Foto: Luiz H. Ferreira
Lucas Santos: Nossa! A primeira coisa a mudar, eu acho que é a visão de mundo. Antes de entrar aqui, eu tinha a cabeça um pouco mais fechada; quando você entra aqui, começa a conviver com pessoas muito diferentes, lugares diferentes, países diferentes. Um universo totalmente novo. Acho que eu sou uma pessoa totalmente diferente do que eu era.
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Eu iria falar que um pouco, mas acho que ainda falta muito pra chegar a um nível que [essa representação] deveria ser aqui. A gente vê que a segregação é muito grande aqui; às vezes, até por piadinhas bestas, mas isso é um problema bem grave – e não me sinto representado.
Eu não me sinto representada dentro da minha faculdade, até porque o número de professores negros é bem pequeno, e estamos começando com essas discussões de arquitetura negra: nós não falamos de arquitetura negra aqui, nós falamos de arquitetura modernista, moderna, contemporânea. Mas arquitetura negra a gente ainda não fala: de onde é nosso berço. Nosso berço, hoje em dia, é só Portugal – e acabou. Não me sinto representada, mas estamos chegando lá – por ser mulher, por ser negra e por morar na Ceilândia.
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Arthur Henrique: Perdi o emprego porque a UnB consome muito tempo, e esta é minha vida: reprovei por falta porque a UnB é longe [risos]. Eu fiquei puto, muito mais puto. Eu era um cara muito mais calmo.Você se sente representado dentro da universidade?
Não me sinto representado. O próprio projeto das cotas era um projeto a longo prazo: a minha geração e as gerações que vieram antes da minha, em relação a cotas, em relação à UnB, elas não vão conseguir se sentir representadas; mas, a longo prazo, talvez 10 ou mais anos, isso possa vir mais evidente – até o ponto [em] que a própria ideia de cotas deixe de ser necessária e possa ser dissolvida. Mas não eu não tenho nenhum professor negro, tenho poucos colegas negros nas minhas turmas. Acho que eu tive outras quatro pessoas negras [como colegas de turma]. Olha que eu já estive em bastantes turmas, porque eu faço três habilitações; então, a representatividade é algo muito distante.
Ludmila Alexandre: Quando eu entrei pelo sistema de cotas, eu senti a responsabilidade de entrar em todo tipo de discussão relacionado a raça e cor. Eu me sinto responsável de ir lá e me envolver.Eu acabei não utilizando o sistema antes, porque pensei: "Ah, tem menos vagas". Porque, quando você começa a se inteirar, você vê que a quantidade de vagas é muito pequena. Quando eu fui, eu queria incentivar as pessoas da minha família a entrartambém: eu tenho vários primos que não entraram na faculdade.
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Eu me sentia muito menos representada quando eu era de Administração; aqui, naFAU, eu me sinto um pouco mais, o pessoal é mais engajado em algumas questões: feminismo, racismo. E vejo mais presença de pessoas negras aqui dentro; então, eu acredito que eu me sinto representada sim.
Rodrigo Silva: A UnB me abriu várias portas no mercado de trabalho, as pessoas me olham [de forma] diferente agora.Você se sente representado na universidade?
No ensino médio, sempre ouvia falar que a UnB só tinha playboy, branco do [Colégio] Marista, [da Escola Leonardo] Da Vinci, mas, a partir da inclusão das cotas e da ampliação, o que eu ouvia foi totalmente mudado. Vejo muitos negros e me sinto representado.
Tricia Oliveira: Fiz faculdade por cotas, mas em uma universidade particular. Mudou muita coisa: desde o conhecimento técnico, de ter uma profissão e poder – por ter acesso ao ensino superior, acho que muda a visão de mundo, [da] vida, [fica-se] mais crítico – conseguir ocupar espaços que antes eu não ocuparia e que não me eram permitidos. Quando eu estudei, na minha turma só tinham duas pessoas negrasVocê se sente representada na universidade?
Não tinha representatividade. Eu estudei em uma universidade privada, acho que a realidade é um pouco diferente: a gente não tem tantas oportunidades, projetos que ajudem pessoas a ver essa representação, mas acho que eu pude fazer trabalhos legais e, na minha formação acadêmica, ter a necessidade de representar enquanto negra, gorda, enquanto tudo; então, esses temas estavam sempre relacionados em meus trabalhos na minha vivência universitária.
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Greicielle Viera: Minha vida mudou depois que eu entrei na universidade, mas não porque eu entrei por cotas: [a universidade] abre totalmente sua mente para vários assuntos da sociedade e, enfim, faz com que você pense, forme opiniões.Você se sente representada na universidade?
Cara, eu acho que, depois que o sistema de cotas foi implementado, o rosto da universidade mudou bastante, dá pra ver que tem muitos negros aqui dentro.Sobre me sentir representada, eu não sei responder de verdade; no meu curso, tem uma galera muito elitista, mas não é por isso que eu não me sinto representada, até porque aqui são vários rostos, várias ideias; então, sempre tem um pouco pra você se identificar. Eu me represento, quem me representa sou eu.Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.