Como um Morador da Favela Boogie Woogie, no RJ, Fez um Filme Com Menos de R$ 100
Crédito: Fabrício Meilhac/ Divulgação

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Como um Morador da Favela Boogie Woogie, no RJ, Fez um Filme Com Menos de R$ 100

Sem grana e cheio de ideias, o jovem cineasta Fabrício Meilhac está disposto a pedir contribuições pelas ruas para levar sua ficção aos festivais internacionais.

Com o piso salarial de auxiliar administrativo e empréstimos, o jovem fotógrafo Fabrício Meilhac, de 21 anos, comprou uma câmera para se dedicar à profissão. Morador da favela Boogie Woogie, instalada na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, ele declinou de assuntos exaustivamente explorados pelo cinema, como a violência e o tráfico local, para enfatizar questões ecológicas no curta-metragem Treinamento Ambiental.

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Apesar do nome e do assunto, a pegada é outra. Produzido com menos de R$ 100, o filme mudo e em preto e branco apresenta uma dama do século passado que se depara com um cenário pós-milenar modificado pela civilização contemporânea: a Baía de Guanabara, tida como uma das mais belas do mundo, completamente poluída. "A Ilha do Governador é cercada pela Baía; sendo assim, todas as praias são poluídas também. E, quando eu digo poluição, é algo surreal, algo totalmente nocivo à saúde", justifica o fotógrafo e agora cineasta, que usou a realidade para ilustrar sua ficção.

A situação da Baía de Guanabara é mesmo grave: em alguns trechos, fezes humanas dividem espaço com peixes mortos em decomposição. Muita coisa desemboca ali, como água de banheiros, chuveiros e pias. Além de atrair banhistas que moram nos arredores – algo gravíssimo, dada a quantidade de bactérias e germes existentes –, o local será palco dos Jogos Olímpicos de 2016. O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), já avisou: não conseguirá despoluí-la totalmente até o início das competições.

Leia mais: Pesca, Muito Lixo e Pouca Esperança para a Baía de Guanabara

Estudante da ESPOCC (Escola Popular de Comunicação Crítica), situada no Observatório de Favelas da Maré, Fabrício escreveu, produziu, filmou e editou Treinamento Ambiental. Com menos de R$ 100, comprou passagens, alimentação e o vestido usado pela atriz Rafaela Sarmento. "Tudo foi filmado em três dias. Gravei com a minha câmera e só." O músico João Caetano, assim como a atriz, também trabalhou no projeto sem ganhar cachê.

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Frame do filme Treinamento Ambiental. Crédito: Fabrício Meilhac/ Divulgação

Agora, o plano de Fabrício é enviar o filme para festivais em Berlim e Londres. Por isso, ele montou um crowdfunding para pedir módicos R$ 700. "Usarei só para enviar aos festivais e para criar alguns materiais de divulgação. Caso ele seja selecionado, contarei com a sorte de ter alguma produtora interessada em seguir adiante com as despesas."

Se o dinheiro não vingar pela internet, Fabrício está disposto a tudo. "Pretendo fazer camisetas e reunir alguns amigos para irmos às ruas. Falaremos sobre o projeto e pediremos uma contribuição", relata. "Falaram que é uma ideia meio louca, mas eu acredito que dê certo. Na minha criação, me ensinaram a não ter esses preconceitos. Se tivermos de ir às ruas vender bala, brigadeiro, panfletar ou pedir contribuições para um projeto nosso, para comer ou qualquer coisa do tipo, iremos."

Boa sorte, Fabrício.

Para colaborar com o crowdfunding do filme Treinamento Ambiental, clique aqui.

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