X Real: Nudez com Garotas Reais e sem Retoques

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Sexo

X Real: Nudez com Garotas Reais e sem Retoques

Desde quando surgiu, em 2013, o projeto já soma mais de 15 ensaios. Agora, a fotógrafa Camila Cornelsen quer dar um passo à frente e levar o projeto pra fora da internet, transformando o X Real num livro.

Como cada um lida com a nudez? Foi depois de uma noitada em Barcelona com os amigos despidos numa praia que a fotógrafa Camila Cornelsen começou a se questionar sobre o assunto. Assim, decidiu criar o X Real, projeto fotográfico em que ela retrata a nudez com um olhar mais sensível e feminino. O objetivo é ir pelo caminho oposto das publicações de nu em geral, contestando o padrão de beleza no qual as garotas são sempre magras e cheias de Photoshop. Aqui, os ensaios são feitos com garotas comuns, e as fotos são postadas sem retoque nenhum. O projeto também inclui GIFs, vídeos e mixtapes.

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Desde quando surgiu, em 2013, o projeto já soma mais de 15 ensaios. Agora, Camila quer dar um passo à frente e levar o projeto pra fora da interweb, transformando o X real num livro.

Bati um papo com ela pra saber mais sobre o projeto:

VICE: Pra começar, me conta por que você resolveu criar o X Real.
Camila Cornelsen: Eu pensei nele pela primeira vez em uma viagem pela Espanha. Em junho de 2012, eu fui pra Barcelona estudar, e, numa das noites, depois da aula, eu e uns amigos saímos e ficamos na rua até de manhã. Antes de voltar pra casa, paramos na praia para dar um mergulho. Já tinha reparado que os europeus lidam com a nudez de forma diferente que nós, brasileiros, mas, nesta manhã, todos (pessoas de várias nacionalidades) tiraram a roupa e entraram no mar sem questionar muito o corpo e a pele. Lembro[-me] de um senhor fazendo jogging, usando só tênis e uma viseira. Na volta ao Brasil, fiquei me questionando [sobre] o pudor, principalmente relacionado ao corpo feminino. Nunca me identifiquei com as publicações locais, pois o ideal da mulher de revista é sempre tudo no lugar, pele perfeita, cabelo ajeitado; nós, mulheres do dia a dia, sabemos que não é assim. Até então, eu nunca tinha fotografado nu também. Então, o X Real acabou nascendo de uma necessidade de um exercício do olhar fotográfico, de ocupar o meu tempo livre com um projeto autoral e de criar um material que outras mulheres pudessem se identificar também.

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Sua visão sobre a maneira como as pessoas tratam a nudez e a sexualidade mudou depois que você começou o projeto?
Certamente! Eu passei a me sentir mais feminina e confiante em relação ao meu corpo. Percebi que a confiança em si mesma é algo que contamina as outras pessoas quando elas veem [as imagens]. No início, eu tinha um pouco de vergonha de pedir pra garota se despir, porque em parte eu tinha um pouco de vergonha de ver o outro corpo. Até que entendi que é só pele! A mesma pele que sai das suas mãos vai até os seus peitos, desce pelas pernas. Meu intuito com o X Real era trazer esse olhar feminino para o corpo da mulher e tentar extrair um pouco desse teor sexual que eu acho que a maioria das publicações trazem.

Como você escolhe as garotas que posam para as fotos?
Não existe nenhum processo de seleção. Todas as mulheres fotografadas se candidataram a participar, exceto pela primeira, a Rafaela Camilo, porque eu precisava de alguém para iniciar. Tento atender todas que me escrevem.

A maioria dos seus leitores é formada por mulheres ou homens?
No início, eram 65% masculino e 35% feminino. Mas, à medida que o projeto foi crescendo, consegui agregar um público feminino maior. A cada ensaio que sai, sinto que fortaleço um novo grupo de mulheres que se vêem representadas naquelas imagens.

Qual foi a coisa mais legal que aconteceu depois que você começou o projeto?
Da minha parte, me vejo mais engajada na causa da mulher, me sinto mais feminista. Percebo isso também nas garotas que participaram e que tiveram uma experiência legal de ter suas fotos publicadas. Ver que não afetou negativamente a sua vida: muito pelo contrário, ajudou a fazer [a menina] se sentir melhor consigo mesma. Parece que estamos remando contra a maré do slutshaming: tiramos da mão dos homens a possibilidade de publicar uma imagem nossa, tivemos o cuidado pra ser fazer a foto bem feita – e fizemos uma escolha muito mais consciente e que manda a mensagem "meu corpo, minhas regras". No site, eu também publico uma sessão de autorretratos (ou selfies) que as meninas mandam. Então, tudo isso faz parte desse conforto com a nudez feminina que acredito estar construindo.

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Além das fotos, você também disponibiliza uma playlist escolhida pela modelo, né?
Sim! Muitas vezes, durante a sessão, as meninas colocam um som pra [elas] ficarem mais à vontade, e eu acho muito legal quando trazemos isso pro projeto, porque parece que dá pra entender melhor quem é aquela pessoa, que rolê que ela faz, em que lugar do mundo ela está inserida. A música sempre esteve presente na minha vida e nas minhas atividades, e ela não podia estar fora desse projeto. Para a grande maioria dos videoteasers, eu mesma faço a trilha! Senão peço pra algum amigo de banda mandar!

Depois de fotografar tantas meninas, você sentiu vontade de estar do outro lado das câmeras num ensaio seu?
Para o X Real, ainda não, porque acredito que nele tem de existir uma despretensão e espontaneidade. Eu dirijo muito pouco as meninas durante o ensaio. Meu trabalho tem mais a ver com identificar o que fica mais bonito com aquela pessoa naquele cenário, [cenários] que pra mim são sempre desconhecidos. No momento [em] que eu colocar um tripé e um timer pra me fotografar, já perco essa espontaneidade. Mas eu participei de um ensaio para o meu amigo Fernando Schlaepfer, que está com o projeto #365nus ( www.365nus.com), e fiquei superfeliz com o resultado.

Você conhece a Petra Collins? Ela é uma fotógrafa canadense que tem essa pegada de mergulhar no universo feminino e retratar as minas duma maneira real também.
Eu conheci o trabalho dela recentemente quando, conversando com um amigo sobre a ideia de transformar o X Real num livro, ele me apresentou a publicação dela, o Babe. Já era fã do trabalho da Tavi Gevinson com o Rookie e, quando vi que ela era da gangue, fui logo garantir a minha cópia.

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Da onde surgiu a ideia de transformar o projeto num livro?
Já faz 3 anos que o X Real existe e está somente na internet. No começo deste ano, eu participei da Feira Plana com uns amigos e, a fim de divulgar o projeto, criei um zine pocket pra vender a um precinho bem pequeno. Os zines esgotaram no último dia da feira. Na mesma época, imprimi fotos de uma viagem a Patagônia em um papel legal. Foi aí que comecei a pensar que seria demais ter um material palpável, que pudesse ser transmitido de mão em mão. Além do mais, pode virar como o Rookie Yearbook, um tipo de almanaque [em] que, de tempos em tempos, sai uma nova edição colecionável! ;)

Curtiu o trampo? Quer ter um exemplar pra chamar de seu? Então colabore lá na campanha do Catarse, que tem várias categorias e recompensas que você pode escolher.

Abaixo, algumas fotos exclusivas que a Camila enviou à VICE:

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