A protestor at a recent BLM march in London.
Foto: Alex Rorison.

Como pais brancos evitam falar com os filhos sobre racismo

Não deveriam ser os pais negros pedindo aos filhos para modular seu comportamento.
Dipo Faloyin
London, GB
MS
Traduzido por Marina Schnoor

Meus pais sempre falaram abertamente sobre racismo minha vida inteira. Claro, como todos os pais negros, eles preferiam não ter que falar – mas aqui estamos. Às vezes é uma piada leve sobre comida ou música, ou como o Arsenal começou a perder quando parou de ser um time predominantemente negro. Mas com mais frequência é uma conversa séria, e nesses casos – quando eles começam a conversa com “Por favor” ou me ligam meio em pânico tarde da noite no sábado porque “estavam assistindo o jornal e notaram que tem muita polícia na rua, e querem ter certeza que sei o que fazer no caso de ser parado” – o medo na voz deles é suficiente pra te fazer querer derrubar o sistema, duas vezes.

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Agora, você já deve saber que a maioria dos pais negros precisam ter “A Conversa” – sentar com os filhos e falar sobre como evitar ser morto num ato de violência racista, pelo estado ou outra coisa. Mas um equívoco é que essa é apenas uma grande discussão, quando na realidade é uma série infinita de conversas sobre como manobrar e contornar situações possivelmente perigosas – situações pessoais, profissionais e políticas – que vão mudando para responder à temperatura da sociedade.

“Não esqueça que você é negro, por favor”, eles me disseram quando eu tinha dez anos, saindo de Lagos (o Lugar Mais Negro da Terra) para frequentar a escola em Bath (o Lugar Mais Branco da Terra). “Você não vai conseguir se safar das mesmas coisas que seus novos amigos.” A conversa mais recente foi final de semana passado, quando eles ouviram falar que nazistas estavam rondando o centro de Londres, e ligaram cinco minutos depois que eu tinha saído do trabalho enquanto deixavam compras na casa da minha tia.

O ritual é tragicamente necessário, mas claramente absurdo. Racismo não tem nada a ver com as ações da comunidade negra. Os pais não deveriam ter que pedir aos filhos para modular seu comportamento para acomodar um sistema errado. Está claro que essa é uma conversa que pais brancos deveriam ter para garantir que seus filhos entendam sua responsabilidade em lutar ativamente contra o preconceito – e por isso, quando descobri recentemente que a maioria das famílias brancas não têm uma discussão formal sobre raça e racismo, foi difícil entender.

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Para descobrir como isso era possível, falei com dez pessoas brancas que são socialmente liberais e apoiam o Black Lives Matter – um grupo que eu achava que certamente teria tido conversas abertas sobre isso em casa – sobre como suas famílias discutiam racismo enquanto eles cresciam.

Quase todos admitiram que nunca tiveram uma conversa formal com seus pais sobre racismo, mesmo querendo. E quase todos acabaram navegando os meandros disso por conta própria, ou dependendo de amigos e vizinhos negros para explicar os desafios que eles encaravam.

‘TALVEZ ELES NÃO TENHAM PENSADO DUAS VEZES SOBRE COMO EXPLICAR ALGO TÃO COMPLICADO COMO O RACISMO PORQUE NÃO SABIAM COMO’

“Meus pais não tiveram A Conversa comigo. Não sei se eles achavam que não precisava – já que crescemos numa parte racialmente diversa de Londres e muitos amigos de escola e do futebol eram negros – ou se eles não queriam. Em particular a gente ainda tinha algumas piadas estranhas sobre não-brancos, mas me ensinaram a ‘não ser escroto com as pessoas’ como regra. Mas sempre soava mais como uma coisa de autopreservação do que algo realmente ativo; um jeito de não se encrencar: seja inteligente, preste atenção em como você trata os outros, mostre respeito pelas pessoas ao ser redor.

