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Música

Discos: Imperial Tiger Orchestra

Parece uma ideia surgida entre amigos numa animada noite de copos e fumos.

Mercato

Mental Groove

Dificilmente imaginaríamos um ensemble de corpo suíço, com alma africana, algures no país dos Alpes. Não que hoje essa noção global tenha algum tipo de fronteiras geográficas ou sociais (veja-se o exemplo do brilhante documentário

Black Metal Angola

), contudo, estes são, invariavelmente, casos de agradável surpresa. Por momentos, o queijo, o chocolate e as montanhas cedem lugar às especiarias, aos frutos sumarentos e às planícies. Se notarmos que os membros da Imperial Tiger Orchestra trazem consigo uma escola ligada à improvisação, ao noise rock e ao free jazz, mais notável se parece toda esta aventura. Parece uma ideia surgida entre amigos numa animada noite de copos e fumos, de barriga cheia, à saída de um restaurante de comida etíope.

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Como é de suspeitar, existem diversas maravilhas em

Mercato

. A começar pela capa do disco, uma colorida gravura de bom gosto em que o inevitável tigre que aparece no centro. Um daqueles objectos que apetece trazer da loja para casa ainda sem o escutar, tal a confiança no seu conteúdo. Depois, claro, vem a certeza de que efectivamente o que lá se encontra dentro corresponde às expectativas — bom, talvez um pouco mais ainda. Apesar de se tratar de uma edição de 2011, esta é daquelas obras em que o prazo de validade é vitalício (depois de ouvirem concordarão connosco).

Remexer no legado dourado de gente celebrada e imortalizada pelas séries

Ethiopiques

, não é tarefa acessível a qualquer um; exige, desde logo, uma boa dose de ousadia aliada à capacidade de reproduzir os ecos dessas refências sem nunca as embaraçar. Um enorme risco de exposição ao ridículo, embora bastem os primeiros minutos para soprarem bem longe essa nuvem negra. Por outro lado, desengane-se quem julgue ver aqui uma cópia desenxabida de malta que secretamente sempre sonhou ser Mulatu Astetké ou Mahmoud Ahmed. Nada disso, nem esta orquestra mestiça de boa referência se prestaria a tamanha inconsciência. O que se vê sim, é um grupo de experientes músicos que não se limitam a interpretá-los, como inclusive, a recontextualizá-los, num ambiente por vezes mais frenético e radical que os originais. Sem

freakalhices

inócuas pois já ninguém tem paciência para isso.

Entre vários highlights possíveis, a generalidade das canções guiam-se, em uníssono, por uma certeira veia melódica, festiva e contagiante. Tipo, imagina o gajo mais insosso da tua rua a convidar uma miúda para uma dança lasciva em cada um destes temas, em pleno Festival Músicas do Mundo de Sines. Parece improvável? Nem por isso. É de pequenos milagres como esse que

Mercato

 reserva a capacidade de fazer acontecer. Tenham fé e cliquem aí nesse leitor que vos deixamos.