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Tudo que Sabemos Até Agora Sobre os Haitianos Baleados em SP

Enquanto a polícia investiga o ataque, imigrantes que frequentam a região do Glicério convivem com o terror.

Haitianos que frequentam o bairro do Glicério, em São Paulo. Foto: Felipe Larozza/VICE

A imprensa levou alguns dias para publicar a notícia de que seis haitianos haviam sido atingidos por armas de fogo no sábado (1º), no bairro do Glicério, em São Paulo. O padre Paolo Parise, responsável pela Paróquia Nossa Senhora da Paz, que abriga centenas de imigrantes na região, explicou por telefone que, por motivos de segurança, tentou não divulgar o caso. "Foi a tentativa de não dar uma afirmação ambígua", afirmou. "Quem passou a notícia [para a imprensa] cometeu uma série de erros, dizendo que um tinha morrido, que os tiros tinham sido na igreja, na escadaria. Um erro pior que o outro."

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A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que o caso é responsabilidade do 1º Distrito Policial, no bairro da Liberdade, que investiga a possibilidade de o ocorrido estar ligado à xenofobia [aversão a estrangeiros].

NO SÁBADO À NOITE
Andando sozinho pela rua, o haitiano Gregory Deralus, de 34 anos, sentiu algo estalar em sua perna, próximo ao joelho direito. "Achei que tinha levado uma pedrada", falou à VICE. "Quando cheguei em casa, passei a mão e vi que tinha sangue." No domingo pela manhã, ele foi até a igreja e relatou o acontecido. Nesse momento, ouviu seus "amigos de Deus" dizendo que outras pessoas também foram alvejadas na mesma noite. "Todo mundo me falou pra ir ao hospital fazer um exame." No sábado, Gregory sentiu dor e desconforto, mas garante que agora passa bem.

Haitianos que frequentam a região do Glicério, em São Paulo. Foto: Felipe Larozza/VICE

No mesmo dia, outros quatro haitianos também passaram pela mesma situação. De acordo com o Boletim de Ocorrência a qual a VICE teve acesso, um Guarda Civil Metropolitano afirma que quatro haitianos foram alvos de "disparos de arma de fogo, provavelmente 'chumbinho'". As vítimas (três homens e uma mulher) não se conheciam. O boletim atesta também que os disparos teriam sido efetuados por alguém que estava dentro de um carro, cuja cor e placa não foram anotadas, e que teria gritado "Haitianos!". Essa última informação foi negada pelo padre Paolo Parise, que conta ter conversado com as vítimas. "Ninguém ouviu aquela frase. Ninguém", reforçou.

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A SSP-SP confirmou os boletins acima. Entretanto, de acordo com o pároco, há ainda uma sexta vítima, cujas iniciais são J. L., que também teria sido alvejada e registrado um terceiro boletim de ocorrência.

BALAS DE CHUMBINHO
Por e-mail, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informou que seis haitianos foram atendidos na última sexta-feira (7), no Hospital Municipal Doutor Carmino Caricchio, no bairro do Tatuapé. O motivo do atendimento médico teria sido por conta de "ferimentos causados por estilhaços de balas de chumbinho".

De acordo com a pasta, dois haitianos "foram submetidos a exames pré-operatórios e passarão por procedimentos cirúrgicos para retirada de estilhaços na próxima semana", enquanto os demais foram liberados.

XENOFOBIA OU RETALIAÇÃO?
Segundo o padre Paolo, que diariamente lida com imigrantes na região do Glicério, podem existir duas justificativas para a ocorrência. A primeira delas é xenofobia, já que muitas pessoas realmente acreditam na hipótese estapafúrdia de que imigrantes venham ao Brasil roubar empregos e espaço de quem nasceu por aqui. A segunda possibilidade seria retaliação, pois, de acordo com testemunhas ouvidas pelo padre, recentemente um haitiano teria socorrido uma mulher que estava sendo assaltada.

Sob responsabilidade da Polícia Civil, o caso segue sendo investigado. Enquanto isso, haitianos e imigrantes que frequentam a região do Glicério convivem com o terror de que algo similar aconteça novamente.