“Nosso bairro agora é um dos bairros mais Brexit do país. Tem um nível de ignorância predominante lá que se manifesta em agressão quando desafiado, e meus pais viram essa agressão em primeira mão em Londres quando eram crianças – na Frente Nacional Britânica e nos racistas no pubs que os pais deles tinham – e isso teve um grande efeito nas personalidades dos meus pais. Eles queriam uma vida pacífica, e o jeito mais fácil de conseguir isso era manter a boca fechada. Então não fui criado para considerar os fatores externos que acabaram com o irmão mais velho do meu amigo sendo levado do nosso bloco pela polícia no meio da noite. Meus pais se afastaram da política porque acho que não entendiam isso direito. Eles eram inteligentes demais para reagir ao apito de racismo na extrema-direita, e alienados pelo suposto intelectualismo da esquerda. Talvez eles não tenham pensado duas vezes sobre como explicar algo tão complicado como o racismo porque eles não sabiam como, e não queriam dizer a coisa errada.

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“Com o tempo, fui ficando mais consciente sobre questões de raça e injustiça, e me senti mais confortável para interrogá-los sobre seus sentimentos. Embora cuidadosos, eles também são muito tolerantes e receptivos. Mas eles reconhecem os problemas fundamentais da sociedade sem ver como eles podem mudar alguma coisa – ‘Sempre foi assim’.”

Will, 27 anos

‘A ÚNICA VEZ QUE FALEI SOBRE RAÇA COM MEUS PAIS FOI QUANDO EU TIVE QUE EXPLICAR POR QUE ELES NÃO PODIAM DIZER CERTAS COISAS’

“Cresci num subúrbio predominantemente branco em Leeds (tinha só dois caras negros na minha escola). A única vez que falei sobre raça com meus pais foi quando eu tive que explicar por que eles não podiam dizer certas coisas. Meu pai sempre se referia a homens negros como ‘descolados’. A filha da melhor amiga da minha mãe tem um namorado ganês, e minha mãe sempre começava uma história sobre ele como o ‘namorado ganês da Molly’ com um tom meio cômico, como se tivesse alguma coisa engraçada no país dele. Outras vezes, eles só mencionavam a cor de uma pessoa no contexto de algo ruim que tinha acontecido.

“Voltei a morar com eles por causa do coronavírus, e desde que os protestos Black Lives Matter começaram, meus pais e eu começamos a falar sobre raça de um jeito mais sincero. Meu pai não entendia as histórias das estátuas sendo derrubadas. ‘Por que eles só não colocam uma placa perto do Colston explicando que ele era mau?’, ele perguntou. Então eu disse o que ouvi de outras pessoas: que pessoas negros não deveriam ter que andar pela própria cidade e ver a cara de alguém que escravizou seus ancestrais. Que era perfeito que um homem que transportava pessoas acorrentadas pelo mar para ter uma vida miserável de crueldade acabar jogado nas mesmas águas.

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“Outra vez, na hora do jantar, depois que três homens foram presos pela morte de George Floyd, meu pai disse: ‘Os manifestantes não conseguiram o que queriam agora? Quando isso vai acabar?’ E eu disse que acabaria quando o racismo acabasse. Quando os assassinos de Breonna Taylor, Mark Duggan, Eric Garner enfrentarem as consequências. Aí ele se distraiu porque tinha esquecido de tirar o pão de alho do forno. Mas outra vez comecei a falar como era estranho nunca ter tido um professor negro até a universidade. Aí meu pai disse ‘Então é aí que a coisa acaba?’ Perguntei o que ele queria dizer. ‘Talvez esses protestos sejam bons porque chamam atenção para coisas assim?’”

Claire, 25 anos

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Foto: Alex Rorison.

‘MINHA CIDADE NATAL É INCRIVELMENTE BRANCA, E TALVEZ POR ISSO RACISMO NUNCA PARECEU UM TÓPICO URGENTE PRA ELES’

“Meus pais são liberais bem-intencionados que não discutiram muito sobre raça comigo quando eu era criança, só coisas vagas sobre todo mundo ser igual. Nunca tivemos uma conversa séria sobre isso, não era algo que surgia do nada; em vez disso, eles davam a ideia de que discriminação era errado numa reação, quando o assunto aparecia nas novelas ou em alguma tragédia nas notícias. Sendo justo com eles, em algum momento eles conseguiram transmitir a mensagem ‘Racismo é ruim – porque sim!’

