FYI.

This story is over 5 years old.

viagem

Vestidas Para Lutar

As Cholitas apareceram nos ringues para animar as lutas exclusivas a homens. Inicialmente, eram apenas um bônus, a par dos anões lutadores e dos gigantes das feiras de aberrações, mas, em pouco tempo, tornaram-se na atração principal.

Numa viagem recente à Bolívia, ouvimos falar de um grupo de mulheres indígenas que praticam um estilo de Lucha Libre ao estilo Cholita. As pessoas pareciam estranhamente excitadas com a ideia, por isso quando nos disseram que iria rolar uma competição em El Alto, nos arredores de La Paz, bem no alto dos Andes, não pensamos duas vezes: pegamos nossas câmeras e nos enfiamos num táxi. O taxista teve dificuldade para encontrar o caminho por entre a selva de bairros suburbanos cinzentões, mas, finalmente, sentimos um aroma de churrasco e feijões cozidos que nos levou na direção certa. Numa praça, equipes locais se defrontavam num jogo de futebol e homens mascarados com um ar assustador distribuíam doces para as crianças. Todos pareciam estar se divertindo.

Publicidade

Chegamos ao local onde as lutas iam acontecer—o ginásio de uma escola—no momento exato em que as Cholitas estavam entrando no ringue. As lutadoras vestiam o traje típico do povo Aimará, que consiste em várias saias sobrepostas ao estilo espanhol, chapéus de coco (que são um marco do traje indígena desde a época colonial), sapatos de plástico, bijuteria excessiva e extravagante, maquiagem e xales bordados. Estas vestimentas acrescentam um toque irreverente e peculiar à já extravagante luta livre, e os espectadores no local gritavam a plenos pulmões.

As Cholitas apareceram nos ringues para animar as lutas exclusivas a homens. Inicialmente, eram apenas um bônus, a par dos anões lutadores e dos gigantes das feiras de aberrações, mas, em pouco tempo, tornaram-se na atração principal, reduzindo os homens vestidos de super-heróis a um mero espectáculo de abertura. Graças às Cholitas, a popularidade da luta livre atingiu níveis nunca antes testemunhados na Bolívia. Descobrimos inclusive que tinha sido Roberto Rojas, político do partido MAS da região, que organizou aquela luta, para angariar fundos para a sua campanha. A um mês das eleições presidenciais, Roberto Rojas contratou as celebridades cintilantes da Lucha Libre para animar o espírito dos seus eleitores, algo que era desnecessário, uma vez que toda a vizinhança—ou melhor, toda a população de El Alto—já apoia incondicionalmente Evo Morales e o MAS, o partido socialista da Bolívia. Ainda assim, os habitantes da região não desperdiçaram a oportunidade de assistir a uma grande luta.

Publicidade

Observamos o ambiente à nossa volta à medida que as lutadoras iam e vinham, afobadas, dos vestiários, enquanto a prepararem-se para a luta. Num pequeno palco, junto ao ringue, tinha sido colocada uma mesa comprida e várias cadeiras cuidadosamente alinhadas para acomodar os políticos. Sem grande interesse pelas eleições, Juanita, a estrela do espetáculo, suspira: “Tentamos nos manter politicamente independentes, mas o nosso técnico gosta do Rojas”. Ao que parece, Juanita não está muito preocupada com a origem do cachê. Contou pra gente que “o chapéu e as roupas custam muito dinheiro. Comprei este chapéu por 700 euros. Para sermos lutadoras, precisamos gostar da fama e do dinheiro!”

Um segundo depois, as luzes diminuíram de intensidade, e o público fervilhou quando a Juanita subiu ao ringue tremulando violentamente a bandeira do MAS como se o estado da Nação dependesse disso.

TEXTO POR STIJNTJE BLANKENDAAL
FOTOS POR BEN SPECK E KARIN ANANIASSEN
TRADUÇÃO POR EQUIPE VICE BR