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Na calada ela vem: Waldir Maranhão anula pedido de anulação de impeachment

Acuado, acusado de bagunçar ainda mais o já caótico coreto, pulso firme igual gelatina, restou ao presidente interino da Câmara assinar a própria rendição em menos de 24 horas.

Foto: Gustavo Lima/ Câmara dos Deputados.

A partir da madrugada desta terça-feira (10), só o cinismo pode manter a sanidade nacional. Waldir Maranhão (PP-MA), presidente interino da Câmara dos Deputados, anulou durante a noite o próprio pedido de anulação da votação de admissibilidade do impeachment que havia esboçado na segunda-feira (9).

A decisão de Maranhão nem havia sido publicado quando começou a circular pela imprensa e congresso. Diante da demora na publicação, Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, decidiu continuar com as tramitações do impeachment na casa, sem se abalar com os argumentos governistas.

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A jogada do presidente interino incomodou muita gente. O corpo técnico da Câmara já havia se manifestado contra a anulação, baseada em um pedido da Advocacia Geral da União. Líderes do DEM e do Solidariedade anunciaram que entrariam no Supremo Tribunal Federal contra a anulação do impeachment. Por fim, o próprio PP acabou por voltar-se contra ele (que já havia sofrido retaliações por votar contra o impeachment), ameaçando expulsa-lo do partido para retomar o cargo. Não faltou gente que chamasse a manobra, sem ironia, de "golpe".

No fim das contas, Waldir lançou uma batata quente para o alto e esperou que alguém a pegasse, mas não encontrou. Ao saber da decisão, Dilma pediu cautela. Eduardo Cunha, presidente suspenso da Câmara pelo STF, soltou nota dizendo "me incluam fora dessa". Alguns senadores governistas tentaram protelar a leitura do relatório do Senado, mas ficou por aí. José #Eduardo Cardozo, da AGU, disse que apenas fez seu trabalho. O único a abraçar a ideia foi Flavio Dino (PCdoB), governador do Maranhão (o estado, não o deputado), que nesta terça soltou nota no Facebook discordando da anulação da anulação .

A única coisa que Maranhão conseguiu com a apressada decisão foi demonstrar a fragilidade institucional pela qual o país passa, começando com o claudicante porém implacável pedido de impeachment. Se a proposta de Renan de seguir com o impeachment durante a segunda-feira ainda estava no jogo, afinal a decisão de Waldir ainda não havia sido publicada, demonstrou também que não havia força política nela para continuar em pé, e anunciava uma crise no Congresso entre Senado e Câmara. Depois de o STF suspender Cunha em decisão inédita e apontada como "excepcional" pelo próprio relator do caso, Teori Zavascki, era mais um passo para dentro do pântano institucional.

À noite restou Waldir Maranhão, bigode folclórico, e sua decisão à procura de um autor. Acuado, acusado de bagunçar ainda mais o já caótico coreto, pulso firme igual gelatina, restou assinar a própria rendição em menos de 24 horas. Enquanto isso, Temer rebola numa complicada matemática para reduzir o número de ministérios em seu cada vez mais provável governo . Como sempre, "quando a gente não pode fazer nada, a gente se avacalha e esculhamba".

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