“Minha cidade natal é incrivelmente branca, e talvez por isso racismo nunca pareceu um tópico urgente pra eles – diferente de sectarismo, que, considerando que morávamos no centro da Escócia, eles achavam ser uma questão mais urgente. Mas na verdade, crescendo cercado exclusivamente de gente branca, eu precisava ter sido ensinado mais sobre racismo, não menos.”

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Richard, 27 anos

‘MINHA MÃE ME ENSINOU SOBRE OS DANOS CAUSADOS PELO IMPÉRIO BRITÂNICO’

“Como muita gente branca, não lembro de ter A Conversa sobre raça. Eu sempre soube que minha irmã era meio indiana (o pai dela é indiano e nossa mãe é branca), mas não lembro disso ser discutido em termos de raça, mais de parentesco.

“Mas lembro a primeira vez que fomos pra Índia; minha mãe me ensinou antes sobre os danos causados pelo Império Britânico. Como muitas pessoas brancas de classe média que conheço, minha mãe foi bem-intencionado mas desajeitada. Estávamos na Índia visitando um lugar antigo para um piquenique, e ela realmente se desculpou com estranhos pelo jeito como o Raj foi roubado de seu país. ‘Desculpe pelos britânicos’, ela dizia, sorrindo, cândida. ‘Desculpe pelo que fizemos.’ Fui criada para falar sobre tudo desse jeito – classe, sexo, deficiências, dinheiro. Fale sobre isso. Não finja que isso não existe. Essa abordagem não é muito sofisticada, e às vezes provavelmente mais atrapalha que ajuda.

“Finalmente, como a mãe de uma criança de 2,5 anos, morando na minha cidade natal, sei que preciso fazer melhor que isso. Um pouco antes do lockdown, tivemos um refugiado do Sudão morando com a gente por um tempo, então li livros infantis sobre a experiência de refugiados para o meu filho. Lemos livros com personagens e famílias não-brancas pra ele (So Much de Trish Cooke é um favorito). Também levamos ele para um protestos do Black Lives Matter semana passada. Mas a verdade é que não temos muitos amigos não-brancos. Não estou criando ele numa casa diversa. Na verdade, na creche, meu filho tem mais amigos não-brancos que eu. Tenho medo de estar repetindo os mesmos erros dos meus pais; posso ser bem-intencionada mas também desajeitada.”

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Jess, 35 anos

‘MEUS PAIS SÓ ACHARAM QUE EU NÃO SERIA RACISTA E ESPERARAM O MELHOR’

“Não lembro de nenhuma discussão específica, o que é uma grande aposta, pensando agora. Uma dos maiores impedimentos pra ter um filho, na minha opinião, é a possibilidade de criar um babaca reacionário. Meus pais só acharam que eu não seria racista e esperaram o melhor.

“Lembro de racismo aparecer na minha escola como a tarefa ocasional de desenhar cartazes o denunciando. Isso invariavelmente resultava na classe inteira – independente do grupo de idade – produzindo desenhos de braços enormes de diferentes cores dando as mãos ao redor de um globo. Acho que isso deveria servir como um lembrete periódico de que racismo era ruim e diversidade era bom. Se conseguíamos expressar esse fato simples através de um desenho tosco que nos mandaram copiar, então já era prova suficiente de que a gente entendia. Esse provavelmente foi o tipo de pensamento que influenciou pessoas como meus pais a não intervir. Nunca voltei da escola com uma suástica desenhada no braço, então eu não precisava ser ensinado.

“Sou extremamente grato aos meus pais pelos valores que eles tentaram me passar. Também gosto de pensar em mim como alguém que não é racista, que é vigilante com atitudes racistas, mas ainda fico chocado descobrindo as maneiras como isso se manifesta, e sinto que deveria saber há muito tempo. Mas seria injusto considerar mais pais responsáveis por isso. Afinal de contas, é extremamente difícil se ensinar coisas que você não sabe – e tem muitas coisas que nos encorajaram ativamente a não saber, e que precisamos urgentemente buscar saber.”

