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Sexo

Um botão de rosa que cheira à merda

A prática pornô recebe o nome daquela flor vermelha de Dia dos Namorados, mas é aqui que qualquer insinuação de amor romântico termina, estamos falando de prolapso anal.
prolapso anal

"Isso tem cheiro de sangue. E gosto de carne crua. Não parece com nada a que você já foi exposta. Mas toca em alguma coisa bem lá no fundo." E assim que Sheena Shaw, atriz pornô de 29 anos e rainha do anal extremo, descreve o apelo primordial do rosebud – um tipo de sexo anal extremo que vem ganhando rapidamente popularidade no mundo do entretenimento adulto, causando ereções e revirando estômagos com igual abandono.

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A prática do rosebud (botão de rosa) recebe o nome daquela flor vermelha que você ganha no Dia dos Namorados, mas é aqui que qualquer insinuação de amor romântico termina. O ato sexual em que Shaw se especializou é, na verdade, causado por um prolapso retal – uma condição médica em que as paredes internas do reto entram em colapso e escorregam para fora do ânus, assim, o tecido interno e vermelho brilhante desabrocha do cu como uma rosa no deserto (tipo aquela música do Sting).

Claro, práticas anais extremas como rosebud, fisting, enemas e ass gaping não são novidade para o pessoal do S&M, ou mesmo para a indústria pornô gay. O que está mudando é uma invasão de atos sexuais hardcore do marginal para o mainstream. "Todo mundo é pressionado para fazer anal", diz Sheena. "A cultura nos ensina do que gostar e do que não gostar."

O que era tabu agora é um chamariz, e o público vem notando isso. Num tópico intitulado "Visibilidade Cada Vez Maior de Prolapso Retal: Motivos?", de setembro de 2013, no fórum on-line Adult DVD Talk, um usuário comentou: "Prolapso retal: um tempo atrás isso era reservado […] a garotas que tinham feito muitas cenas de dupla penetração anal (Ava Devine, Amy Brooke: estamos falando de vocês). Agora, estamos vendo isso muito mais na tela, mesmo com atrizes que são relativamente novas na indústria". Mas o que está causando esse desabrochar de milhares de botões de rosas? O mesmo usuário lança a hipótese de que as atrizes especializadas em anal simplesmente escondiam seus prolapsos da câmera no passado. "(Elas) só estão mostrando isso agora porque está se tornando aceitável e há um mercado crescente para a prática."

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Com certeza. Grandes empresas, como a Evil Angel, começaram a produzir filmes de anal extremo de alta qualidade com várias atrizes pornôs renomadas. Quando uma tendência assim se estabelece, é quase garantido que um feedback perpétuo se espalhe. "Quando uma estrela pornô bonita faz algo assim, isso se torna algo lendário entre os fãs de pornô anal extremo, o que resulta em mais fama para as garotas que podem e vão fazer isso", disse o diretor pornô da Califórnia Jay Sin. Ele testemunhou esse efeito em primeira mão – filmes seus, como Deep Anal Abyss, Anal Acrobats e Anal Buffet se tornaram favoritos cult (Anal Buffet já está na nona sequência).

Mas a conclusão de que todo mundo, do seu chefe àquele tio esquisito, está se masturbando com garotas que conseguem empurrar as entranhas para fora do cu é um tanto perturbadora – e simplista também. Os filmes pornôs realmente vêm se tornando mais agressivos e violentos nas últimas décadas, mas isso pode ser o resultado não só de uma evolução dos gostos, mas do impacto da internet na indústria pornô.

A quantidade infinita de vídeos amadores disponível de forma gratuita em sites de streaming são um grande problema para o negócio. Por que alguém iria comprar um filme quando milhares de vídeos de casais metendo estão a alguns cliques de distância? Em resposta, a indústria se voltou para os mercados de nicho que não podem ser encontrados facilmente na internet, muito menos de graça. Afinal de contas, uma garota normal pode foder como a Sasha Grey, mas dificilmente consegue fazer um rosebud toda vez que quiser.

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Mike South, um blogueiro que vem sendo chamado de "o rei da fofoca pornô", acredita que, ao se voltar para o extremismo, o pornô comercial perdeu o contato com o cerne de sua base de fãs, que ficaria enojada com os rosebuds. Quando ele entrou para o negócio como diretor e ator pornô, em 1992, a indústria despejava incansavelmente lançamentos no mercado, diz South. Um mercado saturado significa que os filmes precisam ser diferentes para serem notados. "No começo, era algo relativamente benigno – gang bangs, anal, esse tipo de coisa", ele relembra. "Depois, eles começaram a vestir as garotas como pré-adolescentes, colocá-las balançando num parque de escola, depois fazendo oral forçado até vomitarem, anal forçado… Quanto mais desconfortável a garota parecia, mais prêmios a indústria dava ao filme."

