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FRINGES

Lutadores Underground do Japão

Waru é um torneio de vale-tudo japonês iniciado pelo produtor de cinema e empresário Yamamoto Yoshihisa, como homenagem a seu antigo mestre de karatê, o falecido Hisao Maki, artista de mangá responsável pelo quadrinho que batizou a luta.

Waru [garoto mau] é um torneio de vale-tudo japonês iniciado pelo produtor de cinema e empresário Yamamoto Yoshihisa. Quando se trata de luta organizada no Japão, a coisa é tão violenta quanto poderia ser — os lutadores não posam de gatinhos e não há quase nenhuma regra. Não vale morder, acertar no saco ou chutar no rosto quando o oponente estiver caído, mas só isso. Submissões são proibidas e nocautes pagam os maiores prêmios, então, esse é o objetivo. Em geral, “as lutas acabam como brigas de rua mesmo, com uma pessoa entrando no meio para apartar”, de acordo com Yamamoto. Waru tem a ver com sangue, suor e lágrimas — como os trapos manchados usados para limpar o ringue entre um round e outro.

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Yamamoto começou o torneio como homenagem a seu antigo mestre de karatê, o falecido Hisao Maki, artista de mangá responsável pelo quadrinho Waru, de onde vem o nome do torneio. O produtor foi responsável pela versão para o cinema do quadrinho, dirigida por Takashi Miike. Aliás, Yamamoto parece mais um figurante de um dos filmes exagerados de Miike do que produtor de um, mas há uma autenticidade inesperada em seu visual brega de membro da Yakuza saído de um filme B, algo que dá carisma e faz dele um cara formidável e simpático.

Por meio do circuito de karatê e de sua linha de trabalho, Yamamoto foi exposto a vários elementos e personagens da cena underground da luta de rua do Japão. Com o Waru, ele tentou colocar esses elementos no ringue e criar um torneio que “ficasse o mais próximo possível do que acontece nas ruas”. Ele trouxe homens de todo o país, esperando encontrar o lutador mais cruel possível para encarnar o espírito do Waru, ou o “anti-herói”,  dos quadrinhos de Maki.

Atualmente, Yamamoto tem dois favoritos sob suas asas: Ken Moon e Sapp Nishinari. Nishinari usa o nome da área de onde veio como sobrenome. Composto de um lado por um dos maiores e mais antigos distritos da luz vermelha do Japão, e, do outro, por abrigos de moradores de rua e botecos baratos, Nishinari é provavelmente o único lugar no Japão que pode se chamar legitimamente de gueto. Um solo fértil para o tipo de talento calejado pelas ruas que Yamamoto busca para o Waru.

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Ken e Sapp podem parecer, se vestir e beber como se fossem do elenco da versão japonesa do Jersey Shore, mas esses caras são de verdade. Ken tem um rosto que parece um muro de tijolos e não tem reservas ao falar sobre suas motivações para lutar. “A primeira vez que vi alguém usando violência para pagar as contas, soube que era isso que eu queria fazer”, ele disse. Ele veio do Dojo Yamane, onde os dois treinam juntos agora, para desafiar Sapp, um talento conhecido de Osaka na época. No final, Sapp venceu e os dois são amigos próximos desde então. Segundo eles, juntos são os melhores do país.

Saímos com Yamamoto na noite anterior a uma grande luta no Okayama Orange Hall, e vimos a dupla beber e fumar de uma maneira que escandalizaria qualquer atleta profissional. Os dois estavam confiantes que, com ressaca ou não, conseguiriam a vitória no dia seguinte. Yamamoto brincou que eles também não treinam, mas acrescentou que esses dois “são naturalmente brutos, então não há nada com que se preocupar. Só as pessoas de coração forte conseguem levar as coisas até o final — como a vida ou a morte. Eles já estiveram em situações [nas ruas] nas quais poderiam facilmente ter sido mortos, e foi por pura sorte eles terem sobrevivido”.

“Lá fora [nas ruas], o limite é que você não pode perder”, opinou Sapp.

Apesar de alguns lutadores do Waru terem vários graus de treinamento profissional, a maioria está armada somente com sua experiência das ruas, o que dá ao Waru um caráter realmente underground, apesar de ser um torneio organizado.

Yamamoto acredita que a violência segue ciclos geracionais. Ele compara as lutas mano a mano de sua juventude e as lutas retratadas nos mangás de Hisao Maki ao uso de armas e o jogo sujo dos moleques de hoje. Para ele, Waru é um jeito de fazer as coisas retornarem a uma forma mais pura. Sapp, de sua parte, conta que conviveu com armas nas ruas; ele já teve armas apontadas para sua cara e viveu para contar. Ele acredita que as poucas regras que obedece no rigue o ajudam a se manter forte. Trazendo as lutas de ruas e caras como Sapp e Ken Moon para o ringue, o Waru criou uma arena sem limites. Os combates são sem remorso, sem pretensão e tão puros quanto assustadores.

“Sou muito grato ao Waru por me dar uma razão para a violência”, disse Ken.