Um Ano Depois da Morte de Ald e Anormal, os Pixadores Ainda Clamam por Justiça

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Um Ano Depois da Morte de Ald e Anormal, os Pixadores Ainda Clamam por Justiça

Ontem (30), pixadores de São Paulo saíram com velas e faixas pelo centro da cidade protestando contra a morte de seus amigos.

Ontem (30), pixadores de São Paulo saíram com velas e faixas pelo centro da cidade protestando contra a morte de Alex Dalla Vecchia Costa "Ald" (que assinava Jets) e Ailton dos Santos (Anormal), que ocorreu no ano passado e completa um ano nesta sexta-feira (31). Eles também contestavam a liminar de soltura concedida pelo desembargador Francisco Bruno, da 10ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de SP, aos cinco policiais responsáveis pelas mortes.

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Foto: Felipe Larozza/VICE

Cerca de 50 pessoas se reuniram no Point dos Pixadores, local próximo à Avenida São João, no centro, onde placas com fotos de vários pixadores mortos pela Polícia Militar nos últimos anos eram exibidas.

Érica Ferreira, ex-mulher do pixador Alex Dalla Vechia "Ald". Foto: Felipe Larozza/VICE

Ex-mulher de Alex, a também pixadora Érica Ferreira estava no ato com seus dois filhos. "Queremos ver os policiais presos", desabafou.

Foto: Felipe Larozza/VICE

Considerada crime ambiental, a pixação infringe o artigo 65 da Constituição brasileira. Quem é flagrado pixando pode ser detido de três meses a um ano e ficar sujeito ao pagamento de multa. "O Alex tinha mais de 20 processos por causa de pixação, mas não tinha de pagar com a vida", afirmou Érica.

Tatei (à direita), amigo dos pixadores mortos, e integrantes da torcida organizada Pavilhão 9. Foto: Felipe Larozza/VICE

Também estiveram presentes no protesto integrantes da torcida organizada Pavilhão 9, do Corinthians, que em abril deste ano foi alvo de uma brutal chacina. Amigo dos pixadores mortos, Tatei, integrante da Pavilhão e do grupo de pixo Túmulos, falou à VICE: "O assassinato do Alex e do Ailton foi forjado. Pixador não entra armado num prédio. Os caras entram porque o porteiro vacila. O cara jamais vai entrar num apartamento pra roubar. Ele quer o topo [do prédio] pra ganhar um destaque lá em cima".

Recentemente, pixadores estiveram num ato organizado pela torcida. "Estamos fortalecendo uns aos outros pra que os mortos não fiquem calados. Eles têm voz, e a voz somos nós. Estamos vivos", falou.

Ato em frente ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Foto: Felipe Larozza/VICE

O trajeto passou pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo e terminou em frente ao Tribunal de Justiça, na Sé. Policiais militares escudavam ambos os locais. "Se o desembargador Francisco Bruno não estiver em expediente, vai ficar registrado que estivemos aqui", disse ao microfone um dos manifestantes. Durante todo o caminho, os pixadores entoavam letras de rap, como "IML", do Facção Central. "A paz tá morta, desfigurada no IML. A marcha fúnebre prossegue", cantaram.

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Eliete dos Santos, viúva do pixador Ailton dos Santos. Foto: Felipe Larozza/VICE

Viúva de Ailton, Eliete dos Santos relembrou a paixão do marido pelo pixo, embora ela nunca tivesse sido a favor da prática. "Ele era uma pessoa maravilhosa, um ótimo pai, trabalhador. Gostava, sim, de pixar. Era uma coisa que ele amava de paixão."

Foto: Felipe Larozza/VICE

O promotor do caso, Tomás Busnardo Ramadan, informou que pediu vista no processo há cerca de 20 dias para checar se os policiais envolvidos estão comparecendo semanalmente ao fórum – condição para que respondam ao processo em liberdade. Caso a frequência não atenda aos requisitos, o promotor irá pedir novamente a prisão dos réus.

Foto: Felipe Larozza/VICE

Procurado pela reportagem da VICE, o advogado dos policiais, João Carlos Campanini, não retornou as ligações até o fechamento desta matéria.