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John, 28 anos

‘MEU PAI DEIXAVA CLARO QUE TEMOS EXPERIÊNCIAS DE VIDA DIFERENTES POR CAUSA DE RAÇA’

“Minha família é de origem escocesa, mas desde que me entendo por gente moramos num subúrbio no sul de Londres. O assunto de raça surgia com frequência. Minha vó comentava sobre como a área tinha ‘mudado’, que, mesmo sendo criança, eu sabia que era um eufemismo pra menos branca. Meu pai abordou isso comigo. Ele me perguntou o que eu achava quando ela dizia coisas assim, e explicou que ela lia jornais ‘de direita’, que ‘não gostavam de pessoas que não parecem com a gente’.

“Foi sempre meu pai quem abordava conversas difíceis comigo – foi com ele que tive a conversa sobre sexo também. Meu estômago revira lembrando dessa. Ele nunca pareceu desconfortável, mas, ao mesmo tempo, ele era muito bom em usar eufemismos, dizendo muito com poucas palavras e transformando isso numa pergunta para me envolver em visões críticas. Nunca ouvi ele dizer explicitamente ‘A vovó é um pouco racista, não escute o que ela fala’ ou ‘O que você acha do amigo da nossa família ser negro e a gente ser branco?’ Mas meu pai deixava claro que temos experiências de vida diferentes por causa de raça. Pra um boomer que não fez faculdade, acho que não foi tão ruim, mas espero poder ser mais direta com meus filhos.

“Quando eu tinha 14 anos, fiz estágio com o melhor amigo da minha mãe que era chef. Ele é um britânico jamaicano de 1,90 metro que cresceu em Hackney. Me ocorreu na época que, mesmo ele sempre estando por perto, nunca realmente discutimos raça. Não lembro da minha mãe ou meu pai levantando esse assunto também. Só quando o vi no trabalho, num ambiente não familiar longe da nossa casa ou da casa dele, que percebi a frequência com que ele era ‘a única pessoa que não parece com todo mundo’ na sala, e as muitas vezes em que ele provavelmente foi obrigado a pensar nisso.”

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Lisa, 32 anos

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Foto: Alex Rorison

‘TUDO QUE APRENDI FOI A CONTA-GOTAS NA MINHA CRIAÇÃO E AMBIENTE’

“Não lembro de ter tido uma conversa específica sobre raça. Até onde sei, tudo que aprendi foi a conta-gotas na minha criação e ambiente. Cresci em Leicester, que tem uma grande população britânica indiana que é bem integrada – temos grandes festas Diwali de que todo mundo participa, e uma área chamada Golden Mile onde minha mãe me levava para comprar comida, etc. Na escola eles também fizeram um grande esforço para nos ensinar sobre aspectos da cultura indiana, provavelmente para encorajar estudantes brancos a ser pessoas decentes.

“Fora isso, lembro de uma amiga negra no primário me contando sobre o racismo que ela experimentou, então eu diria que é mais um caso de pegar as coisas de lugares diferentes do que ter uma grande conversa. No entanto, mesmo achando que me beneficiei no geral, e ainda me beneficio muito de aprender diretamente de pessoas não-brancas, minha mãe se esforçou para me criar sendo empática com todo mundo que eu conhecia. Ela é de classe trabalhadora e deficiente, e já trabalhou como enfermeira de saúde mental, então a importância de ser aberta para diferentes tipos de pessoas sempre foi uma coisa que ela me ensinou.

“Não lembro dela me ensinando especificamente sobre raça, mas se ela ouvia alguma coisa intolerante, como um xingamento racial ou uma opinião anti-imigração – no pub, por exemplo – ela falava sobre isso em casa, e me dizia como respondeu. Não acho que ela estava tentando me ensinar, mais desabafar, mas me deu um bom exemplo pra seguir.”

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Rachel, 27 anos

‘A LÓGICA NA MINHA CASA ERA NÃO TRATAR NINGUÉM DIFERENTE POR CAUSA DE APARÊNCIA’

“Não consigo lembrar de ter uma conversa específica com meus pais sobre raça, o que sei que é uma marca de privilégio. Cresci no subúrbio e minha escola estadual era predominantemente branca, mesmo tendo uma boa quantidade de estudantes de origem asiática e negra. Lembro que a lógica na minha casa era não tratar ninguém diferente por causa da aparência ou origem étnica.

