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Bater e Correr em Recife

Luta de Rua é a primeira série de artes marciais feita no Brasil. Só isso já bota ela no mesmo saco de Kung Fu Contra As Bonecas e Besouro, mas os méritos aqui são outros.

Luta de Rua é a primeira série de artes marciais feita no Brasil. Só isso já bota ela no mesmo saco de Kung Fu Contra As Bonecas e Besouro, mas os méritos aqui são outros. A produção roda a custo baixíssimo e sem o monte de logomarcas que bancam a história do capoeirista, o enredo se passa em Recife e as brigas, bem coreografadas (diferente da fita de 1975), são lutadas pela galera do Pinoia Filmes, um grupo pernambucano de dublês especializados em artes marciais. Tudo no YouTube, o canal dos independentes bancado pelo Google. Claro que o crica vai apontar algumas falhas aqui e ali, então fique sabendo que o roteirista, produtor e diretor Ulysses Paiva, 30, era pequeno gafanhoto no kung fu do cinema de porrada quando lançou o primeiro episódio, em novembro passado.

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Carioca e publicitário de formação, se mudou pra Pernambuco com a bagagem de quem começou fazendo animação 2D e efeitos visuais, depois 3D e, mais tarde, filmagens. Agora pela faixa amarela, já tá bem mais exigente quanto aos erros pro lançamento do segundo capítulo da saga -- antes previsto pro final de janeiro só que agora prorrogado pra logo mais não se sabe direito quando. Fora que a ideia do roteiro pra terceira parte também já tá mais ou menos encaminhada, "quando o chefão realmente aparece" e "provavelmente vai ter luta de mulheres". Abaixo uma entrevista com ele, que além de tudo entregou em spoiler exclusivo o segredo da tal mochila. É Jackie Chanchada no melhor dos sentidos.

Episódio 01: "Vigiados".

VICE: Dando uma fuçada no YouTube vi que o Pinoia Filmes já tinha vídeos de artes marciais, mas com produção bem amadora. Agora no Luta de Rua o negócio tá mais bonito. Como começou a história da série – quem procurou quem?
Ulysses Paiva: Eles sempre gostaram de cinema, e se reuniram pra fazer os filmes deles justamente por esse gosto. Como todos praticam artes marciais, resolveram seguir esse estilo, mas faziam filmes com os recursos que tinham. Um conhecido meu faz parte do grupo, e alguns amigos já tinham me mostrado alguns vídeos deles. Na hora percebi que eram super talentosos nas coreografias de luta e vi uma oportunidade de juntar a minha produção com o talento deles pra fazer algo que fosse realmente interessante e de qualidade. Os procurei e fizemos algumas reuniões pra lançar um primeiro vídeo de teste pra que a gente pudesse sentir como seria o resultado dessa parceria, e gostamos bastante do resultado. A partir daí decidimos fazer a série e usar a internet como veículo de divulgação, pra não ficar à mercê de alguma emissora de TV ou de algum estúdio de grande porte. Daí nasceu a websérie, que é um trabalho único e pioneiro no Brasil, em parceria com o Pinoia Filmes, que de fato é considerado um dos melhores grupos de dublês de ação do país.

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E como tá sendo a aceitação depois dos três meses de lançamento do primeiro episódio?
No começo a gente não tinha a menor idéia de como seria -- por isso mesmo, inclusive, o primeiro episódio só teve basicamente uma cena de luta. É que nós tivemos inúmeros problemas para filmar. Tentamos três vezes em três locais diferentes e só conseguimos fechar na terceira vez com muito tempo e esforço. Houve muitas falhas e, enquanto o material estava sendo processado na etapa de pós-produção, cheguei a decidir não lançar por conta desses erros e problemas na filmagem. Só conversando com o pessoal é que a gente acabou decidindo lançar assim mesmo, pra já ter uma idéia de como ficaria. E a repercussão foi bem maior do que as expectativas mais otimistas. Criamos uma página no Face para servir de local de divulgação oficial e para que todos pudessem participar, comentar, sugerir e interagir com o seriado. E a idéia inicial era essa mesmo, de ser uma websérie independente em um primeiro momento pra se tentar conseguir patrocínio após o terceiro ou quarto episódios, e quem sabe mais pra frente conseguir um alcance maior com algum contrato com TV ou coisa parecida. Por enquanto as coisas têm caminhado como planejado, até um pouco melhor, e esperamos que continue assim.