"As empresas do pornô são como pássaros num fio do poste", ele continuou. "Quando um voa, todos seguem. Eu acho que, nesse caso, todas voaram direto para um prédio de janelas de vidro."

De maneira similar, ser capaz de fazer um rosebud também é uma maneira de as atrizes se diferenciarem na competição. Chegar ao nível de conseguir fazer o prolapso não é fácil. Isso exige cenas repetidas e prolongadas enfiando objetos enormes na bunda, até as paredes retais ficarem tão frouxas que será possível empurrá-las para fora do ânus. Sheena descreve a sensação como similar a do parto: apenas algumas garotas conseguem "simplesmente colocar para fora". Muitas têm que começar a se preparar para o truque na noite anterior, dormindo com plugues anais para esticar o ânus. Elas também treinam para ter um poderoso controle abdominal, relaxando os músculos do esfíncter e o diafragma pélvico, enquanto contraem simultaneamente os músculos abdominais. "Eu queria que ainda doesse, mas não dói mais", ela ri.

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Mesmo assim, o prolapso retal autoinfligido é altamente arriscado. Poucas atrizes vão se arriscar a perder fãs admitindo isso, mas problemas intestinais são um efeito colateral comum de cenas repetidas de rosebud. Apesar de muitas atrizes afirmarem que fazem pausas, nem o tempo ajuda a colocar tudo de volta no lugar. Cirurgia retal, tipicamente reservada para idosos, é a única solução médica para fechar uma bunda que não para de vazar.

No entanto, numa indústria em que as pessoas tendem a acreditar mais no boca a boca do que nos fatos, muitas atrizes não sabem ou não acreditam nesses riscos de saúde em longo prazo. "Quando comecei a fazer [rosebuds], eu não tinha consciência das repercussões", admite Sheena. "As pessoas dizem 'Ah, isso é um mito'. Mas conheço mulheres que se machucaram feio, que tiveram fissuras ou rasgaram o ânus."

Roxy Raye, foto cortesia de RoxyRaye.com

Roxy Raye, outra atriz anal especializada em cenas de rosebud, confia na invencibilidade de sua destreza física. "Eu não diria que me preocupo com isso em longo prazo. Nos seis anos em que fiz isso, sempre me curei muito bem", afirma ela. "Acho que as pessoas normais não percebem como os músculos da bunda são elásticos. Talvez eu seja a primeira cobaia a relatar os resultados disso daqui dez ou 15 anos."

A atitude da indústria sobre os possíveis efeitos colaterais dessa prática fica mais clara em Jay Sin, que dirigiu Roxy em vários de seus filmes. "Se houver [efeitos colaterais], tudo bem", ele diz, um tanto levianamente. "Ela pode parar de fazer isso."

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De certa maneira, as atrizes que fazem rosebud são como jogadores de futebol americano, que aguentam danos físicos repetidamente para nosso entretenimento. Só que, diferentemente dos atletas profissionais, as atrizes pornôs raramente ganham mais dinheiro por cenas de rosebud do que por uma cena de anal "normal" (embora as rainhas do anal, como Roxy e Sheena, cobrem taxas de anal mais altas do que outras atrizes). Quando perguntei a Sheena que recursos ela teria à sua disposição caso se machucasse no set, ela respondeu: "Ninguém nunca fala sobre isso. Eles fazem você assinar isenções antes dessas cenas. Com certeza, você não vai receber compensações trabalhistas."

E o que acontece com essas atrizes quando elas se aposentam? South diz, de maneira sombria, que não existe rede de segurança para salvar aquelas que desenvolverem problemas físicos mais tarde. "A indústria não se importa com os atores. Ela só quer ver melhores acidentes de trem."

Talvez o único recurso para a próxima geração de estrelas do rosebud seja ouvir os conselhos das mais experientes. Sheena Shaw lembra do que Amy Brooke, uma veterana lendária do anal, disse às atrizes novatas sobre o que estava por vir: "OK, meninas, continuem assim e vocês poderão ser porta-vozes de fraldas geriátricas!".

Para quem realmente quiser ver um rosebud florescer, clique no link para um vídeo extremamente NSFW intitulado "Anal Acrobats Extreme Prolapse", do PornerBros.com.

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