“Tenho sorte porque meus pais falavam línguas diferentes e sempre nos encorajaram a fazer o mesmo, para ampliar nossos círculos sociais além de pessoas que pareciam com a gente. Minha mãe era professora de inglês como língua estrangeira e costumava discutir situações difíceis com alguns alunos dela, predominantemente imigrantes, e como o governo não os ajudava. Absorvi a paixão dos meus pais por igualdade para todos, por desafiar a autoridade – particularmente em casos de discriminação. Reconheço que tenho sorte de poder fazer isso sem medo das consequências.

“Meu privilégio branco e um entendimento profundo do racismo sistêmico e como me beneficio disso é algo de que estou muito mais consciente desde que saí da casa dos meus pais. Aprendi o valor de reconhecer o racismo com crianças pequenas e as ensinar a ser antirracistas em seus comportamentos.”

Emma, 32 anos

‘PARA OS BRANCOS, IGNORÂNCIA É UMA BENÇÃO’

“A experiência branca de ‘conversa racial com os pais’, até onde eu sei, não existe. Isso provavelmente é uma surpresa para muitas pessoas não-brancas que tiveram conversas sérias sobre desigualdade de base neste país – como diz o ditado, para os brancos, ignorância é uma benção.

“A única vez que isso se tornou uma ‘coisa’ pra mim foi quando me chamaram na diretoria por fazer piadas racistas na escola, para a maioria dos meus colegas brancos, quando eu tinha uns 13 anos. Outro estudante foi corajoso o suficiente para reclamar, e eles chamaram meus pais e os dele, e fiquei me sentindo totalmente envergonhado. Mas para os meus pais, isso não foi muito pior que, digamos, brigar por causa de cartas Pokemon, ou jogar água em alguém no corredor. Racismo para eles é algo que acontece com outras pessoas, não é problema deles. ‘Outras pessoas’, claro, que não são como eles e portanto não têm a humanidade básica garantida. Foi uma lição que só fui entender mesmo anos depois, depois de anos protegido em escolas brancas, policiais brancos, bares brancos, festas brancas – uma vida totalmente branca.

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“Isso está começando a mudar agora, e as conversas com eles estão indo para o lado certo, graças ao trabalho depressivamente difícil e necessário do Black Lives Matter e outros movimentos ao redor do mundo. Melhor tarde do que nunca, acho.”

Rob, 26 anos

‘FOMOS OBRIGADOS A ENTENDER E COMBATER ISSO POR CAUSA DA CONVERSA ESCROTA DE UM RACISTA BÊBADO’

“Quando eu tinha 15 anos, uma lista de membros do Partido Nacional Britânico vazou. Baixei a lista e cliquei na busca, teclando lentamente cada letra. Quando apareceu o resultado, meu coração afundou. Lá estava, manchado contra os pixels brancos do documento de texto: o nome, endereço e telefone do meu avô.

“Não deveria ter sido uma surpresa. Quando eu era garoto e visitávamos a casa dele, meu vô, entre o quinto e sexto pint, começava a soltar uma enxurrada de racismo contra vários tipos de pessoas e coisas – algumas presentes, outras não. Às vezes eu tentava argumentar. Às vezes eu só ficava lá em silêncio, enquanto minha mãe me olhava implorando para não intervir e piorar a situação.

“Na volta pra casa, minha mãe e eu revirávamos o discurso dele. Eu não conseguia entender. Como alguém podia ser tão cheio de ódio? De onde isso veio. Minha mãe dizia: ‘A questão com pessoas como ele é que elas têm uma vida cheia de ódio e tristeza. Não sei por que ele é assim, mas você nunca pode se deixar ser assim. As pessoas merecem ser tratadas bem independente de quem são, e você nunca pode esquecer isso’.

“Minha mãe é a razão para eu ser quem sou – ela me ensinou a tratar todo mundo com justiça e gentileza, mas não acho que ela teve a conversa de raça comigo. Meio que fomos obrigados a aprender, entender e eventualmente combater isso, pela conversa escrota de um racista bêbado.”

Alex, 29 anos

@DipoFaloyin

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