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Um membro da Aurora Dourada assassinou um rapper antifa ontem em Atenas

Pavlos Fissas, o rapper antifa e ativista de esquerda conhecido como MC Killah P, foi esfaqueado até a morte em Atenas enquanto assistia uma partida de futebol com a namorada.
O rapper antifascista de esquerda Pavlos Fissas, o Killah P, foi assassinado ontem à noite em Atenas.

Noite passada, Pavlos Fissas, um rapper e ativista de esquerda, foi esfaqueado até a morte em Atenas, depois de ser cercado por um grupo de 30 capangas usando camisetas da Aurora Dourada e calças militares. A vítima, que adotava o nome artístico de MC Killah P, estava assistindo uma partida de futebol com a namorada.

A mídia grega reportou que o assassinato aconteceu depois de uma briga entre fascistas e antifascistas, mas de acordo com testemunhas no local, não houve nenhum enfrentamento. A fonte — uma moradora das proximidades, sem filiação política — disse que, enquanto Fissas era cercado pelo grupo fascista, o assassino, que estava de carro, estacionou rapidamente, saiu do carro e atacou o rapper diretamente — detalhes que apontam para um crime premeditado. Fissas foi esfaqueado duas vezes no coração e uma no estômago. Mais tarde, ele morreu no hospital. O assassino, um homem chamado Giorgos Roupakias, foi preso em seguida e confessou tanto o assassinato quanto a natureza política do ato.

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A mesma fonte alega que um grupo de policiais estava presente no momento do crime e não fez nada para impedir — de acordo com o site ateniense de esquerda Left.gr, a polícia disse aos passantes para não intervir porque os atacantes eram "muito numerosos". O assassino foi, por fim, preso por um dos policiais e seu carro foi levado. Cerca de 200 manifestantes antifascistas se reuniram na cena mais tarde, pedindo por marchas de protesto por toda a Grécia.

A Aurora Dourada afirma que Roupakias não é um membro de sua organização e está ameaçando processar qualquer um que insinue o envolvimento direto do partido no assassinato. No entanto, fontes da polícia confirmaram para o repórter Jean Souliotis, do jornal Kathimerini, que o cartão de membro de Roupakias foi encontrado na lata de lixo do lado de fora de sua casa. De acordo com outras fontes, ele é associado ao braço Piraeus da Aurora Dourada.

Esse incidente de violência envolvendo o Aurora Dourada foi extremo, mas não isolado. Recentemente, parece haver um ressurgimento dos ataques da Aurora Dourada, a ponto de algumas pessoas acharem que é uma estratégia calculada para aumentar as tensões entre o partido de extrema-direita e seus oponentes políticos. Na noite de quinta-feira passada, 30 membros do Partido Comunista Grego (KKE) estavam colando cartazes nas ruas de Perama, quando um grupo de 50 indivíduos mascarados usando insígnias da Aurora Dourada os atacaram com barras de ferro e pedaços de paus cobertos com pregos. Nove membros do KKE estão hospitalizados.

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Quando conversei com Sotiris Poulikoyiannis, presidente do sindicato dos metalúrgicos e um dos membros do KKE atacados, ele disse: "Eles vieram atrás de nós gritando 'Nós mandamos aqui, esse porto é nosso'. Eles estavam preparados e equipados, eles tinham pedaços de paus com pregos nas pontas — não foi um ataque aleatório. Os dois homens que estavam no controle do grupo até se identificaram".

Não parece coincidência que o ataque tenha vindo logo depois de um discurso de dois membros do parlamento da Aurora Dourada na área. Um deles, Yiannis Lagos, disse a seu grupo de ativistas: "Vocês escolhem como querem prosseguir, e vamos apoiá-los", que ecoa um discurso dele do ano passado, logo em seguida, outro ataque foi desencadeado sobre pescadores egípcios. Nas duas ocasiões, nenhuma acusação de incitação à violência foi feita contra Lagos, e é pouco provável que alguma seja acusação chegue ao Aurora Dourada depois do assassinato de Fissas.

Curiosamente, enquanto o Aurora tem incitado a violência, o partido também anda flertando com uma relativa respeitabilidade cortejando o Nova Democracia — o maior partido de centro-direita no governo atual. O Nova Democracia mantém silêncio sobre o ataque aos comunistas na mídia local, só condenando o caso para a revista alemã Der Spiegel. Semana passada, o jornalista grego de alto escalão Babis Papadimitriou perguntou: "Se a SYRIZA [um partido de esquerda] pode trabalhar com o KKE, por que a Aurora Dourada não pode apoiar mais seriamente uma aliança conservadora, como o que aconteceu na Noruega?" Muitos membros do parlamento e assessores sugeriram a possibilidade de uma potencial aliança entre o partido de centro-direita e a gangue neonazista — isso se o segundo grupo conseguisse "melhorar".

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Embora a Aurora Dourada tenha tentado, de sua maneira tosca, se envolver com os processos políticos tradicionais — levando esquerdistas ao tribunal por difamação e participando das eleições para prefeito de Atenas — parece que a ideia deles de "melhorar" não inclui parar de assassinar seus oponentes políticos em bares.

Há rumores de que o irmão de Nikos Mihaloliakos (líder da Aurora Dourada) está recrutando advogados, empresários e acadêmicos — profissionais supostamente íntegros que sentem saudades da Junta Grega e dos coronéis que derrubaram o governo grego em 1967. No entanto, com esse último assassinato, a tática dupla do Aurora Dourada, de apertar a mão de classes políticas respeitáveis enquanto usa a outra mão para puxar facas contra seus inimigos, pode finalmente fracassar. Nikos Dendias, o Ministro de Proteção ao Cidadão, disse que o governo vai procurar mudar as leis sobre organizações criminosas, sugerindo uma proibição do partido de extrema-direita.

Infelizmente, essas mudanças também podem ter implicações para organizações radicais de esquerda, o que significa que a Aurora Dourada pode arrastar seus inimigos com ela e ferir mortalmente a democracia grega. Isso também significa que eles vão conseguir fazer as coisas à sua maneira no final das contas.

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