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Um “Blue Bloc” Invadiu as Ruas de Roma no Fim de Semana

A Rua Vittorio Venetto, uma das ruas mais famosas de Roma, foi tomada por manifestantes enraivecidos contra as medidas de austeridade impostas pela nova coalizão do governo italiano encabeçada pelo líder do Partido Democrático, Matteo Renzi.

Fotos por Riccardo De Luca.

Sábado passado, vários partidos e grupos políticos da extrema-esquerda italiana marcharam enraivecidos pelas ruas de Roma. Eles se juntaram para protestar contra o que eles acreditam ser medidas de austeridade desestabilizadoras, impostas pela nova coalizão do governo italiano encabeçada pelo líder do Partido Democrático, Matteo Renzi.

Os manifestantes ficaram particularmente putos com a chamada “Lei de Empregos”, que Renzi acredita simplificar o sistema trabalhista do país e acabar com o desemprego. Infelizmente, ele quer fazer isso eliminando alguns direitos trabalhistas, o que vai deixar os empregadores menos inclinados a contratar empregados em período integral.

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Há também uma nova legislação de moradias, que visa negar o direito a certos serviços públicos a pessoas em ocupações.

De acordo com a mídia, a manifestação nacional – batizada de “Primavera dos Movimentos Sociais” – contou com a participação principalmente de “posseiros, migrantes e trabalhadores temporários jovens, estudantes e ativistas”. Bem na frente do Ministério da Infraestrutura em Porta Pia, centro de Roma, os manifestantes armaram um pequeno acampamento para se preparar para o protesto.

Quando cheguei lá, por volta das três da tarde, a atmosfera era tensa. Mais cedo naquele mesmo dia, chegou a informação de que 80 jovens tinham sido presos por posse de armas e outros objetos “perigosos”. A página do Twitter do movimento, no entanto, afirmou que os detidos foram presos “bem aqui na ocupação”.

Dependendo de quem você acreditar, algo entre 12 mil e 20 mil pessoas começaram a marcha às 16h. Do meu lado direito, vi uma faixa do Comitê de Apoio à Resistência Comunista pendurada numa árvore. “O socialismo é o futuro da humanidade!”, dizia a faixa.

Monitorada por um número impressionante de policiais, a macha rumou para o quartel-general do Ministério das Finanças, onde todos celebraram jogando ovos e laranjas nos policiais.

Pouco depois, um grupo se separou do bloco principal e foi direto para a Rua Vittorio Veneto, com o intuito de “sitiar” o Ministério de Assuntos Sociais e do Trabalho.

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Os manifestantes jogavam ovos, garrafas e fogos de artifício na polícia, que por um tempo aguentou a tudo sem reagir. Enquanto isso, as pessoas no final da marcha vestiam bonés, óculos e máscaras de gás, enquanto outros colocavam jaquetas azuis e partiam para cima da polícia. Não sei bem qual é o significado das jaquetas azuis; nunca vi isso antes em manifestações italianas.

No entanto, a mídia italiana mainstream foi logo apelidando isso de “blue bloc”.

O impasse durou cerca de 20 minutos. A primeira fileira de manifestantes lançou bombas de fumaça e fogos, e a polícia respondeu com gás lacrimogêneo e um ataque de cassetetes, encontrando pouca resistência real.

Ninguém conseguiu escapar do segundo avanço da polícia: anarquistas, manifestantes pacíficos, famílias, gente que simplesmente passava pelo local – todos ficaram à mercê da polícia. Cobri meu rosto para salvar meu nariz do gás e tentei evitar ser espancado. Na minha frente, uma senhora de meia-idade foi derrubada no chão e depois resgatada por outros manifestantes. Vi uma mãe arrancar o filho do carrinho e correr para se proteger num beco.

Várias pessoas caíram e foram presas pela polícia.

Ou simplesmente ficaram no chão, como esse casal.

Alessandro Pandra, o chefe da polícia de Roma, descreveu o ataque com cassetetes como “preventivo”. Nada disso que você pode ver acima me pareceu muito preventivo.

A rua principal se transformou num campo de batalha coberto de sangue, calçados, lenços e outros itens. A história de que a polícia tinha “cortado fora a mão de um homem” começou a circular. Mais tarde, descobri que a vítima na verdade tinha sido ferida por fogos de artifício que estava tentando jogar na polícia, e que seu nome era Juan Zabaleta, um peruano de 47 anos que vive com a família num prédio ocupado.

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Nesse ponto, a manifestação já estava praticamente acabada. A procissão voltou de Porta Pia sem momentos de tensão.

Certo cansaço estava no ar e a reação forte da polícia tinha deixado suas marcas. Dezenas de policiais e manifestantes foram feridos (um deles de forma grave), e seis pessoas foram presas.

A manifestação dividiu o público italiano. Algumas pessoas não gostaram de ver a Rua Vittorio Veneto –  “uma das mais famosas de Roma” – sendo “assediada e vandalizada”. O ministro da Infraestrutura, Maurizio Lupi, chamou os manifestantes de “criminosos e vilões”. “Depois de enfrentar a enésima batalha em Roma, temos que ter a coragem de dizer que qualquer um que ocupe uma casa sem autorização está cometendo um crime”, ele declarou.

O prefeito de Roma, Ignazio Marino, alertou sobre “uma violência que é […] capaz de atingir a cidade inteira”.

As pessoas também não demoraram a criticar a polícia. A jornalista Fiorenza Sarzani, do jornal Corriere della Sera, argumentou: “O que deveria nos preocupar é o comportamento da polícia, que permitiu que os manifestantes ficassem mais de quinze minutos na Vittorio Veneto e então atacou a multidão em vez de desocupar a área. É um comportamento estranho, especialmente porque se trata de um espaço estreito, com centenas de pessoas pressionadas contra o Ministério. Isso podia ter terminado de maneira muito pior”.

Os líderes do movimento declararam que 12 de abril foi apenas “o começo das manifestações contra o governo Renzi” – um protesto que “deve crescer” nos próximos meses. Parece que o novo primeiro-ministro da Itália ainda vai receber muitas outras visitas indesejadas em sua porta, como essa do sábado passado.

@captblicero