na lateral – como se tudo isso já não fosse suspeito o suficiente – e levadas para deus sabe onde. Sério, eu não fazia a menor ideia para onde estávamos indo. Eu achei que ia fazer um trabalho de duas, três horas nos arredores de Deli, e acabei parando sete horas e 300 quilômetros depois em Ludhiana, Punjabe.

Chegando lá, acabei ficando na Sala Verde por um tempo indefinido, enquanto o “Cliente” (cuja identidade é raramente revelada) decidia qual de nós teria a sorte de trabalhar na festa dele. Enquanto o processo se desenrolava, recebíamos a atenção de alguns rappers de Punjabe. “Eles moram no Canadá”, me disseram várias vezes naquela noite. “Eles são muito famosos.”

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A sala verde: “Rappers famosos de Punjabe… Eles moram no Canadá”.

A maioria das garotas que conheci fazia estágio ou estudava em Deli, e aceitava esses trabalhos bizarros para pagar as contas. Uma delas disse que “não podia acreditar” a que ponto tinha chegado. “É isso que consegui ralando três anos em Oxford – estou aqui usando um turbante e fingindo tocar violino com uma música de saxofone ao fundo.”

Algumas das garotas – pela minha experiência, principalmente russas – trabalham em tempo integral na área. Elas recebem mais de 80 mil rúpias por mês (R$ 3.000 – nada mal na Índia), e ainda têm acomodações e despesas cobertas. Essas garotas, no entanto, não podem recusar praticamente nenhum trabalho, não importa onde, o que ou quanto tempo demore.

A maioria delas parecia não ter do que reclamar, mas aquilo tudo parecia meio estranho e fodido para mim. Talvez elas trabalhem nisso até se tornarem a voz do outro lado da linha, a mulher do leste europeu que ameaça as meninas para que não se atrasem.

O palco. Esse teve de tudo, de strippers a karaokê hindu.

No final das contas, não posso realmente reclamar de exploração por ter uma pele de alabastro num país onde milhões de pessoas são exploradas todos os dias por terem o tom de pele “errado”. Recebi R$ 380 por duas horas de trabalho – uma compensação relativamente grande (apesar de frustrante quase até o ponto de eu ter um aneurisma) por um trabalho assim. A principal desigualdade, parecia, não caía sobre mim – ou mesmo sobre os caras que achavam que precisavam jogar dinheiro para o alto unicamente para ter minas brancas dançando “Sunny Sunny Yaariyan” com eles na pista. O que eu estava ganhando era o dobro do que as garotas indianas receberam pelo mesmo evento. E por quê? Só porque sou uma garota branca ocidental.

Acho que você pode chamar isso de exploração positiva. Mas enquanto eu estava lá, sendo uma mesa, eu não me senti nem um pouco positiva.

Tradução: Marina Schnoor