Mas você sempre gostou de artes marciais ou pelo menos do Bruce Lee? É a sua primeira experiência filmando coisas do tipo?
Eu não sou nenhum grande lutador. Fiz só alguns meses de kung fu quando era criança. Mas uma grande influência que tenho nessa área (e também o pessoal do Pinoia) com certeza é Jackie Chan. Lembro até hoje o primeiro filme que vi dele e como fiquei impressionado com os golpes e movimentos que ele fazia. Na época já era um filme antigo, mas que tinha cenas de luta muito melhores que os blockbusters da época. Daí vieram Jet Li e Donnie Yen, que também contribuíram bastante para que eu conhecesse muito da cultura chinesa e me apaixonasse pela beleza e peculiaridade da história e tradições da China. Apesar disso, também não queria fazer algo fora da nossa realidade nem usar elementos que não fizessem parte do nosso 'mundo' aqui no Brasil.

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O Ulysses em momento de descontração durante as filmagens do Episódio 02. "O de vermelho é o Adilson Veron, referência no parkour em todo o Nordeste."

É por isso que é feita em Pernambuco?
Como a produção é independente, não tivemos a oportunidade de selecionar uma locação específica pro seriado. Ou seja, tivemos que fazer na região onde a maioria reside. Mas isso também não é um motivo específico e também foi pensado nisso. Pernambuco tem lugares e locações muito interessantes pra se trabalhar uma sequência de ação e toda a história já foi pensada com as especificidades daqui, desde cenários até realidade econômica, social e tecnológica.

Quanto sai, mais ou menos, a produção de um episódio?
Nós ainda não paramos para colocar no papel o custo de cada episódio. No primeiro basicamente o custo foi com gasolina, passagens e lanches, já que não havia um real de orçamento para ser gasto na produção. Então foi só com o que tínhamos à disposição. Tenho me aperfeiçoado bastante a "tirar leite de pedra", como se diz por aí, desde que comecei a trabalhar com filmagens, então não é tanta novidade assim nesse caso. No Episódio 2, até agora, foi gasto um pouco mais de R$ 700,00 na produção.

Quando a continuação vai ficar pronta?
O Episódio 2 tinha o planejamento inicial de ser lançado no final de janeiro. Como estou sendo extremamente rígido para não cometermos os mesmos erros do primeiro, e por ser um episódio mais elaborado, estamos enfrentando algumas dificuldades que não podíamos prever. Há varias cenas que já filmamos duas ou três vezes sem conseguirmos finalizar devidamente. Estamos enfrentando um problema muito grande em relação a conseguir juntar todo o elenco pra poder gravar, já que é uma produção ainda independente e ninguém está trabalhando exclusivamente com isso, então cada um tem uma agenda diferente e isso tem atrasado bastante o processo. Além disso ainda tivemos chuva e outros imprevistos fora do nosso controle que também tem atrapalhado a produção. Mas estamos correndo e lutando para resolver os problemas à medida que aparecem para assim dinamizar o processo e no terceiro episódio não termos mais esse tipo de atraso. Até substituição de parte do elenco aconteceu recentemente na tentativa de erradicar alguns desses problemas.

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Por falar em falhas, dá pra ver o microfone em uma sequência do 1º episódio (minuto 3:24).
Exatamente. Essa é uma das falhas que eu tinha falado. É uma falha que inclusive poderia ser corrigida sem maiores problemas na pós, mas com toda a confusão que já havia e provável não lançamento desse episódio na época, esse trabalho acabou sendo poupado. Coisas desse tipo estão sendo rigorosamente observadas agora na produção do Episódio 2.

