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Seis dias após tiroteio com quatro mortos, policiais foram condecorados em Porto Alegre

Um vídeo mostra um dos suspeitos ao chão, já rendido, sendo alvejado por um dos policiais. Ministério Público quer acompanhar o inquérito de perto.

Alerta: os vídeos nesta reportagem contém imagens fortes.

No final da tarde da última sexta-feira (22), um homem falava ao celular enquanto outro se locomovia com dificuldade por conta de uma das pernas engessadas. Aparentemente comum, a cena ocorria em frente ao hospital Cristo Redentor, na zona norte da cidade de Porto Alegre (RS). Segundos depois, a tranquilidade deu lugar a um tiroteio entre a Brigada Militar (BM) e quatro suspeitos, que morreram baleados no local. Dois policiais ficaram feridos. Na manhã da última quinta (28), seis dias depois do ocorrido, os policiais envolvidos foram condecorados junto a outros brigadianos por "bravura e serviços relevantes", segundo a Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul.

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De acordo com a corporação, houve uma tentativa de abordagem por parte da polícia, mas os suspeitos – "todos com extensa ficha criminal e armados com pistolas 9 milímetros e um fuzil 556" – revidaram.

O vídeo mostra um veículo i3 dando ré e batendo na viatura em frente ao hospital instantes depois que os policiais começam a atirar. O confronto se dá entre quatro policiais militares e quatro suspeitos. O homem que estava no volante abre a porta do carro para se render e continua na mira dos policiais.

Um outro vídeo com diferente posicionamento chama a atenção. Nele, é possível ver o suspeito rendido no chão e com as mãos para o alto. Mesmo assim, um dos policiais atira diversas vezes em sua direção. Apesar da pouca repercussão nacional, o jornal britânico Daily Mail publicou uma reportagem destacando o acontecido.

Em entrevista coletiva, o comandante-geral da Brigada Militar, coronel Alfeu Freitas Moreira, declarou que os policiais que participaram do tiroteio devem ser vistos como "heróis". "A Brigada Militar defende que bandido bom é bandido preso mas, se alguém tiver que morrer, que sejam os bandidos", destacou.

Na última quarta-feira (27), o coronel da BM se reuniu ao subprocurador-geral de Justiça para assuntos institucionais Fabiano Dallazen. No encontro, ficou acordado que o Ministério Público irá acompanhar de perto o Inquérito Policial Militar (IPM) que irá investigar o fato.

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Responsável por conduzir o inquérito, o delegado Cassiano Cabral do 3º DHPP (Departamento de Homicídio e Proteção a Pessoa) falou por telefone com a VICE. "Nós estamos analisando todos os elementos que são trazidos até nós para conduzir a investigação da maneira mais técnica possível", justificou. Isso se dará "por meio das testemunhas, das imagens, por meio de perícia, dos laudos policiais, enfim, todos os meios de investigação disponíveis".

Os vídeos, porém, mostram detalhes importantes, como informa o sociólogo e professor da PUC-RS Rodrigo Azevedo, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. "No final de todo o ocorrido, os policiais, ao invés de guardarem o local pra que fosse feita toda a perícia, pelo contrário, eles acabam arrastando os corpos e alterando, então, toda a composição do cenário", relata.

Ele também faz uma observação sobre o motorista do veículo, que se rende diante dos policiais. "Ele estaria deitado no chão, desarmado, com os braços erguidos e teria recebido cerca de 15 tiros de um dos policiais – o que seria algo totalmente irregular diante da técnica policial e da necessidade de controle do uso da força."

CRISE NA BRIGADA MILITAR

Para Azevedo, existe uma crise na corporação militar do Rio Grande do Sul atualmente. "Hoje, nós temos o menor efetivo da história da Brigada nos últimos 30 anos. Os policiais não têm recebido seus salários de forma adequada, as horas extras foram cortadas. Então, há uma situação de crise que leva as pessoas a uma sensação de insegurança muito grande." Para ele, esse medo generalizado corrobora a reação da população, costumeiramente positiva diante da morte de suspeitos, vistos como bandidos. Porém, para o sociólogo, a condecoração dos policiais envolvidos pode ter sido "uma medida um tanto quanto apressada".

Perguntado se a condecoração dos quatro policiais poderia interferir no inquérito, o delegado Cabral, responsável pelo caso, foi taxativo: "Não atrapalha, nem auxilia".

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