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Um Dia no Spa com Um Facilitador Fascista da Europa

Tomando um banho com o consultor do partido franco-hungariano Jobbik.

Fotos por Pierre Sautreuil. 

Movidos por uma agenda que visa a acabar com a corrupção, o sionismo, a homossexualidade, a União Europeia e a comunidade romani, o partido de extrema-direita Jobbik teve, em abril, 20,5% dos votos nas eleições gerais da Hungria. No próximo final de semana, o país vai realizar suas eleições municipais: infelizmente, parece que a popularidade do Jobbik só vai aumentar com a organização tentando se estabelecer como o rei dos macacos da floresta nacionalista da Europa.

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Ferenc Almassy – que pediu para ter seu nome mudado – tem 26 anos e mora na Hungria há quatro. Ele é meio francês, meio húngaro: um candidato perfeito para o trabalho de “Mister França” para o Jobbik. No último ano, ele vem trabalhando para construir ligações entre esse partido e os nacionalistas franceses.

Budapeste conta com mais de 100 spas termais; então, achei que seria legal me encontrar com Ferenc no Banho Termal Lukacs e tentar entender como ele veio a defender os interesses de um partido tão extremo.

VICE: Por que você trocou a França pela Hungria?
Ferenc Almassy: Paris estava me deixando louco. Na Hungria, encontrei um ambiente mais saudável e, acima de tudo, um país que não pedia qualificações para me dar uma chance de trabalho. Antes de me mudar para a Hungria, eu costumava visitar o país uma vez por ano. Quando eu tinha 22, me apaixonei por uma garota aqui e ela me convenceu a mudar.

Você sempre foi interessado em política?
Nunca me afiliei a nenhum movimento francês. Como qualquer adolescente revoltado, fui anarquista por um tempo. Trabalhando em canteiros de obras, fiquei cara a cara com uma corrupção numa extensão que nunca pensei ser possível. Isso alimentou em mim o desgosto pelo capitalismo globalizado. Passei muito tempo na internet e tive minhas fases islamofóbica, xenofóbica e racista. Eventualmente, me interessei por racialismo, um estudo científico das raças humanas. Acho que foi isso que me fez deixar de ser racista.

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Por que você escolheu se associar ao Jobbik?
O Jobbik é um movimento único na Europa. Ele se opõe ao mundo liberal econômica, política e moralmente. Não há nada assim na França. Até onde eu sei, nenhum partido na Europa tem uma posição tão inteligente, ideologicamente forte e – o mais importante – realista. Na França, esse tipo de movimento ia reunir só uns 20 e poucos otários. Aqui, o Jobbik é a segunda maior força política, e fazendo um discurso que faria Marine Le Pen [chefe do principal partido de extrema-direita da França, a Frente Nacional] chorar de medo.

Um comício do Jobbik em Budapeste em outubro de 2012. Foto via

Você pode falar um pouco mais sobre o seu papel como consultor para o Jobbik?
Comecei no ano passado como intérprete quando um cara francês veio visitar Marton Gyöngyösi, o homem número dois do Jobbik. Gyöngyösi gerencia os negócios internacionais, e ganhei a confiança dele, e ele me disse que seria interessante se um cara meio francês, meio húngaro “ficasse de olho” no que estava acontecendo na França.

Eu também traduzo artigos da imprensa em francês sobre o Jobbik e explico para eles alguns fenômenos sociais franceses que são difíceis de entender de um ponto de vista húngaro.

Certo. E você também procura nacionalistas húngaros francófonos para se juntar à sua causa.
Isso é o coração das minhas ações. Estou usando redes sociais e me encontro com algumas pessoas toda vez que vou à França. Sem tentar formar laços oficiais, sigo de perto o meio nacionalista francês e presto atenção aos novos talentos. É um mundo pequeno; todo mundo se conhece. Além disso, se um cara quer passar alguns dias em Budapeste, eu o recebo, mostro a cidade e o apresento às pessoas que ele precisa conhecer no Jobbik. Não posso dar nomes, mas, no total, já hospedei umas 50 pessoas da maior família nacionalista francesa.

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Com que movimentos da França o Jobbik gostaria de cooperar?
O problema com a França é que os partidos em que estamos interessados não querem se associar a nós. E os que querem se associar, não são parceiros sérios o suficiente. A Frente Nacional não quer ter nada a ver com a gente desde que Marine Le Pen tomou o controle. Há outros grupos, como o Bloc Identitaire, mas não queremos nos associar a eles.

Quais as razões para o rompimento entre a FN e o Jobbik?
Na Hungria, você pode dizer coisas que não poderia na França. Aqui, podemos nos proclamar abertamente antissionistas, contra a imigração, dizer que a democracia é uma merda e que a Hungria é um país cristão. A Frente Nacional é secular, eles não podem dizer que são antissionistas, e eles são a favor de regulamentar a imigração.

O Jobbik é pela remigração, que é o retorno dos imigrantes e seus descendentes a seus países de origem. Antes de Le Pen tomar o controle, o Jobbik era considerado um movimento jovem mas apreciado pela velha guarda da FN. Hoje, eles estão conduzindo um tipo de de-demonização: eles têm que mostrar que estão limpos, e isso implica manter o sulfúrico Jobbik à distância. É compreensível, mas é uma pena.

Como você vê a evolução do movimento nacionalista na França?
Desde o caso Dieudonné e da morte de Clément Méric, não há um único nacionalista na França que não pense: “Esse lugar fede!”.O assassinato social que enfrentamos é cada vez mais difícil de suportar, mas isso nos torna mais fortes. Ainda assim, muitos querem parar de lutar. Muitos entraram em contato comigo para que eu os ajudasse a sair da França e se estabelecer na Hungria.

Você pode falar um pouco mais sobre isso?
Nos últimos quatro anos, tenho alimentado essa ideia louca de criar uma comunidade para nacionalistas franceses na Hungria. Quatro anos atrás, as pessoas me diziam que isso não ia funcionar, mas agora elas estão começando a mostrar interesse – pessoas que passaram por um processo de luto pela França e não veem futuro para elas ou seus filhos lá. Essa organização visaria a ajudar nacionalistas franceses a se mudar para a Hungria. A Hungria tem uma política muito flexível quando se trata de comunidades. Se atingirmos 1000 membros, essa comunidade será reconhecida como uma minoria francesa na Hungria. Mas, no momento, ainda estou pensando em todo o enquadramento legal para isso.

Como você imagina essa minoria francesa na Hungria?
Imagino aldeias com economia baseada em artesanato, agricultura cooperativa e autonomia energética. A população da Hungria está começando a cair, com muitos povoados encolhendo, porque as pessoas estão indo à capital. Seria fantástico para os patriotas franceses se assentar nesses vilarejos. Claro, a Hungria não é um paraíso ou o El Dorado, mas, para essas pessoas, isso sempre vai ser melhor que a França. Oito pessoas, incluindo uma jovem família, estão se assentando na Hungria como parte desse projeto. Algumas delas até já venderam suas casas na França.

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Tradução: Marina Schnoor