Teaser do Episódio 02. Agora com slow motion!

E qual vai ser o atrativo desse? Lutas, muitas lutas?
O roteiro do segundo tá fechado desde dezembro. É bem light e simples, apesar de estar bem mais elaborado que o primeiro. Vai ter uma cena de luta e uma perseguição com parkour. É mais pra contar um pouco da historia e já ir revelando algumas coisas. Não tô querendo colocar luta demais em todos pra não ficar cansativo e enjoado. O terceiro é que vai ser sério o negócio, e espero que já estejamos com alguns patrocinadores pra valer a pena o trabalho que vai dar pra fazer. Eu já tenho alguns pontos principais na cabeça [pro roteiro do 3º capítulo], mas ainda não sentei pra escrever. Sei que vai ter algumas explosões grandes e muitas cenas de luta. Vai ser quando o chefão realmente aparece e vai ser o primeiro contato dele com o mocinho. E provavelmente vai ter luta de mulheres.

Oba! E quem faz as coreografias?
Nós temos o coreógrafo, Eddie Song, que pratica vários tipos de artes marciais há anos e é muito talentoso no que faz -- muito mesmo. Confio bastante no trabalho dele, é uma ótima pessoa. Na minha vida, conheci poucas pessoas que, de cara, você poderia olhar e já perceber que aquela pessoa nasceu para fazer aquele tipo de coisa pois ela "respira" o que faz. O Eddie é uma delas.

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Sei. Mas mesmo caindo de cara, se ralando, batendo a testa na caixa… Por que ninguém sangra?
Na verdade, se você reparar bem, a única parte que realmente teria mais sangue pra aparecer é quando Raniel (de roupa preta no Episódio 1), já está no chão. Mas daí ele mal aparece. E também foi uma escolha minha não fazer nada muito sangrento, mais no estilo de alguns filmes de Jackie Chan, para não ficar muito pesado e assim a gurizada poder assistir também sem maiores problemas. Mas no Episódio 2 já estamos com alguns trechos com um pouquinho de sangue pra agradar quem sentiu falta no episódio anterior.

Pôster promocional do segundo capítulo.

Alguma emissora de TV já mostrou interesse pela série?
Ainda não e acho bastante coerente isso. Precisamos mostrar bastante coisa concreta antes de mostrarmos que realmente podemos fazer algo bom e de sucesso. Tenho muitas esperanças de que um dia isso chegue a acontecer, mas realmente acho que por enquanto acreditar nisso ainda é precipitado.

Quantos episódios a série vai ter?
Ainda não é definido quantidade de episódios por temporada. Como é tudo pioneiro e sem nada certo, estamos indo aos poucos vendo a necessidade e possibilidade que aparecem à medida que lançamos um episódio.

Beleza. Mas então me diz uma coisa: no Facebook vocês lançaram a enquete “o que você acha que tem na bolsa?”, e um pessoal participou -- inclusive sugerindo "DORGAS MANO", "uma edição comemorativa do Privataria Tucana, livro difícil de comprar hehehehe" e outras paradas envolvendo políticos. Mas o que você sabe que tem na bolsa e vai me contar agora?
Por conta do atraso nas filmagens, vou adiantar aqui com exclusividade para você. Dentro da bolsa há um cilindro contendo plasma obtido por meio de fusão nuclear a frio, e ele é armazenado magneticamente dentro do cilindro. O plasma é energia pura e um cilindro desses pode abastecer uma cidade pequena por meses. Na verdade é uma tecnologia ainda inexistente. Está aí a parte fictícia do seriado, mas é tudo embasado cientificamente e atualmente há, de fato, estudos e protótipos de formas de obtenção de energia a partir da fusão nuclear a frio. Houve todo um estudo e pesquisa antes da elaboração do roteiro e muito do que já foi ou ainda será mostrado realmente existe, como o Centro Regional de Ciências Nucleares, localizado na UFPE. Por isso, a abertura do Episódio 1 tem essas referências.